Muzambo - Um rio de exploração regional

Publicado em 28/02/2011 - agronegocio -

Dragas
Em tempos de preservação da natureza e preocupação com o ecossistema que nos sustenta, muitas cidades teimam em ignorar tal fato e insistem em deixar de lado uma questão tão importante.
A exploração das riquezas fluviais tem se tornado constante, principalmente, por meio das dragas (equipamentos que tem como uma de suas funções, extrair sedimentos, rochas e minerais do fundo do mar, leitos de rios e canais). A retirada dos minérios tem por intuito, muitas vezes, evitar que o acúmulo de sedimentos (areia) no fundo dos rios venham a causar enchentes e alagamentos, contudo, o que seria para evitar um problema, virou comércio. Hoje, as dragas funcionam como fonte de renda aos que as instalam nas redes fluviais. Grandes empresas e empresários disputam o que eles denominam “território de extração”, onde cada um retira e revende a areia coletada. Dos tipos de areia encontrado (fina, média e grossa), a que mais se procura é a grossa, que é utilizada, entre outras coisas, para a fabricação de blocos de concreto.
Muzambo

O rio Muzambo nasce na cidade de Muzambinho, passa por Monte Belo, Areado e, desemboca na represa de Alterosa, são mais de 100 Km de extensão. O comércio extrativo de areia é considerado grande neste trecho, principalmente na área correspondente ao perímetro territorial de Monte Belo, mas não pela extração municipal, mas pela presença e instauração de empresas de outras localidades da região do sul e sudoeste mineiro.
Para se ter uma ideia da abrangência da exploração em Monte Belo em relação aos outros municípios, ano passado o município de Muzambinho contabilizava aproximadamente 4 (quatro) dragas, Areado 1 (uma), Alterosa 1 (uma) e Monte Belo 20 (vinte), sendo 10 ativas e 10 teoricamente inativas, isto é, com chances de serem  reativadas a qualquer momento, já que os equipamentos ainda estão no local de extração. Além das 20 que estão no papel, outras podem, ainda, ocupar espaço na rede fluvial mencionada, já que muitas administrações continuam omissas quanto ao impacto ambiental resultante de tal desequilíbrio comercial.

R$ 4 MILHÕES/MÊS

Em uma conta simples, pode-se entender de um modo aproximado, a situação vivida pelo município montebelense. A média de extração na cidade gira, ao todo, em torno de 200 caminhões por dia e 6000 por mês, como cada veículo transporta 12 m³ de areia, então, por mês são retirados da cidade cerca de 72.000 m³ (metros cúbicos) de areia, considerando que cada metro cúbico é igual (em média) a 2 toneladas (areia úmida), teremos 144.000 toneladas de areia sendo extraídas por mês, um número absurdo e injustificável. Se cada metro cúbico custar 50 reais, serão quase 4 milhões de reais o montante resultante de um mês de extração do recurso mineral.
Outro problema que deve ser relevado é o fato de o município montebelense não possuir o chamado porto seco, local onde é realizado trabalho para evitar que os caminhões transportem areia molhada, já que a água decorrente do minério, com as constantes “idas e vindas” dos veículos que a carregam, acabam por danificar as estradas, abrindo crateras e deixando-as com acúmulo de barro, o que dificulta a transição de outros veículos.
Em 2010, o então Secretário de Agricultura de Monte Belo, Laércio Nascimento, junto ao engenheiro da prefeitura elaborou projeto para a construção do porto seco. Com o pedido de exoneração do Secretário, o projeto praticamente foi arquivado. Nenhuma providência foi tomada para que o mesmo fosse colocado em prática. 

REVOLTANTE

O fato de existirem empresas de outros municípios atuantes na cidade, também revoltam os montebelenses. Enquanto em outras cidades da região a extração é feita por companhias do próprio local, em Monte Belo há empresas de Areado, Nova Resende, Juruaia, Muzambinho, Alfenas, Carmo do Rio Claro e Alterosa. Além, é claro de membros da própria comunidade. Pesquisa feita por nossa reportagem revela que, o que atrai os empresários àquele perímetro é o tipo de areia que o rio dispõe (grossa, a mais valorizada).

DESEQUILÍBRIO AMBIENTAL
A situação do município de Monte Belo é considerada crítica e irresponsável, pois os números revelam que o excesso de empresas naquele “mesmo local” tem prejudicado muito o ecossistema, já que a quantidade e a velocidade de exploração não permite que o rio se reconstitua naturalmente, tornando-o profundo, e com as margens (barrancos) judiadas pela erosão resultante da retirada do material, isso tem causado um prejuízo ecológico de grande escala, gerando desequilíbrio à cadeia alimentar.
O excesso de dragas no município montebelense está diretamente ligado ao Poder Público municipal, de “ontem” e de “hoje”, já que elas existem porque receberam autorização de funcionamento (alvará) das administrações anteriores e, ainda persistem por omissão do atual governo local, que conhece a situação, mas não reage. Algumas das dragas funcionam, ainda, de forma irregular, isto é, não possuem documentos suficientes exigidos para funcionamento. Este é outro problema, já que, a falta de fiscalização municipal no local de extração tem permitido essas e outras tantas irregularidades.