Publicado em 23/04/2018 - regiao - Da Redação
O Governo de Minas Gerais está devendo mais de R$ 420
milhões de repasses aos municípios, somente a rubrica referente ao Imposto
Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para a Educação. A quantia se
torna muito maior quando se somam outros valores referentes a Imposto Sobre
Propriedade de Veículos Automotores (IPVA) e ao Fundo de Manutenção e
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da
Educação (Fundeb) e, principalmente, a verba da saúde.
No caso de São Sebastião do Paraíso, apenas as contas
referentes a saúde e de IPVA a quantia que foi deixada de receber ultrapassa a
casa dos R$
15 milhões, conforme apuração de sexta-feira, 20. “O
Governo de Minas está esfolando as prefeituras”, descreve o prefeito Walker
Américo Oliveira, ao protestar contra a situação.
Conforme informações divulgadas pela Associação Mineira
dos Municípios (AMM), durante a semana o pesadelo dos prefeitos mineiros com os
atrasos dos repasses do Transporte Escolar pelo Governo de Minas está de volta.
Após os protestos das prefeituras, as cobranças e
movimentos da entidade municipalista, o Governo quitou os valores referentes a
2017 no dia 15 de fevereiro deste ano. Em 2018, o Estado já está devendo as
primeiras três parcelas do ano — de fevereiro a abril e, com isso, os prefeitos
ficam sem alternativas para manter o transporte dos alunos da zona rural. Quem
sai perdendo, como sempre, é a população.
O Decreto nº 46.956/2016 estabelece em seu artigo 7º o
valor do repasse para o transporte escolar. Os valores devem ser transferidos
em dez parcelas iguais e sucessivas, entre fevereiro e novembro de cada ano.
"Mas não é isso que está acontecendo, o governo não
nos repassa e o atraso já é de três parcelas que estamos sendo obrigados a
arcar", assegura Walker. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB), no artigo 10, inciso VII e artigo 11, inciso VI, estabelece, claramente,
que cabe aos entes federados custear o Transporte Escolar dos alunos no âmbito
de sua competência."Estamos fazendo além das nossas possibilidades dentro
do que foi pactuado", detalha.
O transporte escolar dos alunos residentes na zona rural
é uma responsabilidade compartilhada entre Estado e municípios, levando em
consideração a responsabilidade que delimita a atuação de cada ente, sobretudo
no que diz respeito ao financiamento do programa. Em 2016, o Governo de Minas
instituiu o PTEMG, no qual repassa recursos financeiros de forma direta aos
municípios que aderirem ao programa, para o atendimento do transporte escolar
dos alunos da zona rural matriculados na Rede Estadual.
De acordo com o tesoureiro da Prefeitura de Paraíso,
Adriano Reis de Paula, o débito do Estado com o município facilmente ultrapassa
a casa dos R$ 15 milhões se considerados apenas os repasses não recebidos com o
IPVA e a dívida consolidada com a Saúde. “Temos a receber cerca de mais de R$
2,8 milhões referentes ao IPVA e com a Saúde ultrapassa a casa dos R$ 12
milhões”. Ele ressalta que nestas somas não estão contabilizados valores
referentes ao transporte escolar, além dos contantes atrasos quanto ao montante
que deveria ser recebido em relação ao ICMS para o Fundeb.
O descompromisso do governo estadual com todos os setores
desencadeou greves, manifestações e ações na Justiça e no Ministério Público.
Após assumir uma crise financeira, o atual governo confiscou depósitos
judiciais, passou a escalonar, desde fevereiro de 2016, os salários e o 13º
salário dos servidores – quitados também com atraso –, deixou de pagar os
fornecedores do Estado, reteve os recursos do ICMS e do IPVA destinados aos
municípios mineiros, incluindo aí verbas para a saúde e o transporte escolar das
prefeituras. O Estado deixou ainda de repassar aos bancos os valores relativos
a empréstimos consignados, descontados direto nos contracheques dos servidores
estaduais.
Não bastasse as prefeituras, no final de março a
Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) denunciou que o Estado deve um
montante de R$ 300 milhões, referente a dois repasses destinados ao Orçamento
da Casa.
“Esta situação inviabiliza qualquer governo e isso é o
que acontece conosco e com as prefeituras das cidades mineiras, comprometendo
todo o planejamento que é feito e acima de tudo prejudicando a gestão do nosso
governo”, protesta o prefeito Walker Américo.
Desequilíbrio
— Nesta semana o Governo de Minas
repassou a diferença do ICMS da semana passada, mas os valores do imposto referentes
à cota-parte dos municípios mineiros do Fundeb, continuam sendo depositados com
atrasos constantes. Ainda restam R$117 milhões que representa 75% do fundo que
deveria ser transferido aos cofres municipais em 10 de abril. Somados com o que
deveria ser repassado dia
17 e não foi recebido a verba de R$ 303 milhões, a dívida
do Estado com as Prefeituras chega a R$ 420 milhões, neste quesito.
A AMM, por meio de seu presidente e prefeito de Moema,
Julvan Lacerda, ressalta que tem feito constantes cobranças inclusive
judiciais, mas a falta de compromisso do governo com os municípios mineiros
continua. “Os repasses do ICMS referentes ao Fundeb afetam diretamente a
educação dos municípios. São recursos usados para o pagamento de profissionais
do magistério e outras despesas de manutenção e desenvolvimento com o ensino
dos municípios. Isso, com o não repasse do transporte escolar está
inviabilizando a educação nos municípios mineiro. Um verdadeiro absurdo”,
desabafa Julvan.