Publicado em 12/01/2016 e atualizado em 12/01/2016 - geral - Da Redação
Em 1999, a Time e a CNN incluíram Marcelo Rossi entre os 50 latino-americanos que liderariam o novo milênio. A revista e o canal de TV americanos se impressionaram com aquele “padre dançante” que dividia espaço com paquitas de microshort no programa da Xuxa e que, na missa, jogava baldes de água benta nos fiéis.
O paulistano foi um dos 15 brasileiros numa lista que juntou do músico Carlinhos Brown ao banqueiro Pedro Moreira Salles. “Não será surpresa se, um dia, o moço da ‘aeróbica do Senhor’ chegar a ser papa, tamanho é seu carisma”, previram os estrangeiros. Nos anos seguintes, o católico escreveu best-sellers como Ágape. Em 2014, vendeu mais discos que Roberto Carlos.
Chegaram às livrarias, no fim do ano passado, duas biografias sobre o homem que, cantando refrões como “erguei as mãos e dai glória a Deus”, reconduziu multidões à Igreja Católica ? e, por tabela, passou a conviver com o pouco eclesiástico rótulo de “padre popstar”.
Pelos títulos, vê-se logo que os escritos, apesar de não autorizados, são simpáticos ao cura. Ambos são assinados por jornalistas: Uma vida dedicada a Deus (Heloisa Marra, ex-O Globo) e A superação pela fé (Edison Veiga, O Estado de S. Paulo). Não se furtam, contudo, a mostrar o homem por trás da batina. Anorexia e depressão são algumas das feridas tocadas.
Os livros falam sobre sua inveja ao ver “todo mundo crescendo”, menos ele, na faculdade de educação física que fez em Santo André (SP) ? daí unir fisiculturismo e anabolizantes. Isso antes de cogitar o sacerdócio, após participar de um evento carismático chamado Rebanhão.
Falam sobre um homem que se sente alvo de inveja, o que teria agravado seu quadro de depressão. Rossi atribui ao olho gordo as mortes “do nada” do dogue-alemão presenteado por Xuxa e do fila que ganhou de um amigo. Os livros citam ainda sua superexposição na virada do século. Na época, Marcelo Rossi estava em todas. Foi capa de Caras, Quem, Contigo. Ia do Planeta Xuxa ao SBT Repórter ? lá disse que “se Jesus vivesse hoje, estaria nos meios de comunicação”.
Também no SBT, em 2002, no programa do Gugu, teria exigido que o ator transformista Jorge Lafond (da personagem Vera Verão) saísse do palco para poder entrar. Na MTV, condenou a camisinha enquanto ajudava Astrid Fontenelle a preparar uma pizza, em Pé na cozinha. Segundo a assessoria de imprensa do padre, ele “não leu nem pretende ler” as biografias a seu respeito.
EXPOSIÇÃO
Sua reclusão midiática se acentuou há uns anos. “Em 1999, me expus tanto que fui eleito mala do ano. [...] Reconheço que exagerei”, disse à revista Época, em trecho reproduzido na obra de Marra. “Minha proposta sempre foi fazer uma grande reportagem”, diz a autora. Ela não entrevistou o padre, mas falou com dezenas de pessoas do seu entorno.
Edison Veiga conta que leu mais de 10 mil reportagens para escrever sobre o padre “assediado como se fosse um astro de rock, um ator global protagonista da novela das nove, um ídolo do futebol”. Esteve com Rossi em outubro de 2012, um mês antes de seu biografado inaugurar em São Paulo o Santuário Mãe de Deus, “para durar 700 anos”. O projeto, que tem 30 mil m², e teto que lembra o dorso de uma pomba, é de Ruy Ohtake.
O acidente na esteira ergométrica, ponto crucial na trajetória do padre, é destaque nos dois livros. Eram 4h de 29 de abril de 2010. Seu time, o Corinthians, tinha perdido de 1 a 0 para o Flamengo e sido eliminado da Libertadores. Ele perdeu o sono e decidiu correr. No fone, Sunday bloody sunday, do U2 ? Rossi lista a banda como uma de suas prediletas. Sentiu vertigem, pisou em falso e lesionou o tornozelo.
Dias antes, fora convidado para conhecer Bento XVI no Vaticano. Em 2007, afinal, ele havia sido vetado de cantar para o mesmo papa em São Paulo ? não era benquisto por todos da Igreja. Para poder ir a Roma, recorreu a um tratamento pesado, que o fez engordar 40 kg e ficar na cadeira de rodas por três meses.
Depois, emagreceu tanto que a internet foi tomada por suspeitas que iam de anorexia (verdadeira) a Aids (falsa). Ao Fantástico, explicou que fez uma “dieta maluca, só alface e hambúrguer”. Seu novo livro, Ruah, remete à sua fixação com hábitos alimentares. “Quebrando os paradigmas de que gordura é saúde e magreza é doença”, diz a capa.
Padre Marcelo costuma ir direto ao ponto, o que fica claro no ditado que usa para explicar sua aversão a homilias longas. “Em cinco minutos é Deus quem está falando; em 10, é o homem; e em 15 minutos é o diabo, porque é enfadonho e afasta o fiel da Igreja.” (Folhapress)
Fonte: Estado de Minas