As pedras preciosas de Muzambinho

Publicado em 09/03/2010 - espaco-livre - Helder de Melo Moraes

978_12Não é necessário ser profundo conhecedor da história do Brasil para saber a relação das pedras com estado de Minas Gerais. Desde a exploração dos Portugueses que retiraram do solo mineiro, diversas pedras preciosas, mais que suficiente para pagar a dívida com a Inglaterra, até as pedras que sustentam as belas cachoeiras localizadas no estado, sem falar nas pedras que pavimentam as ruas de Ouro Preto, Tiradentes, São João Del Rei, cidades preservadas pelo patrimônio histórico mundial – UNESCO, todas, na verdade são preciosas – é claro que cada uma dentro de um contexto.
A presença das pedras em Minas é tão importante que da até nome a algumas cidades como Itabira, onde nasceu o poeta Carlos Drummond de Andrade, no idioma indígena quer dizer pedra brilhante. Pedra Azul na região nordeste do estado, Diamantina, terra do ex- presidente Jucelino Kubstchek, a cidade tem este nome por causa do diamante. (No Brasil, os primeiros diamantes foram encontrados em 1725, em Diamantina-MG. Durante os séculos XVIII e XIX, o Brasil liderou a produção mundial de diamantes, superado depois pela África do Sul.)
Muzambinho também tem suas pedras preciosas, embora, muito pouco ou quase nada se fala delas. As pedras do cruzeiro, em frente à igreja matriz, as pedras do chapéu de sol, na Praça D. Pedro II, as pedras dos bancos da praça da estação ferroviária (praça tão esquecida, infelizmente) e as pedras que pavimentam algumas ruas da cidade, o famoso paralelepípedo. A estas eu quero me dedicar um pouco mais, pois elas fazem parte de um conjunto arquitetônico invejável pertencente a nossa querida Muzambinho, elas deixam a cidade mais poética, mais mineira, mais real, mais bonita.
Saindo da questão emocional e entrando na questão racional, o paralelepípedo permite a absorção da água da chuva, pela terra, não prejudicando o lençol freático e nem causando represamento temporário de água nas ruas e ainda ajuda a manter a temperatura local.
Infelizmente percebo, a cada vez que vou a Muzambinho, o aumento exacerbado de asfalto remendando as ruas de calçamento e cobrindo nossas pedras preciosas, parece-me que estão querendo deixar a cidade feia e suja, pois a sensação que causa o remendo de manta asfáltica sobre o calçamento é esta. Será que é difícil remover as pedras do local e fazer o reparo adequado sem ferir o patrimônio histórico, tão admirado pelos turistas? As pessoas de outros estados que visitam Muzambinho - no carnaval e fora dele - vão em busca dessa atmosfera mineira que está na hospitalidade, na comida, no urbanismo (do qual as pedras são uma fiel tradução)
Em termos mercadológicos ou de marketing, a desconsideração às pedras que pavimentam as ruas da cidade, pode ser prejudicial na realização de futuros eventos, o que economicamente seria desinteressante para o comércio local.
Considerando que Muzambinho, atualmente, é uma marca em franco crescimento, a descaracterização da arquitetura da cidade, pode “arranhar” esta marca. O potencial turístico tão enfatizado publicamente pode ser diminuído à medida que o local deixa de ter um diferencial.
O asfalto é adequado para estradas mais velozes, pois facilita a rodagem dos veículos permitindo o aumento da velocidade. É o asfalto que causa a tão indesejada e temida impermeabilização do solo, é um dos responsáveis pelo represamento de água nas ruas das grandes cidades causando enchentes.
Uma cidade privilegiada naturalmente pela localização, pelo clima, pelo relevo, não pode deixar seu patrimônio histórico ser escondido. É notório que há um casamento perfeito entre Muzambinho e suas pedras, não as separe.
Não permita que escondam as pedras preciosas de Muzambinho.

Escrito por Helder de Melo Moraes (Edinho)
Coordenador e Professor do Curso de Propaganda e Marketing da FACAMP
Consultor e Mestre na área de Comunicação Social
Pós-graduado em Administração e Marketing pela Universidade da Flórida – E.U.A