O presidente da Cooparaiso, o deputado federal Carlos Melles, em entrevista ao Informativo Cooparaiso faz uma retrospectiva dos principais fatos para a política cafeeira, que aconteceram em 2009, e destaca o ano como positivo, sendo para ele, um ano de retomada às discussões e implantações de novas medidas em prol da cafeicultura.
Informativo Cooparaiso – Como o senhor vê, de modo geral, os últimos tempos para a política cafeeira?Carlos Melles - Na verdade foi um ano em que as políticas brasileiras de café saíram da inércia, justamente porque não tinha nenhuma política ao longo dos anos de 2000 para cá, período em que o produtor vem acumulando prejuízos e acumulando prejuízos e sem se comunicar bem com a sociedade e com o governo, no sentido de passar ao governo a sua angústia, os seus prejuízos, a falta de expectativa, a inadimplência, a insolvência, ele perdeu a capacidade de indignar, de inconformar.
Informativo Cooparaiso – E em particular o ano de 2009?Carlos Melles - O ano de 2009 foi um ano diferente sob esse aspecto. Cerca de 25 mil produtores foram às ruas, em Varginha, no SOS Café. A sociedade fechou as suas portas na maioria das cidades, ou seja, começou haver uma massificação do problema do café, que se iniciou no dia 10 de dezembro de 2008, em uma audiência pública, em Brasília. Fizemos uma audiência pública, que chamamos SOS Café, e colocamos as premissas principais que o setor precisava para solucionar seus problemas.
Informativo Cooparaiso – Como é a história dessa “nova organização”?Carlos Melles – Várias instituições estiveram envolvidas nesse novo movimento prol cafeicultura, como a Frente Parlamentar do Café, que é a representação política do setor; o Conselho Nacional do Café, que representa os produtores, as suas cooperativas, os seus sindicatos e as suas associações. Convidamos as pessoas do lado do governo, do Ministério da Agricultura, o lado do Ministério da Fazenda, das lideranças constituídas e expusemos publicamente o problema. Só depois de um ano de tanta tentativa parece que saímos da inércia. E o governo entendeu pela pressão, pelo trabalho constante, exaustivo, batalhador de todos, dos políticos, dos líderes, dos produtores, das cooperativas, dos sindicatos e aí houve um “pacote” do café.
Informativo Cooparaiso – O governo então tomou algumas medidas favoráveis. Quais foram elas?Carlos Melles - Mais ao final do ano, ele fez, então, um pacote. Esse pacote se resumiu em algumas medidas. Fez um programa de opções de compra de café, dando ao produtor o direito de comprar uma opção para vender ao governo. O programa de opções enxuga, tira do mercado três milhões de sacas de café. Aí a ação das cooperativas foi vital. Nesse programa de opções o produtor vai receber R$ 303 no primeiro lote. Ou seja, a primeira política de reconstituição de estoque feita pelo programa de opções. O outro programa foi aquisição de café. A aquisição de café no preço mínimo de R$ 261, que é barato. É muito ruim o governo comprar esse café por este preço baixo, porque ele vai subir, mas é uma opção, uma alternativa que o produtor também pode exercer. Para isso existem recursos para isso do Funcafé e do orçamento do governo. Isso quer dizer que o governo pode pagar pelas opções. O produtor ainda pode fazer a conversão de suas dívidas - dívidas de custeio, dívidas de armazenamento e dívidas de colheita – em pagamento com café. Podem também alongar a CPR por quatro anos e as cooperativas de crédito estão liberadas a emprestarem mais R$ 200 mil para os produtores, para que eles possam ter uma solução para o seu endividamento.
Informativo Cooparaiso – E qual a análise que o senhor faz desse pacote?Carlos Melles – O pacote foi bom. Ele não foi completo nos valores que queríamos e está sendo incompleto na execução. O governo perdeu a capacidade, a agilidade de comprar café, de receber café, classificar café e isso tudo está trazendo angústia ao setor. Os bancos estão demorando a fazer as renegociações. As cooperativas precisam estar muito mais aliadas ao produtor, mas estão fazendo um trabalho maravilhoso. Elas estão fazendo troca de produtos para o ano agrícola, estão fazendo vendas futuras para um ano muito melhor. Eu sei que as cooperativas hoje são a alma do setor produtivo, porque elas fazem não só para o seu produtor, mas para todo o setor.