Publicado em 30/12/2018 - geral - Da Redação
Programa
Mulheres Mil, executado pela Utramig, capacita quase 600 mulheres em situação
de vulnerabilidade social em 14 municípios mineiros
Elas são, em sua maioria,
mulheres entre 20 e 49 anos de idade. Mais de 60% delas solteiras,
separadas/divorciadas ou viúvas. São chefes de família que se desdobram para
viver com renda que varia entre meio e dois salários mínimos, em casas que têm,
em média, entre dois a seis moradores. Elas são, no total, 596 mulheres que, em
comum, agora possuem diplomas de capacitação, obtidos por meio do programa
Mulheres Mil, executado pela Utramig, instituição de ensino vinculada à Secretaria de Estado de Trabalho e
Desenvolvimento Social (Sedese).
O Mulheres Mil foi criado
com metodologia específica para promover a formação educacional, profissional e
cidadã de mulheres em situação de vulnerabilidade no estado, prioritariamente
beneficiárias do Bolsa Família. A oferta de cursos como preparadora de doces e
conservas, promotora de vendas, auxiliar de confeitaria, assistente
administrativo, almoxarife, manicure e pedicure (entre outros) chegou a 14 municípios
e amplia oportunidades para as participantes.
“Com o programa, o Estado
contribui para a formação e qualificação destas mulheres, abrindo oportunidades
para sua inclusão no mundo do trabalho e aumento de sua renda. Ao longo da
experiência da Utramig, é importante destacar que a evasão foi diminuindo e o
número proporcional de formandas aumentou”, destaca a diretora de Qualificação
e Extensão da Utramig, Ester Espeschit.
Moradora de Sabará,
Cristiane Santos, 37 anos, aproveitou os conhecimentos adquiridos no curso de
Microempreendedora Individual (MEI) para profissionalizar o seu negócio, o
Quitutes da Cris. “Fui técnica de segurança por dez anos. Desde que fui mandada
embora, em 2014, não consegui mais emprego. Então, em 2016 comecei a trabalhar
por minha conta, com pães e bolos”, conta.
Da cozinha da Cris saem,
diariamente, roscas com geleia de jabuticaba, de leite condensado com coco,
bolos de banana, entre outras delícias. “Soube do curso de MEI por indicação de
uma colega e, graças a Deus, fez muita diferença para o meu negócio, não só no
meu faturamento, que já aumentou, mas principalmente de fazer me enxergar com
outros olhos e acreditar no meu potencial de vendas. Eu vendo de porta em
porta, então a timidez e a insegurança me atrapalhavam muito”, diz.
O trabalho com a
autoestima das mulheres, aliás, é uma das principais premissas do Mulheres Mil.
“É um ganho duplo, porque elas não recebem só qualificação profissional de
qualidade, mas principalmente, em razão da metodologia do programa, refletem sobre
si mesmas e sobre o empoderamento feminino, o que propicia fortemente que elas
assumam um papel mais emancipado na sociedade”, ressalta Ester Espeschit.
A história da Cristiane
lembra a de Cláudia Liz, 46 anos, de Belo Horizonte. Também desempregada e com
filho pequeno e o marido doente, resolveu empreender. Autodidata, começou a
produzir faixas e lacinhos de cabeça para recém-nascidos e crianças. Surgia,
assim, há quatro anos, a Liz Lacinhos.
Para aumentar as vendas, a
artesã procurou o curso de Vendedora oferecido pelo Mulheres Mil. “Foi de
grande valia para mim. Terminei o curso em julho e já consegui aumentar meu
faturamento em 20%. Profissionalizei o meu produto, por exemplo, antes eu não
tinha etiquetas. Agora mandei fazer. Essas coisas são importantes”, relata.
Assim como Cristiane,
Claudia acredita que o principal ganho, entretanto, foi em confiança. “Hoje eu
consigo fazer mais captação de clientes, com menos ansiedade, e assim também
colocar um preço melhor nos meus produtos, o que me dá uma margem de lucro um
pouco maior. Eu ficava desanimada com o negócio, e muito ansiosa”, conta.
Claudia chama a atenção
para um outro aspecto do programa, considerando o caráter social e humano. “O
curso me ajudou a me valorizar como mulher. Eu estava sempre em último plano,
não cuidava de mim, só da minha família. O Mulheres Mil não é só
profissionalizante. Ele abriu muitos horizontes para mim, tanto
profissionalmente quanto pessoalmente”, comemora.
Professor do curso de
Vendedora, o administrador de empresas Leandro Silva confirma que a
qualificação pode ser transformadora para as participantes.
“Boa parte delas enfrenta
grandes dificuldades, problemas relacionados a desemprego, pobreza, violência
doméstica. Então a gente trabalha o lado psicológico, porque não adianta você
ensinar só a parte técnica, mas não trabalhar a autoestima. E é muito
gratificante ouvir os relatos ao longo do curso, de transformações que foram
possibilitadas, empregos encontrados, pequenos empreendimentos montados. Elas
precisam enxergar que são capazes de recomeçar suas vidas, de superar os
obstáculos”, acentua.
Prêmio nacional
Em 2017, o Mulheres Mil
foi selecionado como uma das quatro melhores iniciativas do país pelo Fórum de
Inovação Social no Setor Público (FIS).
O Fórum, que aconteceu em
São Paulo, teve o objetivo de dar visibilidade a iniciativas inovadoras
desenvolvidas no setor público. O encontro uniu empresas de serviços e
tecnologia de ponta, especialistas, prefeituras e pessoas engajadas com a
melhoria da qualidade de vida nas cidades do Brasil, que buscam soluções
para problemas sociais e tentam construir pontes de colaboração para um mundo
mais justo e sustentável.
Os programas e projetos
premiados são considerados inovadores por contribuírem para o aprimoramento da
implementação de políticas públicas ofertadas aos cidadãos com impacto direto
comprovado em áreas estratégicas como educação, saúde, ambiente, habitação,
inclusão social, empregabilidade, empreendedorismo e geração de renda.
Prisional
Também em 2017 a Utramig
inovou ao ministrar cursos do Mulheres Mil inicialmente para detentas da
Associação de Proteção e Assistência ao Condenado (Apac) feminina de Itaúna -
onde foram oferecidas aulas de Almoxarife - e do Presídio Pio Canedo, de Pará
de Minas, que recebeu o curso de Operadora de Computador.
Depois de três meses de
curso, as 22 formandas daquela primeira turma receberam seus diplomas de
conclusão de curso. As participantes frequentaram dois módulos para o
aprendizado: Específico (saberes práticos da profissão em ensino) e Educacional
Central (direito e saúde da mulher, empreendedorismo e economia solidária).
"Foi gratificante
[realizar o meu primeiro curso]. Senti que acreditaram na gente”, destaca a detenta
F.S.P, de Itaúna. “Quando eu sair quero trabalhar de almoxarife. Aprendi a
separar tudo direitinho, a olhar a data de vencimento dos produtos. Aprendi
também sobre meus direitos, a gente sabe sobre nossos deveres, mas não sabe
quase nada dos nossos direitos, o curso foi muito útil”, diz a detenta M.S.R,
na ocasião da formatura.
Ainda no Pronatec
Prisional, no âmbito da Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap), 15
detentas receberam seus diplomas em 2018 após a conclusão do curso de
Microempreendedor no Complexo Penitenciário Feminino Estevão Pinto, em Belo
Horizonte. Segundo a diretora do complexo feminino, Juliana Camargos,
nada seria possível sem a confiança na unidade e o trabalho dos parceiros.
“É perceptível a alegria
delas. Foi uma grande chance que elas tiveram de poderem sair daqui com um
curso profissionalizante. A felicidade é muito grande de ver uma mudança nessas
meninas. A Estevão Pinto realmente acredita na humanização e ressocialização
delas. Acredito que quando saírem daqui jamais serão as mesmas pessoas que
entraram. Nossas portas estão sempre abertas para novos cursos”, ressalta
Juliana.
A mãe de uma das presas
emocionou a todos durante a solenidade de formatura, que coincidiu com o seu
aniversário: “Estou muito feliz. Deus me deu essa benção de estar aqui com ela
comemorando essa conquista, hoje é só felicidade. Não imaginava que ela pudesse
ter essa oportunidade nesse lugar e mudar tanto”, afirmou M.C.S. Para sua filha
L.S., a felicidade da sua mãe é o que mais lhe deixa feliz. “Gostei de tudo: da
professora, da chance de poder aprende mais, daqui para frente será uma nova
vida”.
Pronatec
O Programa Nacional de
Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) foi criado pela Lei nº
12.513/2011 e prevê a oferta gratuita de qualificação profissional para pessoas
inscritas na modalidade intitulada Bolsa-Formação, sob a forma de cursos de
formação inicial e continuada – FIC.
Os cursos possuem carga
horária mínima correspondente a 160 horas e duração total aproximada de 3 a 6
meses (artigo 5º, §1º e §2º da Lei Federal nº 11.513/2011). Com duração
variável, eles conferem certificado de participação e muitas vezes podem ser
realizados sem exigência do grau de escolaridade, tendo por objetivo qualificar
os profissionais para o mercado de trabalho. Para alguns tipos de público, foi
criada uma subcategoria da modalidade de cursos Pronatec/FIC, como é o caso do
Mulheres Mil.
Na modalidade “Mulheres Mil”, o Pronatec é estruturado em três eixos – educação, cidadania e desenvolvimento sustentável – e busca possibilitar o acesso, com exclusividade, de mulheres historicamente em situação de extrema pobreza e vulnerabilidade à educação profissional e tecnológica.
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