Publicado em 03/07/2020 - cesar-vanucci - Da Redação
“Aldir nunca foi menos do que ótimo e muitas vezes genial.” (Luis Fernando Veríssimo)
· Contingente
apreciável de cidadãos considera os manifestos bem mais eficazes do que as
manifestações. Vem daí, com certeza, a inspiração para as proclamações que têm
sido trazidas ao conhecimento da sociedade, contendo milhares de assinaturas, a
cada dia acrescidas de adesões, em defesa dos ideais democráticos, do respeito
às instituições e da liberdade de expressão em sua forma genuína. Revelou-se
significativo e bastante sintomático, do ponto de vista da pujança democrática
reinante no coração e na mente da grande maioria da população brasileira, o
registro de que essas declarações, em tom resoluto e respeitoso aos valores da
cidadania, vêm sendo – oportuno pontuar - compartilhadas ecumenicamente.
Noutras palavras: os signatários pertencem a todas as classes sociais, níveis
culturais, inclinações ideológicas. Deixadas de lado ocasionais divergências políticas,
antagonismos circunstanciais, confessam-se firmemente decididos a promover uma
conjugação de vontades poderosa em torno do fortalecimento dos princípios
democráticos e republicanos e do aprimoramento do processo civilizatório.
Contrapõem-se, com vigor, às ameaças de visibilidade atordoante ora
confrontadas na cena brasileira. Os manifestos têm sido, nalguns redutos, alvo
de críticas. Por exemplo, a liderança petista, representada pelo ex-presidente
Lula, rotulou-os impropriamente de movimentos ineficientes do tipo “Maria vai
com as outras”... Cabe, entretanto, enfatizando sua relevância na conjuntura
política, recorrer a uma sugestiva ilustração sobre os fundamentos de
pluralismo democrático que os rege. Tomemos um, entre muitos casos de
convergência de opiniões ditada por interesses mais elevados neste momento
difícil atravessado pela Nação. Dois famosos artistas, Caetano Veloso e Lobão,
costumeiramente posicionados em trincheiras ideológica opostas, apuseram, lado
a lado, seus chamegões numa das proclamações transmitidas em defesa da
democracia. Estão vendo só?
· Com atos
inconsequentes repetitivos, o Presidente Donald Trump agrega, continuamente,
indicações que robustecem a teoria formulada publicamente por renomados
psiquiatras de seu país a respeito de sua sanidade mental. Como destacada em
ampla divulgação, os especialistas médicos garantem que o supremo mandatário
executivo da mais poderosa nação do mundo é doido de jogar pedra em avião. A
única dúvida que ficou é se ele lança a pedra a mão livre, ou se utiliza uma
atiradeira para o arremesso. Recentemente, o mundo inteiro tomou conhecimento,
perplexo e indignado, que o cidadão mencionado, detentor, pelo cargo que ocupa,
de poderes capazes de alterar o curso da civilização, autorizou a deportação de
quase uma centena de menores de idade que se achavam recolhidos, em situações
deploráveis, em centros de detenção reservados a imigrantes ilegais. Nos
numerosos protestos acolhidos pela mídia, foi assinalado que a estarrecedora
decisão não acusava precedentes na crônica histórica, pelo menos no pós segunda
guerra mundial. Noutra manifestação amalucada, pela televisão, milhões de
pessoas ouviram o cara sugerir, em plena pandemia, não se sabe ao certo se em
tom de descabido gracejo ou não, a possibilidade da ingestão de detergente para
combater eficientemente o coronavírus. Não deu outra: mais de meia centena de
criaturas psicologicamente debilitadas levaram ao pé da letra a “recomendação
do líder”, indo parar em unidades de saúde de emergência com graves
intoxicações. As informações relativas ao inusitado incidente cessaram nesse
ponto, não se sabendo dizer se algo pior aconteceu com qualquer uma das
vítimas...
· O jornalista
Luis Fernando Veríssimo, numa de suas apreciadas crônicas, aponta os versos que
considera os mais sugestivos do repertório do saudoso Aldir Blanc. Assinala que
ele, Aldir, nunca foi menos do que ótimo e muitas vezes genial. Sua predileção
é pelo final da melodia “Dois pra lá, dois pra cá”. Veja se concorda com
Veríssimo: “A tua mão no pescoço / as tuas costas macias / por quantas noites
rondaram / as minhas noites vazias... / No dedo um falso brilhante / brincos
iguais ao colar /e a ponta de um torturante band-aid no calcanhar.”
Cesar Vanucci - Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)