GOLPE MAIS DISTANTE JÁ ABRE SUCESSÃO PRESIDENCIAL

Publicado em 18/09/2015 - marco-regis-de-almeida-lima - Da Redação

GOLPE MAIS DISTANTE JÁ ABRE SUCESSÃO PRESIDENCIAL

Na quarta-feira, 16/09, em Brasília, em sua sede nacional, o PDT – Partido Democrático Trabalhista – recebeu a filiação dos ex-ministros e ex-governadores do Ceará, os irmãos Ciro e Cid Gomes, sendo essa adesão engrossada por mais oitenta prefeitos do mesmo estado, inclusive o de Fortaleza. A solenidade foi comandada pelo presidente da agremiação, Carlos Lupi, sendo prestigiada pelo governador do Ceará, deputados estaduais e federais, senadores e diversos segmentos partidários, inclusive pelo atual Ministro do Trabalho, Manoel Dias.
O ato poderia ser visto como uma corriqueira atividade partidária, mas, revestiu-se de muito entusiasmo e simbolismos. Num primeiro momento, deve ser observado como um fortalecimento do PDT, principalmente porque um grupo estadual de peso ingressa em suas hostes. Por outro lado, a presença de Brizola Neto, que ficara ressentido com a sua substituição no cargo de Ministro do Trabalho e Emprego, e de dirigentes estaduais, principalmente de Minas Gerais, que divergiram da orientação do partido nas últimas eleições presidenciais, apoiando Aécio Neves e não Dilma Rousseff, é sinal do encaminhamento de união interna. Entretanto, o discurso do respeitado deputado federal cearense , André Figueiredo, propondo Ciro Gomes como candidato a Presidente da República, em 2018, dá indícios de que o PDT continuará dando sustentação à atual presidente, mas não à continuidade dos governos do PT – Partido dos Trabalhadores.
Na sua estréia como pedetista, Ciro se disse orgulhoso de estar na sigla fundada por Leonel Brizola, cujas raízes trabalhistas se desenvolveram a partir de Getúlio Vargas, Jango Goulart, Darcy Ribeiro e outros, dizendo que “não veio para uma festa”, mas para retomar as suas atividades políticas, depois de um longo período de reflexões. Como economista, questionou a chamada globalização, afirmando que esta somente se deu com a informação, que manipula a cabeça dos mais jovens e dos desavisados, enquanto a tecnologia, as máquinas e a economia são retidas por alguns países, causando danos em outros, por exemplo: Espanha, Portugal e Grécia. Segundo ele, nas nossas vizinhanças, a economia mais sólida é a do Chile, que não cedeu às diretrizes neoliberais, ficando em má situação a Argentina, que tudo privatizou (na época de Carlos Menen) e o Brasil, no meio termo, porque estancou o neoliberalismo. Sempre franco e polêmico, Ciro abordou a condenação do seu irmão, Cid Gomes, nesta mesma 4ª feira, a pagar indenização de 50 mil reais ao Presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal, em face de palestra feita para estudantes da Universidade Federal do Pará e por discurso na Câmara Federal, rotulando Cunha e centenas de parlamentares como ‘achacadores’.
Ciro não deixou por menos: “o Cid foi lá e meteu o dedo na cara desse pior de todos, que é o Presidente da Câmara [...] foi condenado [...] porque quem fala a verdade neste País não pode ser criminalizado [...] ele vai recorrer”.
Certamente que o evento da nova filiação de Ciro Gomes e seu grupo, abrindo uma nova disputa presidencial no Brasil, vai ajudando a afastar iniciativas golpistas do ‘impeachment’ da Presidente Dilma. No início de março deste ano, a imprensa dava como certo o desencadeamento dessa iniciativa como conseqüência das manifestações contrárias ao Governo, que aconteceriam dias depois. A ação não aconteceu. Os novos protestos de abril e de agosto murcharam e o ‘impeachment’ continua ficando como cogitação. Outra possibilidade são as contas do governo em julgamento no Tribunal de Contas da União. A Lava Jato, que investiga a fundo a corrupção na Petrobrás e na Eletronuclear, demonstra a independência do Judiciário, do Ministério Público e da Polícia Federal, apontando a promiscuidade no financiamento empresarial a políticos, sem que ainda tenha rotulado como corrupção de governo, mas de setores isolados. No final de agosto passado, o Vice-Presidente do TSE – Tribunal Superior Eleitoral – e membro do STF – Supremo Tribunal Federal – Gilmar Mendes, que, em dezembro, ajudara a aprovar as contas da campanha eleitoral de Dilma “com ressalvas”, pediu, junto à Procuradoria-Geral da República, a apuração das mesmas contas por um “fato novo”, envolvendo uma gráfica do interior paulista, através de delação premiada do “chefe do clube das empreiteiras”, Ricardo Pessoa. O Procurador-Geral, Rodrigo Janot, mandou arquivar o pedido. Este caso pode ser recapitulado em jornais impressos ou nos blogs de Luiz Nassif e de Reinaldo Azevedo. Este último, também jornalista da revista ‘Veja’-raivoso, desrespeitoso e golpista – qualifica o Procurador-Geral como “um dos advogados do PT” e prega Fora Janot. Gilmar Mendes, que se vale de denúncia de um empreiteiro, impediu que o STF desse fim neste tipo pernicioso de financiamento empresarial, interrompendo uma decisão plenária, há mais de um ano, com um pedido de “vista”, quando a maioria da Suprema Corte se encaminhava para dar fim à nefasta contribuição. Tal atitude protelatória propiciou que deputados federais viessem, posteriormente, a aprová-la na “reforma política”.
Uma ótima ilustração para melhor encerramento deste artigo, é o parecer do Dr. Rodrigo Janot, que, quase “matou de raiva” o Ministro Gilmar Mendes e assemelhados de Reinaldo Azevedo: “É em homenagem a Sua Excelência (Gilmar Mendes), portanto, que aduzimos outro fundamento para o arquivamento: a inconveniência de serem, Justiça Eleitoral e Ministério Público, protagonistas exagerados do espetáculo da democracia, para os quais a Constituição Federal trouxe, como atores principais, os candidatos e os eleitores [...] Não interessa à sociedade que as controvérsias sobre a eleição se perpetuem: os eleitos devem usufruir das prerrogativas de seus cargos e do ônus que lhes sobrevêm; os derrotados devem conhecer sua situação e se preparar para o próximo pleito”.

*marco.regis@hotmail.com – Marco Regis é médico, foi prefeito de Muzambinho (1989/92; 2005/08) e deputado estadual (1995/98; 1999/2003)