Publicado em 11/12/2016 - politica - Da Redação
As mudanças promovidas pela Câmara Federal no projeto de combate à corrupção repercutiram negativamente em todo o Brasil. O deputado federal Carlos Melles (DEM) foi contrário à iniciativa e prestou esclarecimentos com exclusividade à reportagem deste jornal.
Melles declarou que o povo precisa ser representado com dignidade, verdade e estabilidade. Entende, inclusive, que o país vem colhendo os frutos de ações negativas há doze anos. Reconhece que a corrupção sempre existiu, mas dentro de limites toleráveis. Mas o que aconteceu agora foi intolerável, sendo uma verdadeira formação de quadrilha. Lembrou seu padrinho político Francelino Pereira com a seguinte citação: “Quando a cabeça não roubava, o corpo costumava obedecer”. Ou seja, quando o dirigente máximo tem um comportamento digno e correto, os outros tendem a acompanhar. Acredita que esta situação aconteceu com o então presidente Fernando Henrique Cardoso e outros governantes sérios. Depois, o país entrou na fase do “vale tudo” para manter o poder para os governantes e não para o povo. Hoje, o país está colhendo esses frutos.
O deputado esclareceu que quando assumiu a Secretaria de Estado de Obras e Transportes Públicos de Minas Gerais (SETOP), no governo Anastasia, estava deixando o ambiente que não mais tolerava em Brasília/DF. Um ambiente que, para se manter o poder, se corrompia os deputados, empresas e a todos. Esta corrupção endêmica e sistêmica gerou o quadro atual.
Por outro lado, Melles manifestou sua confiança de que é pela política e democracia que tudo de bom pode acontecer. Segundo ele, os três poderes distintos estão muito bem (Executivo, Legislativo e Judiciário). Já o 4º Poder, a imprensa, traz à luz todos os defeitos e qualidades. Observa que a imprensa pode e deve fazer o trabalho que vem desenvolvendo. Mas também precisa mostrar que os deputados são semelhantes na Câmara, mas não são iguais. Ou seja, cada eleitor deve fazer a sua reflexão. Sendo que muitos votaram num grupo que não queria o bem do Brasil, mas a popularidade para manter o poder.
JUDICIÁRIO PRESERVADO
O parlamentar afirmou que a formação social ensina respeito aos padres, pastores, professores, promotores, juízes e demais autoridades. Ele reconhece excesso por parte de Juízes, mas ressalta a necessidade de manutenção da integridade do Judiciário. Por isso, seu voto foi contrário às mudanças promovidas. Acredita que este assunto pode e deve ser discutido, mas fora do ambiente emocional. Neste contexto, a política tem muita emoção, deixando a racionalidade para traz.
“É uma vergonha a gente ter que votar na essência das medidas contra a corrupção. Para quem teve pai e mãe que ensinou os dez mandamentos, ser correto, ter ética e ser respeitoso”, disse. Quando isto não acontece, como não aconteceu no Brasil, todos caem numa vala comum. Melles destaca que, neste momento, as medidas eram necessárias. “Votei favoráveis a elas e contra a inclusão de juízes e promotores, porque entendo que estes poderes devem se manter independentes como são, vigilantes, guardiões do nosso povo e da nossa Constituição”, justificou.
OUTRO LADO: DENUNCISMO
Por outro lado, Melles entende que é preciso rever alguns procedimentos de Juízes. Lembrou que durante 24 anos de vida pública, já foi acolhido por denúncia de um ex-prefeito São Sebastião do Paraíso/MG. No entanto, foi julgado e teve enorme despesa financeira para provar uma coisa que não precisava provar. Segundo ele, todos aqueles que militam na vida pública, correm o mesmo risco. Sugere que os promotores e juízes vivam além do juizado e do magistrado, mas o que é justo. Até porque nem sempre a peça ou a denúncia gera um resultado justo. O resultado justo é mais importante do que o jurídico. Por isso, é importante conhecer bem os políticos: quem são, como agem e onde vivem.
REGRAS RIGOROSAS
Melles garante que a maioria dos políticos do país são muito bons. Neste sentido, acredita que este período difícil vai passar. Por isso, prefere a conhecida expressão “depois da tempestade, vem a bonança”. O deputado ainda condenou a tentativa de “mudança da regra no meio do jogo”. Uma situação que expõe muitas pessoas que não merece. Pessoalmente, ressalta que o Caixa 2 é condenável e crime. Mas não pode fazer uma mistura daquilo que foi uma quadrilha para produzir propina em todos os órgãos para manter o poder político. Assim, defende que as regras sejam muito rigorosas, com o povo sabendo escolher os seus representantes.
EXPECTATIVA PARA 2017
O deputado também revelou a perspectiva política e econômica para o próximo ano no país. Explicou que a medida de segurança dos gastos (241) é muito importante, sendo o primeiro caminho para reestabelecer a credibilidade e confiança que falta ao Brasil. Além disso, observa que as áreas de educação e saúde estão preservadas. Melles aproveitou para adiantar seu voto favorável à reforma da previdência, reconhecendo a necessidade de contribuição mais longa. Da mesma forma será seu posicionamento quanto à reforma política, defendendo o voto distrital. “2017 será melhor que 2016. Pode ser que não seja tão melhor, mas será melhor porque as regras estão estabelecidas”, disse.
APOSENTADORIA RURAL
Conforme as mudanças previstas, no meio rural a mulher poderá se aposentar aos 55 anos e o homem aos 60 anos. Melles afirmou que sempre seu primeiro compromisso foi defender o trabalhador rural. Entende, inclusive, que não deveria ser considerada uma aposentadoria, mas um programa social. Até porque o Brasil não tem reconhecido o sofrimento do trabalhador e do produtor rural. Conquistas trabalhistas já foram alcançadas através de sua atuação parlamentar. E garante; “Vou lutar para que o trabalhador rural continue na mesma regra de transição”. Chegou a criticar os representantes de classes (sindicatos e cooperativas) pela pouca defesa do produtor rural.