Publicado em 19/02/2018 - geral - Da Redação
Ribeirão das
Neves é um município da região metropolitana de Belo Horizonte onde se
concentra muitos presídios do Estado: as penitenciárias Agrícola de Neves e a
José Maria Alkimim, bem no centro da cidade e que tem na entrada um indicativo
de que sua construção ocorreu em 1938. Os presídios Antônio Dutra Ladeira,
Inspetor José Martins Drumond e o Feminino José Abranches Gonçalves. E também
as três unidades do Complexo Penitenciário Parceria Público Privado, uma
experiência inovadora e polêmica, mas que vem dando bons resultados na cidade.
Essa
realidade certamente traz ao município dificuldades para se apresentar sem ser
marcado pela particularidade penitenciária e prisional.
Por dois anos
consecutivos o presidente da República trouxe dificuldades ao país no campo
jurídico penal. E em consequência disso, cidades como Ribeirão das Neves,
aumentam o seu sofrimento que não é pequeno graças à presença ostensiva de
presídios em seu espaço territorial.
No decreto de
indulto de 2016 trouxe exigências que certamente aumentaram o afluxo por
questões jurídico prisionais ao município e aumentaram a população carcerária
ao longo do ano de 2017, já que restou ostensivamente prejudicado o rodízio
cotidiano dos presos, tão necessário num país em que a realidade prisional é
tão caótica. E neste ano um decreto polêmico que teve suspenso parte de seus
efeitos por liminar da justiça. Tudo isso chamando a atenção em Neves para sua
realidade prisional, enfraquecendo as luzes e soluções que estão emergindo no
município.
Mesmo
existindo atrativos de áreas verdes, espaços para casas de campo e sítios
agradáveis ao descanso. Mesmo sendo sede do maior e mais bem sucedido trabalho
com crianças e adolescentes carentes chamado de “A Cidade dos Meninos” e que mostra que a município não é um lugar
de problemas, ou um tapete para onde se jogam debaixo os presos, mas lugar de
excelentes soluções para mazelas sociais que todos querem esquecer fingindo que
não existem e cujas práticas libertadoras realizadas em Neves têm pouca ou
nenhuma visibilidade.
Um exemplo é
o Mercado de Neves, recém construído, com grande espaço para comércio, shows e
eventos, em ótima posição na cidade mas pouco divulgado e que em breve conversa
com os comerciantes do local se percebe claramente subutilizado para o
potencial que apresenta. Tanto como atrativo turístico de eventos como lugar de
comércio e de estímulo a pequenos e micro empreendedores.
Ribeirão das
Neves que já ostentou o título de cidade com menor Índice de Desenvolvimento
Humano – IDH da Região Metropolitana de Belo Horizonte, com IDH igual ou menor
que muitas cidades do Vale do Jequitinhonha, que em razão de condições
climáticas e de vegetação sempre foi associada à miséria apesar de ostentar
enorme arcabolso cultural. Sofria Neves com a mesma miséria sem contudo
ostentar a cultura daquele espaço irmão na dor. Neves agora respira. Há luzes e
Neves.
Wagner Dias Ferreira - Advogado e Membro da Comissão de Direitos Humanos da OAB/MG