Publicado em 15/08/2018 - geral - Da Redação
A
Capoeira, hoje reconhecida como esporte brasileiro, representa nossa cultura em
mais de 190 países, sendo considerada uma das maiores divulgadoras da língua
portuguesa no mundo (geralmente, as aulas no exterior são dadas em português e
as músicas não são traduzidas). Além disso, foi reconhecida como Patrimônio
Cultural Brasileiro, em 2008, e como Patrimônio Cultural Imaterial da
Humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a
Cultura (UNESCO), em 2014. Mas você sabia que essa arte já foi proibida e
duramente perseguida em nosso país?
A
história da Capoeira se iniciou no século XVI e há três linhas de pesquisa
sobre sua origem: nasceu na África e foi trazida ao Brasil por africanos
escravizados; é uma criação de escravos africanos em terras brasileiras; é uma
criação indígena. A hipótese mais recorrente entre os historiadores é a de que
foi criada no Brasil por escravos africanos.
Essa
arte é uma expressão cultural que reúne aspectos de luta, dança, cultura
popular, artes marciais, jogo e brincadeira. Seu jogo é executado dentro de uma
roda em que dois jogadores executam uma ação sincronizada de perguntas e
respostas por meio da expressão corporal.
Ao
princípio, a prática da Capoeira pelos escravos nas senzalas foi proibida por
ser considerada um risco para os senhores, feitores e capatazes. E foi nesse
contexto em que se disfarçou de dança, para poder ser praticada com o
consentimento dos “patrões”. Essa prática foi um elemento muito importante da
resistência cultural e física dos escravos.
No
primeiro código penal do país – Código Penal do Império do Brasil/1830 – não
havia referência direta aos praticantes de Capoeira, mas a polícia os
enquadrava no capítulo que tratava dos vadios e mendigos. Certo tempo depois,
os capoeiras ganharam prestígio devido a sua participação na Guerra do Paraguai
(1864-1870), pois seus corpos eram considerados verdadeiras armas de guerra.
Após a abolição da escravidão, ficaram conhecidos no Rio de Janeiro também por
serem contratados como seguranças e por formarem milícias (ou maltas), como a
temida “Guarda Negra”, que protegia a monarquia, e seu envolvimento com a
política, dividindo-se em republicanos e monarquistas. Libertos e sem ofício,
acabavam se envolvendo em brigas e outras desordens, sempre desafiando o poder
oficial. Já no início da República, a Capoeira foi nominada no Código Penal
Brasileiro (Decreto nº 847/1890). A partir dessa inclusão, a polícia reprimiu
seus praticantes com extrema violência, especialmente nas cidades do Rio de
Janeiro, Recife e arredores. Dessa forma, a modalidade foi tipificada e
elencada como uma prática criminosa – seus praticantes eram exterminados,
presos e/ou deportados.
A
Capoeira também era praticada por homens livres – pobres e ricos, inclusive
europeus que viviam na capital do Império e, embora seus praticantes fossem
vistos como criminosos, recobraram valor social por meio da vertente
nacionalista, que defendia a Capoeira como ginástica brasileira e a queria
transformar em esporte nacional.
A
inclusão da Capoeira no projeto nacionalista como representação autêntica da
brasilidade se estendeu por décadas. A partir de 1920 e 1930 esse
aproveitamento ginástico da Capoeira com uma visão mais atlética a respaldou
para que fosse mais conhecida e ensinada em outros espaços, como escolas,
academias, clubes, quartéis, etc. Essa prática corporal resistiu por décadas e,
no Governo de Getúlio Vargas (1934), alcançou o status de esporte nacional.
Atualmente,
a Capoeira conta com milhares de praticantes pelo país, é tratada como
atividade pedagógica dentro de escolas e como disciplina nos cursos de
Licenciatura e Bacharelado em Educação Física, ou seja, o saber popular se uniu
ao saber científico.
Enfim,
a Capoeira, que foi duramente perseguida e quase extinta, resistiu à repressão
estatal e ao preconceito da nossa sociedade e hoje é símbolo da cultura
brasileira no mundo.
Autora: Katiuscia Mello Figuerôa é professora e praticante de Capoeira desde 1997, e também professora do curso de Educação Física do Centro Universitário Internacional Uninter.
ASCOM