Publicado em 10/03/2019 - geral - Da Redação
Servidoras estaduais, de áreas diversas, representam as centenas de mulheres que ajudaram vítimas e familiares
Durante a Conferência Internacional de Mulheres
Trabalhadoras, realizada na Dinamarca em 1910, a jornalista, professora e
política alemã, Clara Zetkin, propôs que todas as mulheres do mundo se unissem,
em uma mesma data, para dar voz às suas lutas e reivindicações. A proposta foi
aprovada por unanimidade. Assim, surgiu o Dia Internacional da Mulher,
comemorado em 1911.
Passados
108 anos, as homenageadas, na semana em que se comemora o Dia
Internacional da Mulher, em 2019, representam centenas de mulheres de
diferentes áreas, servidoras do Estado de Minas Gerais, que atuaram na tragédia
em Brumadinho, com o rompimento da Barragem 1 da Mina do Feijão. Cada uma delas
contribuiu, de maneira especial, em todo o trabalho realizado, ajudando as
vítimas e seus familiares.
Conheça
um pouco destas mulheres, que formaram - e ainda formam - a força feminina em
Brumadinho; já que muitas continuam trabalhando no local da tragédia.
Major
Karla Lessa Alvarenga Leal – Piloto do Corpo de Bombeiros
A
major Karla ficou conhecida, nacional e internacionalmente, após o resgate de
uma sobrevivente de Brumadinho, mostrado ao vivo por uma emissora de TV. Recebe
até hoje mensagens via rede social de pessoas que elogiam sua postura
profissional e habilidade no resgate dramático. “As pessoas me ligaram do
Oiapoque ao Chuí”, brinca. Teve até o caso de uma senhora de 82 anos, do
interior do Rio de Janeiro, que, após ver as imagens do resgate, ligou para o
batalhão para convidá-la para almoçar.
“
É o meu trabalho, mas a repercussão e o fato de ter sido ao vivo mostrou para
todos como é importante estar no lugar e hora certos. Isso é muito
gratificante”, comenta.
Naquele
dia, ela foi a primeira a chegar ao local da tragédia, com mais cinco
bombeiros. Diante da extensão da tragédia, não teve dúvidas e decidiu, em
conjunto com os colegas, deixar o helicóptero o mais leve possível para fazer o
maior número de resgates.
Além
do treinamento, sinergia e habilidade, a bombeiro fala que é preciso ter medo,
pois ele é quem limita a segurança das vítimas e dela própria. Apesar da
gravidade da tragédia em Brumadinho, a major lembra que já esteve em situações
de risco de morte, até mesmo com possibilidade de pane, no momento de um
resgate. “Não ter medo é perigoso”, alerta. Major Karla diz que espera que
outras mulheres não desistam de sonhos e busquem realizar o que quiserem.
“Podemos tudo “, conclui.
“A
tragédia de Brumadinho foi, com certeza, a ação de maior envergadura de que
participei. Não só pelo número de mortos, mas também pela enorme carga
emocional exigida”, diz a major, piloto do Corpo de Bombeiros e primeira
comandante de aeronaves do Brasil. Ingressou na corporação depois de ouvir a
palestra de um bombeiro cadete na UFMG, onde cursava Engenharia Química. Não
teve dúvidas: trancou a matrícula e se inscreveu no concurso público para
Formação de Oficiais do Corpo de Bombeiros.
Nesses
20 anos, a major Karla passou por vários treinamentos, até se decidir, em 2009,
se tornar piloto. Novamente se inscreveu em um concurso interno, sendo
aprovada, após ser submetida a testes físicos, psicológicos, práticos e
teóricos.
Casada,
diz que a maternidade ainda não faz falta. “Foi opção não ter filhos. O meu
trabalho, talvez, ficasse muito mais difícil, por saber que em casa, além do
marido, deixei um filho”, diz, admitindo que nada é definitivo.
Sargento
PM Gisele Bertucci – Polícia Militar Rodoviária
A
sargento Bertucci considera Brumadinho o pior local onde atuou, pelo número de
mortos e pela situação vivida por todos. Ela chegou cerca de uma hora após o
rompimento da barragem e foi a responsável pelo cerco e bloqueio de carros nas
rodovias de acesso ao local da tragédia. Além disso, ficou incumbida de impedir
que familiares, moradores e curiosos chegassem próximo da região afetada.
“Nessa hora, as pessoas, por mais que queiram ajudar, acabam prejudicando. E
podem aumentar o número de vítimas”, diz.
O
que parece ser fácil, segundo ela, provoca reações inesperadas e mexem com
o coração de qualquer um. A sargento lembrou o caso de um senhor que,
apareceu pedindo para que o deixassem passar, pois precisava salvar sua
família. Chegou a se ajoelhar e implorar pelo amor de Deus para que o
liberassem. A sargento Bertucci ressalta que, mesmo impactada diante
daquela situação, tem que fazer o seu trabalho. Felizmente, depois foi
informada que todos os familiares daquele senhor aflito se salvaram.
“A
mulher tem mais sensibilidade do que os homens, mas, em situações como a da
tragédia de Brumadinho, temos de nos manter serenas para evitar que os
sentimentos aflorem, além do normal. Todas nós sofremos com o impacto de
tragédias como essas”. Desta forma, a 3º sargento Gisele Bertucci resumiu sua
participação no pós- rompimento da barragem em Brumadinho.
“Minha
área de atuação sempre foi Saúde, mas, desde 2016, estou no Batalhão de Polícia
Militar Rodoviária”, conta. Ela está na Polícia Militar, desde 2009,
incentivada pelo marido, também militar. “ Ser policial me mostrou que poderia
ajudar a um grupo maior, sempre quis servir de alguma forma. Na Polícia
Militar, me encontrei”, confessa.
Assim
como a major Karla Lessa, Bertucci também optou por não ter filhos. “O mundo
está muito violento e, depois de fazer parto em uma viatura, realmente vi que
não era para mim”, justifica.
Fernanda
de Oliveira Costa – Policial Civil
Segurar
um fuzil de quase seis quilos e ficar na porta de um helicóptero, dando apoio
aéreo em operações policiais e em tragédias, como a de Brumadinho. Este tem sido
o dia a dia da policial civil Fernanda de Oliveira Costa, 36 anos, nove
deles na corporação. Sua rotina, nos últimos 40 dias, tem sido um revezamento
com colegas, em Brumadinho, dando segurança aérea aos que trabalham em terra.
Muitos a chamam de os olhos da operação ou observadora aérea.
Com
função totalmente operacional, Fernanda diz que sempre quis ser policial, e
que, curiosamente, fez um curso de comissária de voo sem imaginar que iria
se tornar uma tripulante de aeronave. “Minha função é ficar de olho no
movimento no entorno dos locais onde a ação se desenrola”,
explica. Normalmente, são áreas de risco, pelo próprio tipo do
acidente. Fernanda ressalta que é necessária a contenção, pela Polícia Civil,
das pessoas que querem se aproximar. “Atuo como segurança armada nessas
situações, onde pode haver um descontrole da população que cause tumulto. O
helicóptero é também usado pelos bombeiros, como foi, nos resgates”, destaca.
A
policial tem um filho de 20 anos. Ela conta que o rapaz, por ser independente,
entende os horários e as necessidades que ela tem em se ausentar. “Ele não
quis seguir a carreira policial, mas escolheu a medicina, que, de alguma forma,
também tem como objetivo ajudar ao próximo”.
Lucinéia
Carvalhais – Médica infectologista
“No
momento de dor, a sensibilidade das mulheres, com certeza, acalma o coração de
quem está sofrendo”, diz a médica infectologista Lucinéia Carvalhais, sobre seu
trabalho no IML/Acadepol, durante o serviço de identificação das vítimas do
rompimento da barragem em Brumadinho. Ela fez parte do Grupo de Resposta
Rápida da Saúde, que reuniu 95 profissionais, entre enfermeiros, médicos e
psicólogos, que ficaram de prontidão, acolhendo familiares das vítimas da
tragédia, inicialmente, durante três dias. Sem descanso.
Lucinéia,
que trabalha no Hospital Eduardo de Menezes, como infectologista, desde 1998,
conta que o grupo multidisciplinar é preparado para atender rapidamente, em
casos de sinistros e ocorrências como essas. Além do apoio emocional, os
integrantes foram os responsáveis pela coleta de material genético para
identificação dos mortos. “Foram momentos dolorosos. Não temos como prever qual
será a reação das pessoas. Nesse momento, o fato de ser mulher faz com que a
percepção de acolhimento, de abraço, seja real”, relata.
Acostumada
a trabalhar sob intensa carga emocional, a médica garante que está preparada:
“Estamos num hospital referência e sempre preparados para atuar, até no caso de
um surto de ebola”.
Lucinéia
diz que, coincidentemente, 95% da equipe envolvida no trabalho de Brumadinho
foi composta por mulheres e que a maioria foi recrutada via rede social,
através de grupos da saúde. “O rompimento ocorreu no início da tarde do dia 25
de janeiro. Na manhã seguinte, dia 26, o grupo estava completo. Essa é nossa
função: responder rapidamente em casos de epidemias, acidentes de grandes
proporções e estar sempre preparados para atuar”, garante.
Marcela
Oliveira do Carmo – Analista Técnica da Cedec
Agilidade,
conhecimento e capacidade de análise em meio à crise. Estas são características
que um profissional da Coordenadoria Estadual de Defesa Civil (Cedec-MG)
precisa ter para atuar em situações como a tragédia de Brumadinho. E Marcela de
Oliveira do Carmo, analista técnica de processos para casos de calamidade
pública, tem essas características de sobra. Ela é a responsável por colher
documentos junto ao município, Estado, diversos órgãos e elaborar um processo
que justifique a decretação do estado de calamidade pública.
O
trabalho, segundo ela, tem que ser feito com muito cuidado pois, além de
ser obrigatório, é ele que vai definir se o governo federal vai liberar verbas
emergenciais. Essa documentação também é usada para justificar o uso das Forças
Nacionais em caso de tragédia ou calamidade pública.
Marcela
do Carmo explica que toda a documentação é enviada para a Defesa Civil
Nacional. Lá os documentos passam por avaliação criteriosa e são, ou não,
aprovados. Ela conta que, no caso de Brumadinho, o pedido de decretação do
estado de calamidade pública, feito pelo governador Romeu Zema, teve aprovação
ágil e unânime.
Galeria de fotos: http://www.agenciaminas.mg.gov.br/multimidia/galeria/servidoras-estaduais-de-areas-diversas-representam-as-centenas-de-mulheres-que-ajudaram-vitimas-e-familiares
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