Publicado em 19/01/2017 - politica - Da Redação
Endividadas e sem perspectivas de aumento de receitas, prefeituras da Região Metropolitana de Campinas (RMC) estão numa espécie de moratória. Os prefeitos suspenderam pagamentos de fornecedores, cancelaram o Carnaval e estão avisando que, neste ano, será muito difícil fazer a recomposição salarial dos servidores.
Nesta terça-feira, mais duas cidades, Paulínia e Pedreira, anunciaram que decretarão calamidade financeira, medida já adotada por Americana, Hortolândia, Jaguariúna e Valinhos e que está sendo estudada também por Cosmópolis, Santo Antonio de Posse e Vinhedo.
Reunidos nesta terça-feira em Campinas com o prefeito Jonas Donizette, os prefeitos traçaram perspectivas pouco animadoras para 2017. As cidades têm cenários diferentes. Algumas acham que será possível dar reajuste aos servidores, outras não. Mas todas concordam que as receitas nem de longe cobrirão as despesas. Na próxima sexta-feira, os secretários de finanças da RMC vão discutir medidas mais rigorosas de enfrentamento da crise.
Quem ainda não parou de pagar os fornecedores decidiu escalonar pagamentos, priorizando os pequenos credores. Campinas, segundo Jonas, deve R$ 250 milhões dos chamados restos a pagar e vai pagar até o final do mês quem tem até R$ 20 mil para receber. Os outros R$ 200 milhões estão sendo negociados, mas ainda sem perspectiva de pagamento.
O prefeito Jaime Cruz (PSDB), de Vinhedo, baixou decreto nesta terça para tentar o reequilíbrio financeiro da cidade. Parou de fazer pagamentos — a dívida da cidade está em R$ 80 milhões — e está fazendo o levantamento de quem tem a receber e vai publicar no Diário Oficial a relação do fornecedor e da dívida. Quem tem até R$ 20 mil para receber terá o pagamento efetuado em 90 dias. Quem tem valores maiores será pago em 30 meses, mas se o credor der desconto, o pagamento será antecipado. Com essa parcela de credor, a dívida chega a R$ 30 milhões. Além disso, é incerto o reajuste de salário aos servidores. Talvez consiga repassar a inflação, afirmou, mas benefícios como vale-refeição e alimentação não terão reajuste. O Carnaval está fora dos planos, mas a Prefeitura vai garantir segurança, banheiro químico e palco para os blocos que quiserem desfilar.
Boicote
Em Paulínia, o prefeito Dixon de Carvalho (PP) está proibido de contratar funcionários, por conta de decisão judicial, e o resultado é que não há chefes, diretores ou secretários, porque ele não pode sequer colocar funcionários de carreira nos cargos em comissão. Os 397 comissionados foram demitidos no ano passado. “A situação está caótica. Não sei nem quanto ficou de restos a pagar. Um levantamento preliminar aponta R$ 300 milhões. Vou auditar essa dívida para ver se ela é devida, porque já encontramos alguns indícios de irregularidades nos preços praticados. Já suspendi pagamentos e só pago quando tiver esse raio-X”, afirmou o prefeito, que vai decretar calamidade financeira nos próximos dias.
Dixon disse que enfrenta boicote de alguns servidores e que muitas coisas desapareceram. No Theatro Municipal, os sistemas de iluminação e som sumiram. “Pedi levantamento patrimonial a todas as secretarias para saber tudo o que está faltando”, afirmou. O Carnaval, que já chegou a consumir R$ 5 milhões, este ano será bastante modesto, com gasto de R$ 75 mil, para atender a expectativa de festa da população.
O prefeito de Pedreira, Hamilton Bernardes (PSB), disse que fez alguns pagamentos, mas o dinheiro acabou e não vai pagar os credores até que tenha algumas perspectivas de melhora nas receitas. Ele vai decretar calamidade financeira na cidade, porque a situação está caótica. A receita deste ano está prevista em R$ 96 milhões e a dívida da cidade está em R$ 60 milhões, dos quais R$ 28 milhões teriam que ser pagos nesse início de governo. Entre as medidas que adotou está o cancelamento do Carnaval, redução de secretários de 14 para cinco, corte de comissionados e no pagamento de transporte escolar. Além disso, servidores não terão reajuste este ano, já que o comprometimento da folha está em 53,5%, acima do nível prudencial da Lei de Responsabilidade Fiscal.
Jonas diz que vai discutir dissídio ‘no devido tempo’
O prefeito de Campinas, Jonas Donizette (PSB), que comandou uma reunião reservada nesta terça-feira com os prefeitos da região para discutir a crise, disse que a situação é grave para todas as cidades e que, pelo menos, três despesas estão no foco: o gasto com folha de pagamentos — que em várias cidades já extrapolou os limites previstos na Lei de Responsabilidade Fiscal —, os gastos com a Previdência e as demandas judiciais para as prefeituras arcarem com custo de medicamentos caros. “A grande dificuldade são os dissídios, porque temos o entendimento que com a crise econômica será muito difícil recompor os salários. Mas cada cidade tem uma realidade. Em Campinas, o dissídio é em maio e vamos discutir no devido tempo”, afirmou. (Do Estadão Conteúdo)
FONTE: BLOG DO POLLI