Publicado em 03/07/2018 - geral - Da Redação
A
greve é um instrumento utilizado pelos trabalhadores, de qualquer setor de
produção, para exercer pressão, seja sobre os patrões, seja sobre órgãos da
administração pública, de forma direta ou indireta.
Fenômeno
social de grande importância – considerados os motivos que a materializam e a
participação dos grupos que reivindicam o que consideram seus direitos –, a
greve ocorre entre os trabalhadores que compõem a camada caracterizada como
pertencente à infraestrutura social. No entanto, outros campos do conhecimento
também se ocupam de análises em relação à prática desse movimento
reivindicatório com pretensões de compreender e, também, reverter prejuízos
causados por paralisações de determinado setor.
Assim,
reflexões e discussões são realizadas, profissionais se debruçam sobre números
e estatísticas, para poderem divulgar os impactos das greves principalmente
sobre a economia de uma região ou de um país.
Essa
movimentação toda foi verificada, recentemente, quando uma greve organizada por
caminhoneiros, com a duração de 11 dias, deixou visíveis alguns pontos de
vulnerabilidade de nossa economia, principalmente expondo a dependência do
setor produtivo em relação ao transporte rodoviário.
Durante
o período de paralisação, as estradas foram bloqueadas, o que acarretou
desabastecimento de vários produtos, principalmente os perecíveis, como carnes,
frutas, verduras, leite e seus derivados. A falta de combustíveis nos postos de
gasolina e em aeroportos também foi um agravante, pois provocou o cancelamento
de voos nacionais e internacionais e causou danos em setores de produção de
bens e serviços, assim como trouxe prejuízos aos consumidores, de maneira
geral, com a consequente elevação dos preços de diversos produtos e reflexos no
transporte público. Perdas também foram observadas nos segmentos da saúde, pois
hospitais ficaram desabastecidos de materiais e medicamentos para, inclusive,
atendimentos de urgência e emergência, e da educação, com o cancelamento ou
precarização de aulas, pois os alunos, muitas vezes, não conseguiram chegar aos
estabelecimentos de ensino.
Em
resumo, o impacto social e econômico resultante do movimento grevista tomou
grandes proporções, a ponto de alguns analistas econômicos se mostrarem
bastante preocupados com seus desdobramentos, em médio e longo prazo.
Dentre
as principais reivindicações dos caminhoneiros, pode-se destacar a política de
controle do preço do diesel, a extinção da cobrança de pedágio referente aos
eixos suspensos e a aprovação do projeto de lei 528/2015, que define um valor
mínimo pago por frete, o que propiciaria maiores garantias de lucro aos
motoristas.
Com
o objetivo de atender a algumas das solicitações, o governo anunciou uma
redução de R$ 0,46 no litro do diesel com um congelamento de preço por 60 dias
sendo que, transcorrido esse prazo, os reajustes voltariam a ser mensais, e não
diários ou semanais, como estavam sendo praticados. Foram anunciadas, também,
outras medidas provisórias. Uma delas aponta para a isenção de cobrança de taxa
de pedágio do eixo suspenso; uma segunda estabelece o direito dos caminhoneiros
autônomos a 30% do frete da CONAB; e uma terceira que determina uma tabela
mínima para a cobrança/pagamento do frete. Estima-se que essas medidas possam
trazer, à economia do país, um impacto da ordem de R$ 10 bilhões, valor
expressivo se considerada a economia já instável por causa de outros fatores,
principalmente eventos climáticos e valores praticados no mercado externo.
Ainda
existem outras medidas em tramitação, como o programa de incentivo à renovação
de frota, com a concessão de alíquota zero de PIS/Pasep, Cofins e Imposto sobre
Produtos Industrializados (IPI) para a compra de caminhão por motoristas
autônomos e também por pequenas transportadoras, com a obrigatoriedade de
entrega do veículo antigo, para que seja encaminhado para reciclagem. Outra
medida é a anistia de multas emitidas pela Agência Nacional dos Transportes
(ANTT) para infrações de caráter médio e leve, sem reincidência no período de
12 meses, que poderão ser substituídas por advertência. Outra mudança é no
limite de 20 pontos para cassação da carteira que passa a ser de 40 pontos para
os caminhoneiros. Contudo, isso só é possível desde que não exista multa grave
ou gravíssima.
No
entanto, para implementação dessas medidas, há outros fatores a serem
considerados, principalmente se forem levadas em conta as péssimas condições
das rodovias brasileiras, principais canais de escoamento da produção
agropecuária e de hortifrutigranjeiros. A revitalização da malha viária
implicaria mais investimentos dos que os previstos, ainda mais se forem
computadas as alterações do cenário econômico do Brasil, uma vez que, de acordo
com o Banco Central, a projeção de crescimento, que era de 2,37%, caiu para
2,18%. Com a alta dos preços no período da greve, a estimativa para o índice de
preços ao consumidor (IPCA), índice oficial de inflação, passou de 3,6% para
3,65%. Esse percentual está abaixo do centro de meta de inflação que é de 4,5%
– mas, para 2019, a projeção do IPCA feita por economistas é de 4,01%.
O
cenário que se apresenta merece, portanto, um olhar mais atento do setor de
logística, principalmente com o planejamento e implementação de ações efetivas
para minimizar o impacto dessas perdas junto aos produtores e consumidores, de
maneira geral. Nesse primeiro momento, as ações poderiam estar voltadas à
retomada de crescimento do país, por meio da intralogística, com melhorias em
diversos setores de cada empresa, como tecnologias da informação, condomínios
empresariais, segurança e gestão de risco, buscando soluções multimodais,
agregando toda a cadeia logística em função do aperfeiçoamento de custos e
efetivação de processos para minimização de custos.
Investimentos
em sistemas de transporte, bi ou plurimodais, podem ser a resposta, em médio ou
longo prazo, para a retomada do crescimento econômico.
O
país tem uma malha ferroviária subutilizada, assim como hidrovias, situação que
se reflete nas rodovias, que carecem de manutenção e recuperação. Um bom
planejamento de estratégia logística, voltado ao melhor aproveitamento dos
recursos oriundos de uma parceria público-privada poderia ser a resposta para a
retomada do crescimento econômico do país, assim como para a manutenção dos
direitos conquistados pelos caminhoneiros, no movimento recentemente
deflagrado.
Autora: Alessandra de Paula, coordenadora do curso
superior de Logística da Escola de Gestão, Comunicação e Negócios do Centro
Universitário Internacional Uninter.