Publicado em 28/08/2020 - cesar-vanucci - Da Redação
“Bella matribus detestata – As guerras detestadas pelas mães". (Horácio, 658 a.C)
Retiro do baú anotações de bocado
de tempo atrás que conserva frescor atual. Referem-se ao apavorante lance
inaugural da era atômica. Ou seja, a explosão, há 75 anos, da bomba de
Hiroshima, assunto intensamente relembrado pela mídia nestes dias.
O estoque das armas de destruição
em massa é cada dia mais volumoso. O tal acordo de não proliferação de armas
nucleares só vale, de verdade, para os países que ainda não as possuem. Os
integrantes do fechadíssimo “clube atômico” monitoram com rigor policialesco as
ações dos demais países, procurando dificultar-lhes até mesmo a aquisição de
conhecimentos concernentes ao emprego da energia nuclear para fins de
desenvolvimento econômico e social. Atribuem, por antecipação, a
responsabilidade por uma eventual tragédia nuclear futura a terceiros, não
detentores da mortífera tecnologia.
“Esquecem-se” de que na única vez
na história humana em que bombas atômicas caíram sobre populações civis,
destruindo cidades e matando centenas de milhares de pessoas, a iniciativa de detona-las
foi tomada justamente por um dos membros do “clube”, que continuou, a exemplo
dos parceiros, a armazenar novos e mais arrasadores artefatos.
Por outro lado, analistas em
estratégias militares garantem que existem, presentemente, também, em poder
dessas mesmas potências artefatos químicos tão “eficazes” quanto o armamento
atômico. O que dá para “garantir”, se da vontade dos “senhores das guerras”, o
extermínio de qualquer forma de vida sobre a superfície planetária. Uma ligeira
amostra dos danos que essa parafernália bélica é capaz de provocar tem sido
dada numa série de conflitos registrados, mundo afora, posteriormente à segunda
guerra mundial. É só lembrar o que sucedeu no Vietnã, no Golfo Pérsico, no
confronto Irã-Iraque. Aquele mesmo em que o ditador Saddan Hussein pôde contar
com copioso fornecimento de armas e sólido apoio logístico dos antigos aliados e
futuros arquiinimigos estadunidenses.
Não esquecer ainda que a bomba de
hidrogênio, mais potente do que a atômica, ainda não foi testada em campo de
batalha. Existe em quantidade suficiente para acabar com o mundo várias vezes.
As estatísticas mencionam milhares de engenhos guardados em silos subterrâneos,
porta-aviões, submarinos e aviões permanentemente, por “estratégicas
precauções”, preparados para decolar. São coisas assim que fazem com que os
guerreiros vocacionados se imaginem sempre, em sua paranóia destrutiva, próximos
do Armagedon. Farejar o Armagedon é postura natural para os espíritos
deformados que fazem das guerras um bom negócio. Não sei se alguém, dentre ocasionais
leitores destas maltraçadas linhas, ainda se recorda de um estapafúrdio lance, mostrado
em jornais televisivos, quando do conflito Irã-Iraque. Um empresário paulista,
cheio de empáfia, fornecedor de equipamentos bélicos a um dos litigantes,
envergando uniforme de campanha iraquiano, ocupou as câmeras de televisão no
ridículo papel de comentarista. Empunhando uma vareta sobre imenso mapa,
vangloriou-se da eficiência mortífera dos instrumentos produzidos em suas
fábricas. O homem babava de contentamento, em delirante fantasia, com as
revelações sobre os estragos que as armas estariam em condições de provocar.
Sentia-se um pouco dono do mundo. Uma cena arrepiante, essa proporcionada pelo
mercador de armas. A história revela que tem gente poderosa, espalhada por esse
mundo de Deus onde o diabo costuma plantar seus enclaves, raciocinando e agindo
nos mesmos termos do babaca citado. Nem todos, talvez, possuídos da ânsia
tresloucada de exibir seu pendor belicista e primitivismo via televisão. Gente
perigosa, sempre de prontidão para atear fogo em tudo.
Hiroshima e Nagasaki, alvos civis
atingidos em cheio pela insanidade bélica, legaram-nos uma mensagem. Uma
mensagem contra todas as guerras. Não só contra a guerra atômica. Um clamor
pela paz, originário dos recantos mais generosos da alma humana, em todas as
latitudes. Bem apreendido, pode levar o ser humano a refletir melhor sobre suas
origens e seu destino. Permite-lhe até sonhar com aquele instante ideal na
aventura terrena em que toda a dinheirama gasta para produzir morte seja
aplicada na celebração da vida. Em favor de pesquisas e ações que elevem os padrões
do bem-estar, promovam a cura de doenças e a erradicação da miséria. São essas,
aliás, as guerras que carecem ser combatidas por todos.
Palavra de Hiroshima. E de
Nagasaki!
Cesar Vanucci - Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)