Publicado em 26/10/2018 - regiao - Da Redação
As
educadoras poços-caldenses Nanci de Moraes e Silvana Maria Jacinto participaram
do X Congresso Brasileiro de Pesquisadores Negros – X COPENE, representando a
Autarquia Municipal de Ensino (AME), juntamente com a professora Maria José de
Souza (Tita). O evento, realizado de 12 a 17 de outubro, em Uberlândia/MG, é
uma iniciativa da Associação Brasileira de Pesquisadores/as Negros/as – ABPN,
Universidade Federal de Uberlândia e Consórcio Nacional de Núcleos de Estudos
Afro-brasileiros – CONEABs.
O COPENE é
um espaço de divulgação, circulação e promoção da produção científica dos
pesquisadores negros e de estudiosos das temáticas vinculadas à população
negra, sob a perspectiva do diálogo entre os povos africanos e da Diáspora, com
vistas aos debates e reflexões acerca da intelectualidade negra nos diferentes
campos e áreas do conhecimento científico e do saber, e também sob a
perspectiva da resistência, do enfrentamento e do combate às diversas formas de
racismo, de forma particular a segregação dos negros e negras nos espaços
sociais e na produção acadêmica.
Cerca de
4.000 pessoas - entre pesquisadores mestres e doutores e estudantes de
graduação e educação básica, com representantes da África, América do Sul e
Europa – participaram do X Congresso Brasileiro de Pesquisadores Negros. Esta
foi a primeira vez que a AME participou do evento acadêmico.
“Julgamos
importante participar do Congresso pensando na situação em que estamos vivendo
no país, neste momento em que temos que batalhar pelos direitos que já
conquistamos. Só chegamos a ter o COPENE através dos movimentos negros
iniciados nos anos 70 e, agora, vivemos um momento de perda de direitos. Por
ser militante, fiquei encantada ao ver o resultado dessa militância porque, na
minha época, podíamos contar os estudantes negros em universidades. Fiquei
muito feliz em me deparar com jovens negras e negros apresentando seus projetos
de mestrado e doutorado, se apoderando desse espaço universitário, desse espaço
de educação”, destaca a diretora da Autarquia Municipal de Ensino, Nanci de
Moraes, que é militante do movimento negro.
Já a
educadora Silvana Jacinto ressalta que é necessário ampliar a participação dos
negros nas atividades acadêmicas, inclusive com a citação de pesquisadores que
desenvolvem trabalhos de alta qualidade em suas áreas de atuação, por exemplo.
“Participar do congresso nos faz refletir e dialogar sobre o movimento negro e
sobre os movimentos sociais que também caminham na mesma direção e estão na
mesma luta, na construção e na conquista de espaços públicos. O que fica claro
é que a educação é o caminho para o cumprimento das leis referentes à igualdade
racial, começando desde a educação infantil até o ensino superior”, enfatiza.
“É uma reafirmação da nossa consciência de que somos negros e continuamos a
lutar”, completa.
Durante a
realização do COPENE, foi registrado um ato racista na própria Universidade
Federal de Uberlândia, com a pichação da frase “Pretaiada vai voltar para a
senzala” em um dos banheiros da universidade. O grupo de pesquisadores que
participava do congresso organizou uma caminhada até a Reitoria da UFU, para
exigir providências em relação ao fato. A universidade registrou boletim de
ocorrência e informou que dará encaminhamento para instauração de sindicância
interna para identificação e punição dos responsáveis pelo crime. A Polícia
Federal foi acionada.
De acordo
com a diretora da AME, a participação no Congresso foi importante também para
subsidiar as discussões que ocorrerão no município. Ela informou, ainda, que a
proposta é realizar na cidade um encontro com todos os pesquisadores negros e
não negros que desenvolvam temática antirracista, de humanas e exatas das
faculdades e universidades de Poços de Caldas.
“Precisamos falar sobre as questões do racismo que, apesar de tudo, ainda imperam no país. Temos clareza de que vivemos num país de herança escravocrata, que ainda não assume o preconceito. E só é possível transformar essa realidade a partir do momento em que assumimos que o racismo existe. Enquanto isso, vivenciamos essa falsa democracia racial, com direitos cerceados, na qual ainda não ocupamos todos os espaços que poderíamos ocupar. A própria universidade é um exemplo disso”, avalia. “Precisamos estar atentos para que os direitos da população negra já conquistados não se percam e para que possamos ver cada vez mais negras e negros dentro das universidades, especialmente nas públicas”, finaliza a diretora da Autarquia.
ASCOM