Publicado em 06/04/2021 - agronegocio - Da Redação
O radar da sustentabilidade do Sítio Recanto dos Tucanos, em Alto Caparaó (MG), ecoa no Brasil e no exterior. Conheça a iniciativa do cafeicultor Willians Valério, que levou a agricultura sintrópica para o pódio da Semana Internacional do Café
Não muito distante do centro de
Alto Caparaó (MG), o Sítio Recanto dos Tucanos inspira paz, amor e ecologia a
cerca de 1.500m de altitude. A propriedade pertence a Willians
Valério (34), campeão do COY em 2019. A subida íngreme (e a pé,
pois chovia muito no dia da reportagem e o carro não passava) é compensada pela
paisagem em 360º da Serra do Caparaó e os ventos serenos que sopram os filtros
dos sonhos pendurados no terraço.
Com
simplicidade e engajamento, Willians é defensor da agricultura sintrópica. O
conceito criado pelo agricultor e pesquisador suíço Ernst Götsch consiste na busca por um
sistema de produção agrícola equilibrado em que todas as espécies têm seu
papel. Vai além do consórcio entre culturas, pois prega a ordem, a partir de
práticas de manejo sustentáveis como orgânicos, sistemas silvipastoril e
agrofloresta.
E o resultado no sítio mineiro é
surpreendente: café arábica em equilíbrio com mais de 100 espécies como mogno
africano, eucalipto, banana, azeitona, milho, feijão, batatas de todos os
tipos, pêssego, entre outras. Uma “floresta de comida”, como diz o agricultor,
com solo nutrido e colheita de madeira.
Segundo
Willians, Alto Caparaó sempre teve cafés bons, mas a chegada de Clayton
Monteiro à região fez a diferença no cenário local da qualidade. Nascido no Rio
de Janeiro, Willians (que tem família na cidade) queria atuar com “algo mais
sustentável”, não somente cafés especiais, no sítio adquirido pelo pai há 27
anos.
“Meu pai tinha cortado todo o café e plantado pêssego e azeitona. Eu
olhava para essas plantas e pensava: ‘não vai caber café’. Cheguei a trabalhar
com café convencional, mas sem sucesso. Daí comecei a pesquisar a agricultura
sintrópica e a desenvolver o sistema durante dois anos. Muita vontade e pouco
conhecimento, mas foi uma grande escola”.
Em 2017, o produtor mandou a
primeira amostra de café para o concurso da SIC e conquistou a 12ª colocação.
Nos últimos cinco anos, aprimorou a produção, fez cursos (inclusive com Götsch)
e passou a se dedicar a acompanhar os ciclos da floresta, “a nossa professora”,
diz.
“Cada
etapa da mata evolui de uma forma, mas sempre pra frente. Na agricultura
sintrópica, a gente busca entender e participar de cada uma, sem pulá-las, para
evoluir juntamente com todo o ecossistema”, explica Willians.
O
cafeicultor colheu 15 sacas de café de agrofloresta em 2020. Ele defende o
cultivo como mais sustentável que o orgânico. “O café orgânico significa que
não tem veneno, mas causa o mesmo impacto ambiental que o produzido com
agrotóxico. Primeiro, vai ter que trazer esterco de fora a vida inteira. No
sistema agroflorestal, com o tempo o agricultor vai corrigindo o solo e, só com
manejo certo, faz as coisas acontecerem. A gente está sempre compartilhando
esse conhecimento”, conta Willians, que promove cursos, presta assessoria e
recebe voluntários.
O
radar da sustentabilidade do Sítio Recanto dos Tucanos ecoa no Brasil e no
exterior. O estudante de gestão ambiental Misael Cardoso (25),
do Rio Grande do Sul, começou como voluntário há quatro meses e virou
funcionário da propriedade. Para o jovem, a atuação na área é uma questão de
propósito.
Ao ganhar o “Melhor Café
do Ano” em 2019, Willians Valério apresentou ao Brasil não
somente um café com 90,5 pontos, como também levou a agricultura sintrópica
para o topo do pódio. “Representei todo mundo que luta por essa causa naquele
momento. Agrofloresta é um desafio, e não é porque você a pratica que terá o
produto mais valorizado. A garantia é uma poupança, que é o solo. Tenha certeza
que ao plantar uma semente, a cada ano ela será melhor”, conclui.
Por Leandro Fidelis
Fonte: https://www.safraes.com.br/