A queda de braço entre o PT e o governo

Publicado em 12/11/2014 - politica - Da Redação

Por: Glauco Peres da Silva*

O segundo mandato da presidente Dilma começou com claros atritos entre ela e seu partido. Na semana passada, a presidente correu mostrar-se em posição distinta do partido em relação às declarações do partido sobre alguns temas, dentre eles, regulação da mídia. Por outro lado, Lula tem buscado participar mais, ao menos explicitamente, deste segundo mandato. Ainda o PT, através de seu presidente, declarou que a relação entre o partido com a presidente precisa se ajustar melhor. Atualmente parece termos, de um lado, Dilma; de outro, Lula e o PT. Dilma teve uma reeleição bastante apertada, o que a coloca em posição mais frágil nas diferentes mesas de negociação que participará; dentre elas, está a relação com o seu partido e o ex-presidente Lula. Por outro lado, o partido acredita que tenha tido uma participação fundamental durante a campanha e quer atuar mais diretamente neste governo.

Esta disputa está atualmente concentrada na nomeação do Ministro da Fazenda. De um lado, Lula seguido pelo PT sugere nomes que acalmariam as pressões geradas pelos maus resultados econômicos dos últimos anos, flanco aberto e fartamente explorado pela oposição durante a campanha de 2014. Henrique Meirelles e Nelson Barbosa são nomes que, nesta ordem, parecem ser a preferência do ex-presidente Lula. Esta antecipação do debate público em torno dos novos ministros acontece, a meu ver, em razão do desempenho econômico do país ter sido bastante abaixo do esperado durante todo o governo Dilma, o que foi altamente contestado pela oposição. Luiz Carlos Trabuco, do Bradesco, embora já tenha sido cotado, a esta altura parece já não fazer mais parte dos prováveis nomes a ocupar a pasta.

Porém, a interferência neste ministério não passa apenas pela escolha de um nome-chave para as decisões econômicas do governo que se inicia. Ela cria ruídos por outras razões. Cogita-se que a presidente Dilma tinha em mente outros nomes para o ministério, como Aloízio Mercadante, atualmente na Casa Civil. Sua preferência por um nome mais afim ao partido não seria apenas por uma questão ideológica ou de afinidade em outros âmbitos, mas também em razão dela ser formada em Economia. Um nome com quem tivesse alguma proximidade daria a ela espaço para manter o que parece ter feito com Mantega ao longo de todo o seu governo anterior: intervir diretamente na condução econômica. Adotando um estilo bastante centralizador, supõe-se que Dilma sinta-se ainda mais à vontade para interferir em um ministério afinado à sua formação.

Ou seja, a escolha deste ministro coloca em choque as duas forças presentes neste governo que já iniciam o mandato dividindo-se. Por um lado, a vontade e estilo da presidente Dilma e de outro, as pressões do PT e do ex-presidente Lula para um governo menos criticado e com uma condução econômica mais próxima da observada durante os dois primeiros governos petistas. A presidente tem a caneta. Mas não se sabe se tem a autonomia que apresentou no primeiro governo e que pode acreditar ainda possuir, mesmo depois de uma reeleição tão apertada.

*Glauco Peres da Silva: professor de ciência política da Universidade de São Paulo e autor do blog Entrementes