Em 20/10/2009 - Paulo Botelho - Paulo Botelho
“A minha tristeza é só feita de fatos , de sangue nos olhos e lama nos sapatos”. Minha Fortaleza, de Chico Buarque. Estava lá, na primeira página do jornal, a manchete: “Bolachas de lama viram opção por falta de comida”. “Em Porto Príncipe, no Haiti, tudo é de todos, inclusive o chão de terra que os haitianos do local pisam e transformam em alimento”, dizia a nota da manchete. Entre as casas de zinco e ruelas com esgoto ao ar livre, mulheres vendem sob lençóis pequenas massas redondas cuja receita é lama, água e óleo. Elas ficam expostas ao sol por algumas horas e depois são levadas ao forno e prontas para o consumo!
Em 06/10/2009 - Paulo Botelho - Paulo Botelho
“Em cada anoitecer dorme uma porção de luz”.De A Fenomenologia do Espírito, de Hegel, filósofo alemão.Com tristeza, tenho pensado no drama de Édipo, personagem trágico do poeta grego Sófocles. Para salvar uma cidade subjugada por uma esfinge (monstro mitológico) que ameaçava o povo de fome e de peste, Édipo teria que resolver o enigma proposto por ela: “Decifra-me ou Devoro-te”.
Em 07/08/2009 - Paulo Botelho - Paulo Botelho
Um ferrabrás no primeiro contato, mas doce, como uma moça, no convívio. Andar ereto, de meio-galope, movido com a força de dois corações, era difícil acompanhá-lo. Com essa força motriz, deixou para trás, os bem nutridos soldados do famigerado Batalhão, quando da “Primeira São Silvestre” de Muzambinho.
Em 27/07/2009 - Paulo Botelho - Paulo Botelho
Toda mudança assusta e assombra. Mudos, falantes, esfuziantes, estressantes, nos mudamos como quem salta. E, no ar, antes de mergulhar sofremos na pele a estocada do tempo. “Mudar é descobrir a embriaguez do tempo e da morte” dizia Sartre. Nós mortais mudamos, isto é: passamos e morremos. “Tua alma, tua palma” já repetia dona Maria de Luna Botelho, minha avó, uma mulher erudita e enfezada.
Em 06/07/2009 - Paulo Botelho - Paulo Botelho
“Se eu falasse a língua dos anjos,se eu falasse a língua dos homens,sem amor, eu nada seria.” (São Paulo, Coríntios I – 13:1) O passado que atravanca o Brasil está mais presente entre nós do que qualquer um pode imaginar. Desde a maneira de falar e escrever, passando pela maneira de viver, até a maneira de pensar a vida e a política. O sociólogo José de Souza Martins da USP, constata: “Ainda falamos, em todo o Brasil, um resquício da língua nheengatu, que poderia ser chamada de língua nacional brasileira ou língua do povo”. Segundo Martins, foi uma língua criada pelos missionários jesuítas, provavelmente, influenciada pelo padre José de Anchieta. Baseada na língua tupi e organizada a partir da gramática portuguesa, difundiu-se por toda a costa leste brasileira.