Publicado em 01/02/2019 - regiao - Da Redação
Desde a terça, 30, a Prefeitura de Poços de Caldas é a proprietária do
monotrilho da cidade, um empreendimento particular inaugurado há 18 anos,
originalmente concebido como transporte de massa, mas que funcionou poucas
vezes, como um equipamento de turismo.
A decisão
foi tomada durante processo judicial, após audiência de conciliação, instrução
e julgamento, na tarde de terça, 29, quando a empresa J Ferreira Ltda,
responsável pelo monotrilho, renunciou ao contrato de concessão, abrindo mão de
qualquer indenização ou pagamento pelo que investiu no empreendimento ao longo
dos anos.
Na tarde
de quarta, 30, durante coletiva à imprensa, o prefeito Sérgio Azevedo destacou
a ação do proprietário da empresa, Joel Junqueira Ferreira, em repassar toda a
estrutura para o município, antecipando o processo em 30 anos. Agradeceu ainda
ao juiz dr Edmundo Lavinas Dias e ao promotor dr Sidnei Boccia, que se
empenharam durante anos para a solução deste impasse, que agora se resolve,
trazendo um grande presente para a cidade. “Graças a todos vocês, trouxemos o
futuro para o presente. Agora, poderemos tentar uma solução para este
equipamento, que poderá ser utilizado para o fim ao qual foi projetado, para
transporte de pessoas, integrando-o ao projeto de Mobilidade Urbana de Poços de
Caldas. Outra opção é incorporá-lo à licitação do transporte público, que
acontece no final do ano. Podemos ainda incorporá-lo ao processo de
terceirização dos pontos turísticos, ou até mesmo transformar a estrutura
elevada em uma pista de caminhada. Tudo isso dentro do grande projeto de
revitalização da Av. João Pinheiro. Agora essa decisão cabe a nós, em consulta
à comunidade e também á Câmara de Vereadores”.
O prefeito
informou que, de imediato, irá contratar uma empresa especializada para emissão
de um laudo técnico, atestando a segurança da estrutura, possibilitando
investimentos. Disse ainda que irá entrar em contato com empresários do setor
de transporte de equipamentos semelhantes, para que possam visitar Poços e
tenham contato com todo o potencial da cidade e do investimento. Sérgio Azevedo
sinalizou a demolição da estrutura do monotrilho em último caso, se todas as
opções anteriores não surtirem efeito.
O promotor
de Justiça, dr Sidnei Boccia, concorda com o prefeito e ressalta a grande
participação do Judiciário em todo o processo do monotrilho de Poços de Caldas.
“Hoje é um dia histórico para Poços de Caldas, quando a cidade recebe de
presente, numa colaboração do sr Joel Junqueira, que cedeu o monotrilho para a
Prefeitura , abrindo mão de todo valor investido. E o monotrilho vem num
momento muito importante, quando se discute o Plano de Mobilidade Urbana,
amplamente discutido com a comunidade, dentro deste governo que tem sido muito
participativo. Hoje a Prefeitura tem a autonomia de decidir o melhor uso para
este equipamento e tenho certeza que será uma decisão muito bem
conduzida”.
A
entrevista coletiva contou ainda com as presenças do juiz dr. Edmundo José
Lavinas Jardim, do empresário Joel Junqueira Ferreira, e seu advogado José
Carlos da Silva Cardillo, do vice-prefeito Flávio Faria, dos vereadores Álvaro
Cagnani, Ricardo Sabino e Pedro Magalhães, além de secretários municipais e
imprensa.
Conciliação
Na decisão
da audiência de conciliação, a empresa ainda se comprometeu a terminar um
reparo iniciado em dezembro numa das pilastras de sustentação na av João
Pinheiro, num prazo de 20 dias, que deve ser antecipado para a próxima semana.
A partir da data do acordo, todo o acervo estrutural, compreendendo estrutura
física, vigas, estações, pilares a composição estacionada no Terminal de Linhas
Urbanas, as instalações da composição, além da subestação elétrica, situada na
av João Pinheiro, 400 serão entregues ao município, que também receberá todas
as plantas e projetos existentes.
As partes
abriram mão de qualquer indenização, renunciando a concessionária o direito à
caução ofertada quando da concessão, transferindo o referido crédito em favor
do Município. O município foi representado pelos procuradores Fábio Camargo de
Souza e Mário Marques de Oliveira.
História
Em 20 de
agosto de 1981 a Câmara Municipal aprovou e o prefeito Ronaldo Junqueira
sancionou a lei 3.119, que autorizou a concessão, mediante concorrência
pública, para exploração de transporte de massa, por via elevada, com prazo de
concessão estabelecido em 50 anos, sem possibilidade de prorrogação e contados
a partir da inauguração.
Da
inauguração, logo após dada a concessão, o monotrilho de Poços de Caldas, que
era o único a funcionar no país no sistema ferroviário de transporte de massa,
circulou poucas vezes, apenas como testes. Dos 30 km previstos, apenas 8 km
foram executados, e o trem passou a funcionar como atração turística.
O contrato
estabelecia um prazo de 10 anos para que o monotrilho fosse inaugurado.
Em 1991,
houve um aditamento do contrato, concedendo um prazo de mais 10 anos para
conclusão.
Em agosto
de 2000, foi oficialmente inaugurado, durante a realização da Festa UAI, nas
proximidades do estádio Ronaldo Junqueira. O transporte funcionou poucas vezes
até sofrer uma pane onde 19 pessoas precisaram ser retiradas pelo Corpo de
Bombeiros. Em 2003, duas pilastras desabaram e desde então, nunca mais
funcionou.
Um impasse
entre a construtora e a Prefeitura impediu que a edificação voltasse a
funcionar. A concessionária culpava a administração pública pela queda dos
pilares de sustentação e solicitava uma análise da estrutura ainda existente.
Em 2012, a Prefeitura compôs uma comissão de engenheiros para elaborar um
parecer técnico sobre as condições estruturais do monotrilho.
Em 2014, o
Ministério Público tentou fazer um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) entre
a Prefeitura e a empresa J. Ferreira para resolver o impasse, mas o acordo não
foi assinado e o processo ficou na Justiça.
Em 2016, a
Justiça determinou que a Prefeitura realizasse obras de contenção dos taludes
ao longo da Av. João Pinheiro e criasse planos de contingência para evitar a
ruína da estrutura. A última ocorrência foi em 2018, quando parte da estrutura
de uma pilastra começou a ceder e teve que passar por manutenção preventiva, a
cargo da empresa.
A decisão desta terça, encerra o caso, e transfere para o Poder Público Municipal a destinação de toda a estrutura do monotrilho.
ASCOM