“É uma conquista e uma esperança para a nova geração dos povos ciganos, porque
a maioria de nós, especialmente os mais velhos, é analfabeta. Hoje, já temos
crianças e adolescentes na escola. Queremos ter, futuramente, doutores,
professores, advogados ciganos, que possam nos representar em todas as
instâncias”, afirma a vice-diretora da associação, Valdinalva Barbosa dos
Santos Caldas. Ao todo, 2% das oportunidades ofertadas pela estadual são
destinadas ao grupo, outras 3% são reservadas para quilombolas. 
A próxima seleção para os cursos superiores da Uemg ocorrerá, pela primeira
vez, totalmente via Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e Sistema de Seleção
Unificada (Sisu). A estudante da etnia cigana Calon Mariana
Santos Alves Pires, de 18 anos, já está se preparando para as provas e quer
cursar Direito ou Enfermagem. Depois de ver o acampamento em que morava, em
Contagem, na Região Metropolitana, ser desfeito, ela se mudou com os pais para
a casa da avó, em Ribeirão das Neves. 
“Sempre fomos muito criticados porque as pessoas não conhecem nossa cultura e
acabam nos excluindo. Mas não desisti, estou prestes a entrar na faculdade e
fico muito feliz de pensar em ver mais ciganos nas salas de aula”,
afirma. 
Invisibilizados
Nas políticas públicas brasileiras, os ciganos não tiveram a mesma trajetória
de reconhecimento que outros povos tradicionais, como indígenas e quilombolas,
explica a antropóloga e pesquisadora da UFMG, Juliana Campos. Ela lembra que o
grupo passou muito tempo invisibilizado e que iniciativas como as cotas para
ingresso na universidade são essenciais para garantir direitos básicos a essa
população.
“A reserva de vagas da Uemg é crucial e pioneira em Minas Gerais e deve servir
como modelo para outras instituições de ensino. É uma forma de reparar
historicamente o modo discriminatório como os ciganos sempre foram tratados.
Temos uma deficiência tão grande em todo o país, muitos não estão inseridos nem
na educação básica e são analfabetos, infelizmente”, diz a pesquisadora,
ressaltando que o cenário pode mudar a partir de políticas de inclusão
destinadas aos jovens. 
Relator da proposta no Conselho Universitário, o pró-reitor de Extensão da
Uemg, Moacyr Laterza Filho reforça que a instituição pública tem o dever de
acolher comunidades ciganas e quilombolas, que possuem tradições culturais
específicas, pautadas na oralidade. “Se eles demonstraram interesse pela
formação superior é mais do que importante voltar nossos olhares e garantir as
vagas, a partir da valorização da diversidade”, afirma.  
Reserva
A Uemg tem 20
unidades espalhadas pelo estado, sendo cinco na capital e outras 15 no
interior. A reserva de oportunidades foi feita a partir de um pedido da
associação, por intermédio da Sedese. Em resposta, a entidade enviou uma carta
de agradecimento à universidade. "Com a deliberação, hoje sentimos que a
universidade está abrindo as portas para a evolução social, econômica e
cultural dos povos ciganos", diz o documento, que pode ser visto na
íntegra neste
link. 
Quem são os ciganos
O primeiro registro da chegada de ciganos no Brasil data de 1562. Hoje, há três
principais grupos no país: os Calon, os Rom e
os Sinti. Parte deles vive de maneira itinerante, em acampamentos
montados nas cidades, e tem como fonte de renda o comércio. Mas também é
possível encontrar ciganos em outras atividades e em residências fixas. 
Cartilha sobre cuidados específicos com os povos ciganos, produzida pelo
Ministério da Saúde, em 2016, mostra que Minas Gerais é um dos estados com
maior concentração de famílias nômades. Na Região Metropolitana de Belo
Horizonte, há acampamentos na capital, em Ibirité, Nova Lima, Contagem e Betim.
SEGOV