Um vilarejo chamado Juréia

Publicado em 23/08/2010 e atualizado em 23/08/2010 - especial -

Juréia, distrito de Monte Belo é um pequeno povoado que conserva a boa hospitalidade interiorana e uma riqueza histórica invejável. O pacato vilarejo atrai visitantes que buscam um local sereno e tranqüilo para repousar o corpo acostumado ao stress da vida nas grandes cidades. O distrito viveu seu auge entre os anos de 1938 e 1941, período que ficou conhecido como a “época de ouro”. O comércio tinha muita força graças à “Maria fumaça”, uma locomotiva da extinta Companhia Mogiana que transportava passageiros e mercadorias, como cereais e sacas de café, além de animais como porcos e gados. A linha direcionava Juréia ao interior e à Capital Paulista, e também, à Capital Mineira. Juréia era antes denominada como “Tuiuti”, nome este, dado por portugueses que lá viviam, é uma homenagem à “Batalha do Tuiuti” ocorrida na Guerra do Paraguai. A riqueza do distrito não se estendia somente ao famoso trecho ferroviário, mas também ao famoso rio Muzambo, que era um atrativo a pescadores da região, já que os habitantes diziam que ali era possível pescar dourados de até 20 kg.O Tuiuti começou a perder sua potência com a construção de rodovias como a que ligou a cidade de Nova Resende à Guaxupé, isso fez com que as mercadorias, antes transportadas pelos trens, passassem a ser deslocadas por caminhões, e, as pessoas passassem a utilizar outros veículos.

O distrito perdeu muito com o fim da Companhia Mogiana em 10 de novembro de 1966.Coincidindo com o fim da companhia ferroviária, surgiu a Polenghi, Empresa fabricante de queijo e manteiga. A polenghi fechou as portas alguns anos depois devido a uma grande enchente causada por uma “tromba d’água”, o desastre culminou com o fim da fábrica que não teve condições financeiras de reconstruir os locais de serviço. 
Hoje, restou a tranqüilidade, as histórias e as belas construções da época, dentre as quais podemos destacar uma em especial.

RESIDÊNCIA COLONIAL - 120 anos de História: Residência construída ao estilo colonial em 1890 pela família Deoti, mais propriamente pelo senhor Luis Deoti, um engenheiro de primeira mão que no Tuiuti resolvera fazer seu aconchego. A construção possui sete quartos, uma cozinha, uma sala grande e uma garagem enorme. A obra tem cerca de 300m², e está localizada em um terreno de aproximadamente 3000m².
O tão majestoso rio Muzambo, famoso por ser fonte pesqueira aos moradores da região, além de cortar o distrito, ainda “faz quintal” com a residência “Deoti”, o rio corre nos fundos da casa a uma distância de 40 metros, essa proximidade com as águas torna o lugar ainda mais magnífico e impressionante. Um longo paredão de pedras, logo abaixo da calçada que dá acesso ao quintal, é mais uma das maravilhas.
A casa é uma das mais velhas do distrito de Juréia. Na época em que o “Tuiuti” era uma das mais badaladas localidades da região, a residência, antes fazenda, era conhecida como Vila Deoti e servia como hotel ou simplesmente pouso a viajantes que por ali passavam. As “romarias para a Aparecida do Norte” concentravam grande número de cavaleiros junto à residência do Engenheiro e às pousadas. Ali eles deixavam seus cavalos e pernoitavam, e, para isso pagavam cerca de mil réis. O Senhor Deoti, ainda, alugava cavalos aos que não o possuíam para viagem.
A casa mostrou toda sua força estrutural após uma grande enchente que ocorreu no distrito, e fez desabar diversas edificações. A água, que, em muitas residências chegou ao telhado avançou cerca de três metros na do engenheiro, inundando espaço pouco acima do porão.
Após a morte de Luis Deoti, a residência ficou para seu filho e em seguida para seu neto, José Augusto Deoti. Por problemas financeiros os donos não puderam mantê-la e ela foi abandonada. Vinte e dois anos foi o tempo que a residência teve como únicos moradores, o mato, os pássaros, os morcegos, as aranhas, os insetos...
Em 2007, Antonio de Faria, um marceneiro apaixonado por casas antigas resolveu fazer um investimento de troca. Seu local de serviço (um barracão na cidade de Monte Belo) por aquele tesouro abandonado em Juréia. Feito o negócio, seu irmão, João de Faria, também admirador de tais construções, entrou como sócio-investidor para a restauração da obra. Foram gastos, aproximadamente, segundo o atual proprietário, R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais). Para os irmãos “Faria”, o principal na “reconstrução” era preservar a fachada e toda a sua “imagem” de casa colonial. Ao interior do imóvel, também foi dado um “toque especial”. Sua decoração antiga, explícita nos móveis, quadros e outros objetos (como um toca disco de 80 anos) realçam o ambiente clássico pretendido pelos proprietários.
Hoje em dia, algumas pessoas chegam a perguntar se o local é um museu, o que prova que a ideia de conservação realmente surtiu efeito.
Algumas peças da mobília (cama, cômoda, mesas e cadeiras) foram feitas pelo próprio senhor Antonio, que por meio de seu talento no ofício da marcenaria, expõe o seu trabalho e encanta os visitantes pela beleza dos mesmos.
A residência é, hoje, um atrativo ao pequeno distrito de Juréia. Turistas que passam pelo local, ficam encantados com a antiga “Vila Deoti”, e não resistindo à imponência e a magnitude daquele local, vão até ele para mais do que olhar, retratar em fotografias, aquela que seus olhos tanto admiram.