Publicado em 02/04/2020 - geral - Da Redação
Especialista orienta sobre o
que evitar e como preparar um espaço que ajude na concentração e no bem-estar
físico e psicológico
De acordo com uma pesquisa da consultoria Betania Tanure Associados (BTA), divulgada recentemente, 43% das empresas do Brasil estão com seus funcionários trabalhando em casa, pelo menos durante a fase da pandemia do Coronavírus. Das 359 empresas entrevistadas, 60% delas adotaram o home office. Uma das principais preocupações dos especialistas é a saúde mental das pessoas devido ao isolamento social. Este mês, a revista científica The Lancet, publicou uma revisão de artigos e estudos sobre os efeitos psicológicos da quarentena durante a epidemia da SARS (Síndrome Respiratória Aguda), em 2002. O levantamento apontou que 29% das pessoas apresentaram estresse pós-traumático (TEPT) e 31% tiveram depressão após o isolamento.
Uma outra pesquisa, também publicada na The Lancet, e realizada na Califórnia (Estados Unidos) com 398 adultos, analisou o comportamento psicossocial das crianças e pais diante de desastres de pandemia. Todos os entrevistados passaram por momento de reclusão e a pesquisa mostra que 30% das crianças apresentaram sintomas de estresse pós-traumático (TEPT) e 25% dos pais também passaram ela mesma situação, resultando no aumento de quadros de depressão. Dentre os principais sentimentos relatados estavam o medo (20%), o nervosismo (18%) e a tristeza (18%).
“Precisamos ter consciência de que somos impactados pelos ambientes que frequentamos, principalmente, por meio dos nossos sentidos. Consequentemente isso vai influenciar no nosso comportamento. Podemos, por exemplo, criar sensações agradáveis por meio da decoração, para que as pessoas da nossa casa sintam-se acolhidas nesses ambientes, bem como usar um aromatizador relacionado com a natureza, pisar na grama e ouvir músicas que te façam sentir mais calmo”, explica Priscilla Bencke, especialista em neurociência aplicada à arquitetura da Qualidade Corporativa.
De acordo com Priscilla, vale
inclusive preparar ambientes e situações dentro de casa que proporcionem
memórias positivas para a família, apesar de ser um cenário de muita dificuldade.
“Há um tempo foi realizada uma pesquisa pelo Happiness Research Institute, da
Dinamarca, no qual pediu-se às pessoas para descreverem uma memória feliz. E
nas respostas identificou-se padrões em quase todas elas, como 62% terem
ligação direta com aspectos multissensoriais e 56% emocionais. Essa fase da
quarentena vai ficar marcada na memória das pessoas, mas a decisão sobre como
isso vai ser lembrado depende da emoção que cada um de nós vai dar para esses
momentos em família. Se conseguirmos oferecer espaços multissensoriais em casa,
por exemplo, podemos trabalhar isso de forma estratégia e contribuir com a
formação de memórias positivas”, explica.
Natureza e a iluminação
natural
A necessidade de qualquer ser
humano é a conexão com a natureza. Pesquisa da Human Spaces comprova que
distribuir folhagens e plantas próximas ao espaço de trabalho aumenta em 15% a
sensação de bem-estar, 15% a criatividade e 6% a produtividade. A vegetação
pode ser criada virtualmente através de imagens, quadros, telas com projeções
de imagens ou revestimentos que simulam madeira, pedras e plantas. Além de ser
econômico é bem fácil de aplicar no ambiente”, evidencia a arquiteta.
Outro detalhe importante é
sobre quem permanece muito tempo em ambientes fechados com ausência de luz
natural. Segundo Priscilla Bencke, ficar por longos períodos nesses locais faz
com que a pessoa não perceba o passar do dia, desconectando-se do seu relógio
biológico. Como resultado pode haver uma dificuldade maior na hora de descansar
ou dormir, ocorrendo a temida insônia e que impacta diretamente na
produtividade e na saúde. Janelas com vista para a ‘natureza’ ajudam nesse
ponto e contribuem, inclusive, para diminuir a frequência cardíaca e reduzir as
questões de estresse.
Ergonomia
“Um dos problemas é não se
atentar ainda aos limites físicos, como os de postura, e até mesmo psíquicos,
transformando o excesso de trabalho em estresse, bem como muitas horas na mesma
posição”, alerta a arquiteta. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 40%
das dores lombares resultam em problemas mais sérios causando incapacidade
funcional e diminuição da produtividade.
Apesar de ser um home office
temporário - para muitos - é fundamental alguns cuidados. “O ideal para um
ambiente de trabalho home office é escolher cadeiras que possuem pelo menos
três funções básicas: regulagens de alturas do assento e do braço, além de
encosto com o apoio para a lombar. Caso a pessoa não tenha esse tipo de cadeira
em casa ela pode escolher um assento que permita encostar a lombar na cadeira e
deixar a coluna reta. E, de preferência, que tenha apoio para os braços”,
indica a arquiteta Priscilla Bencke.
Outra dica é para a maioria
dos profissionais que trabalha em casa e utiliza o notebook. “Muitas horas de
trabalho podem causar desconfortos físicos. Para evitar que esses problemas
influenciem na qualidade de vida acrescente um suporte para notebook com mouse
e teclado externo. Dessa forma, vai ser possível trabalhar numa postura
adequada sem queixas e com mais produtividade. Quem não tem o suporte para
notebook pode utilizar temporariamente livros para criar uma altura que deixe o
notebook na direção dos olhos, permitindo uma postura correta”, aconselha
Priscilla.
Home office x higienização das
superfícies contra o Coronavírus
Segundo Caroline Berg,
otorrinolaringologista, em decorrência do atual cenário do Coronavírus, alguns
cuidados são fundamentais para manter a saúde no espaço de trabalho em casa.
“Higienização das mãos, de preferência, com água e sabão. Nas superfícies, use
pano embebido em álcool gel, pois ele não evapora tão rápido. Máscara só deve
ser usada por quem está doente. E evite colocar a mão no rosto. O uso somente
da luva, sem o cuidado das roupas, dos óculos, do cabelo, não adianta em nada”,
destaca a médica.
Segundo estudo, publicado pela
revista científica "The New England Journal of Medicine", o novo
coronavírus chega a permanecer por longos períodos em superfícies como plástico
(até 72 horas); aço inoxidável (48 horas); papelão (24 horas); alumínio e o
cobre, como as moedas (cerca de quatro horas); vidro (até quatro dias). A
recomendação, portanto, é que de acordo com os estudos que estão sendo feitos,
o coronavírus pode ser inativado em um minuto se for feita a higienização
correta das superfícies, usando álcool em gel 70% ou 0,5% de água oxigenada, ou
ainda água sanitária contendo 0,1% de hipoclorito de sódio. Todos são produtos
de limpeza doméstica comuns e podem ser encontrados no supermercado.
Outra orientação do Ministério
da Saúde é sobre o cuidado ao andar de elevador. É preciso atenção ao apertar
botões, e deve-se entrar uma pessoa de cada vez. Ao fazer aquela saída rápida
para ir à farmácia ou supermercado, não ligue o ar condicionado e ande com as
janelas abertas. Esta dica vale, inclusive, para as janelas da casa, que devem
permanecer abertas o maior tempo possível para ventilar a casa. O órgão do
governo recomenda ainda que as pessoas mantenham distância de até um metro
(cerca de 3 passos).
Para concluir, Priscilla
compartilha maios algumas dicas. “Primeiro de tudo, procure um local reservado
na casa que ajude a evitar distrações, inclusive em relação a celulares e redes
sociais. Se for possível combine com a família de ser interrompido somente em
casos de emergência. Vale até mesmo adotar um visual mais “formal”, como se
você estivesse no trabalho, para que todos entendam que você está num momento
que exige tranquilidade e concentração. Além disso, invista em espaços de
descompressão, como a sala, a cozinha ou outros ambientes compartilhados da
casa, para ir durante os intervalos e para que possa interagir com a família.
Priscilla Bencke é arquiteta certificada em Neuroscience for Architecture (EUA), especialista em projetos para Ambientes de Trabalho, consultora internacional de Qualidade em Escritórios pela instituição alemã Mensch&Büro die Akademie, pós-graduanda em Neurociências e comportamento pela Pontifícia Universidade Católica (PUC/RS), pós-graduada em Arquitetura de Interiores pela UniRitter Laureate International Universities e graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É responsável pela “Bencke Arquitetura” e “Qualidade Corporativa: Smart Workplaces”, sendo pioneira na aplicação do conceito em projetos de “escritórios inteligentes”. No Brasil, tem realizado cursos e formações de profissionais, sendo a única representante da Mensch&Büro die Akademie na América. Já esteve presente em conferências como Orgatec New Visions of Work, na Alemanha; Worktech, em São Paulo, e a ANFA Conference (Academy of Neuroscience for Architecture), nos EUA, onde recebeu a oportunidade de expor o trabalho realizado no Brasil sobre os grupos que organiza para debater a neuroarquitetura.