Publicado em 26/04/2017 - politica - Da Redação
Esta semana o título da coluna traz uma verdade política (um ciclo) para aqueles que têm na função pública a sua vocação e a sua carreira.
A concepção vulgar divide a política em dois momentos nitidamente separados:
• o momento chamado de política (campanha eleitoral)
• o momento da administração (governo e exercício do poder)
Supõe-se, dentro desta concepção, que, conquistado o poder - executivo ou legislativo - a política deve ceder seu espaço à administração e à produção legislativa para retornar apenas anos mais tarde, por ocasião da próxima eleição, seja ela consecutiva ou não. Esta é a visão ideal, que grande parte dos eleitores possui (ou ao menos deveria possuir), e, o que é mais grave, boa parte dos políticos também compartilha. Ela colide não apenas com a realidade, mas também com a mais moderna concepção da política que a encara como uma "campanha permanente", o que vem se tornando cada vez mais comum no Brasil, basta analisar o cenário que nos cerca, hoje com muito maior facilidade devido às redes sociais.
É óbvio que campanha permanente não significa recomeçar de imediato uma campanha eleitoral, com as mesmas características daquela que recém terminou. Seria um absoluto despropósito. Por outro lado, a passagem da fase eleitoral para a fase de governo não equivale à passagem da política para a administração. O que ocorre é a passagem de uma forma de fazer política para outra. A política é permanente e o governo que quiser governar, assim como o legislador (vereadores e deputados) que quiser ser relevante, terá que continuar lidando com ela diariamente.
É claro que, no governo, a componente administração possui grande relevância. É por meio dela que as idéias, projetos, propostas, programa de governo e promessas se realizam. Mas, trata-se de uma administração à serviço de objetivos políticos, e quanto mais se aproxima a próxima eleição, mais claro isto pode ser percebido. Estes objetivos não necessariamente devem limitar-se a interesses pessoais ou partidários. Podem, e normalmente são, objetivos da comunidade que, em certos casos, chegam a contrariar aqueles interesses pessoais e partidários. Mas são objetivos políticos que se materializam mediante a ação administrativa e legislativa.
O conceito de "campanha permanente" nada mais é do que a correspondência entre a preocupação com a carreira e a natureza continuada e igualmente permanente da política. Costuma-se dizer do candidato eleito que, a partir do momento em que assume seu mandato, tudo que disser e fizer poderá ser usado contra ele na próxima eleição. Eleito, o político torna-se um homem público. Sua reivindicação de privacidade fica profundamente comprometida. Tem que a todo o momento dar explicação sobre seus atos, declarações, decisões e votos, e neste contexto a preocupação em se reeleger pode comprometer (e muitas vezes compromete) a retidão das decisões a serem tomas e das declarações a serem dadas, com relativa freqüência, na contramão daquilo que se foi proposto no período eleitoral, afinal de contas, “já estamos em campanha, e uma campanha só termina quando a próxima começa”.
Por: Prof. Dr. Ivan Pereira