SEGURANÇA: Tráfico gera debate intenso em audiência sobre segurança pública em Paraíso

Em todo o momento da reunião foi lembrado a necessidade de um batalhão de fronteira no município, além de redução de recursos destinados a segurança no país

A audiência sobre segurança pública em São Sebastião do Paraíso, na quinta-feira, (3/9), na Câmara do Vereadores, foi palco de intensa discussão sobre tema que girou em torno do tráfico de drogas no município. A reunião foi uma convocação da Casa em solicitação ao pedido do vereador Marcos Antônio Vitorino (PSC), o Marcão, atendido pela Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa de Minas Gerais.

Na reunião, discutiu-se  que o município vem sofrendo frente ao comércio de entorpecentes, e ao final da reunião foram feitos requerimentos destinados a diversos órgãos públicos para tentar solucionar parte do  problema, em especial, envolvendo o crack. Levantou-se também a necessidade de um batalhão de fronteira (de divisa) e medidas socioeducativas para preparar os jovens sobre consequências do uso das drogas.

Durante a audiência o presidente da Comissão de Segurança Pública, o deputado estadual Sargento Rodrigues, salientou o problema que o país vem sofrendo frente a uma “epidemia de crack” e relatou abandono do governo federal, principalmente em relação ao patrulhamento das fronteiras do país e rodovias, ocasionando o avanço do tráfico no Brasil. O deputado ainda ressaltou a fama de Paraíso e região com relação ao que definiu como “rota caipira do tráfico”, um termo que disse já conhecer mesmo não tendo atuado como militar no interior mineiro.

 

“Os impactos que o comércio ilícito de drogas causa em números de crimes e violência é preocupante. Preocupação esta da Polícia Militar, que faz policiamento preventivo e repressivo; da Polícia Judiciária; do Ministério Público; do Poder Judiciário; do prefeito; dos vereadores; da Guarda Municipal e de todos os envolvidos com o tema (segurança pública). É um tema bastante complexo e precisa do empenho de todos nós. Vencer uma guerra em relação ao uso e tráfico de drogas não é uma medida que deve ser adotada de forma isolada”, destacou o presidente da comissão.

Rodrigues assinalou, também, as consequências que ocasionam do tráfico como o avanço no consumo de drogas, furtos cometidos às residências, arrombamentos, formação de quadrilha, roubos a transeuntes, roubo à mão armada à estabelecimentos comerciais e motoristas, estelionato e homicídios.

Destacando ainda que o problema envolvendo comércio ilícito de drogas no país não é um tema atual, e sim uma questão que já vem se arrastando desde meados da década de oitenta, o deputado estadual pede que haja uma união de esforços entre o Ministério Público, a Polícia Civil e a Polícia Militar, na criação de uma força tarefa permanente ao que se diz respeito ao combate ao tráfico.

“Não existe outra forma, a não ser a união das forças de segurança pública. Que o Ministério Público e o Poder Judiciário facilitem o trabalho das polícias; que tenham mais agilidade naquilo que lhe são solicitados porque esta é uma guerra difícil de ser travada, principalmente nesta região que é uma região fronteirista”, assinalou. Deputado Sargento Rodrigues salientou ainda o apoio que a Prefeitura deve dar à PM e a PC, seja cedendo servidores, seja fazendo convênios, ajudando em despesas que as forças de segurança têm no município. Ainda, sobre o papel das Prefeitura, o deputado destacou que “atuação no campo da prevenção social são medidas muito eficazes e que todas as prefeituras devem adotar”.

O deputado estadual Antônio Carlos Arantes (PSDB), também ressaltou a importância da união dos esforços para combate o tráfico e lamentou redução de verbas destina à segurança pública no país. “Vamos continuar lutando por tudo o que for positivo para a segurança pública. Não podemos deixar de insistir na necessidade de garantir a integridade de nossas crianças e dos programas de prevenção”, disse. Arantes afirmou ainda que a comissão vai tentar mudar situação relacionado à violência resultante do tráfico de drogas na região.

O vereador Marcão relatou a importância da audiência e a buscas de soluções para os problemas que o município vem sofrendo com relação ao tráfico. Ele pediu apoio as autoridades e ainda relatou a relação que tem com mães cujos os filhos são dependentes de crack e constantemente pedem sua ajuda para internação destes jovens.

“Nós não suportamos mais ver tantas mães e pais procurarem vereadores pedindo ajuda para uma internação e até mesmo por interversão da PM para prender esses jovens, pelo simples fato de não aguentar mais tanto sofrimento. Diante disto, preocupado, nós pedimos essa audiência para buscar um caminho e ajudar essas famílias, não apenas de São Sebastião do Paraíso, mas de toda a nossa região, que tem enfrentado o mesmo problema”.

O vereador ressaltou ainda o trabalho da Polícia Militar e as mudanças que aconteceram no município com a troca de comando. Disse ainda que é preciso mais investimentos na PM e, principalmente, reforços nocontingente. O vereador parabenizou a Guarda Municipal que vem auxiliando no trabalho da Polícia Militar em Paraíso. 

 

AUMENTO E COMBATE A CRIMINALIDADE 

O comandante da 20ª CIA de Polícia Militar Independente, tenente coronel Sandro, apresentou um balanço da situação de crimes que vêm acontecendo em Paraíso, fazendo um comparativo em relação ao primeiro semestre de 2014 com 2015. De acordo com ele, o aumento da criminalidade no município é perceptível, principalmente com relação aos crimes violentos contra o patrimônio. Conforme os números, de 2014 para 2015 houve aumento dos índices de cerca de 38%, ou seja, de 78 crimes violentos em 2014, este ano foram contabilizados 108 (no primeiro semestre). Segundo o comandante, esse número representa um média de 18 crimes ao mês, que diz ser relativamente alto.

“Não posso falar sobre estratégias adotadas no passado, posso dizer sobre as estratégias de agora, quando assumi o comando.  Nesses dois últimos meses percebe-se uma redução nos crimes violentos, passando de 18 para 13 ao mês. Com relação ao roubo, que analisamos como sendo a principal fonte dos crimes violento em Paraíso, houve um aumento de 42% do ano passado para este ano (comparativo do primeiro semestre). Uma média de 16,83 roubos mensais na cidade. No entanto, já houve redução considerável, esse número caiu para nove crimes ao mês”, avaliou o tenente coronel Sandro.

O comandante disse ainda que neste ano foi registrado apenas um homicídio, contra três em 2014, mas destacou que não se pode falar em dimensões quando se trata de uma vida. O tenente também destacou que tais crimes (homicídios) não tem relação direta com o tráfico, sendo em sua maioria crimes passionais.

Sobre os furtos, o comandante disse que também houve aumento considerável. “Há uma média de 110 furtos por mês em Paraíso somente neste semestre. Furto a residência houve um aumento de 77% e de veículos 28,57%. Especificamente sobre o tráfico fizemos 138 registros em 2014 e, neste primeiro semestre, 102 registros. Sobre apreensão de drogas, nos últimos 3 anos foram quase 200 quilos, principalmente de maconha”, disse. Sobre furtos de celulares, que classificou como a principal modalidade de delito ligado a troca de entorpecente, o comandante relatou que somente neste semestre foram registradas 130 ocorrências.

O comandante ainda relatou medidas que vêm sendo adotas desde julho para tentar reduzir os índices de criminalidade no município, principalmente de combate ao tráfico e destacou a união de forças entre vários setores em Paraíso para manter “a paz social”.  Conforme ele, das medidas para diminuir a criminalidade no município, foi adotado, por exemplo, o retorno do patrulhamento no distrito da Guardinha. O tenente coronel Sandro disse ainda que vem firmando parceria junto ao Ministério Público e o Poder Judiciário para conseguir a aquisição de vídeo monitoramento para o distrito, onde cerca de quatro câmeras devem fazer este trabalho, sendo controladas remotamente da sede da corporação, além do policiamento.

O tenente disse que está estudando a possibilidade da aquisição de um drone no valor de R$13 mil para auxiliar o trabalho da PM a buscas em locais de difícil acesso. A PM também tem feito o levantamento de pontos de tráfico de droga além de estar aumento, principalmente, a abordagem a motocicletas (de acordo com ele o veículo vem sendo usados frequentemente em ações criminosas, não apenas em Paraíso, mas em muitas outras regiões).

O comandante ainda destacou que houve a revitalização do tático móvel e motos que são usadas em operações, relatando um aumento de prisões em flagrantes com relação ao tráfico de drogas; além da criação da rede de postos e vizinhos protegidos.

Ao longo da reunião, houve também a palavra do chefe do 18º Departamento de Polícia Civil (DPC) de Poços de Caldas, Bráulio Stivanin Junior, que destacou que ações das forças de segurança não tem sido suficientes para combater o tráfico. Ele levantou discussões em torno da legalização de entorpecentes, ao qual relatou ser contrário. “Devemos analisar todos os pontos para encontra medidas eficazes. Sobre o tráfico em si, eu poderia classifica-lo como um crime secundário, porque na verdade o verdadeiro motivador do tráfico é o mercado consumidor”, avaliou ele.

Bráulio ressaltou a necessidade de se focar os esforços neste “mercado consumidor” para que haja a redução do tráfico, sugerindo que o estado deva investir maciçamente em prevenção social. O chefe do 18º DPC destacou ainda a problemático do sistema carcerário, usando como exemplo Paraíso, cujo o sistema prisional com capacidade para 128 já ultrapassa dos 270 presos.

Ainda sobre a questão do tráfico, o titular da 3ª Promotoria de Justiça, o promotor Rômulo Aguiar Generoso, ressaltou que o Brasil está ligado a países narcotraficantes como Bolívia, Venezuela e Paraguai. “Nossas fronteiras estão sendo abertas para o tráfico de drogas e armamentos. Parece que há uma tentativa de desmacular a população brasileira. Nós temos no país 4 milhões de usuários de crack. É uma guerra perdida”, relatou.

Generoso ressaltou a extinção dos postos policiais em pontos estratégicos do município como a BR MG 050 eBR 265, cujas reativações seriam importantes para o combate ao tráfico, além da criação de um posto que liga Paraíso a São Tomás de Aquino, por decorrência das rotas de fugas de criminosos. O promotor falou ainda sobre a questão de “baixas” envolvendo criminosos e destacou que em sua promotoria já chegou cerca de 4 inquéritos envolvendo homicídios cometido por policiais a assaltantes aos quais “não foram para a frente” porque a promotoria entender que “os policias estavam no cumprimento do seu trabalho”.

DEMANDAS

O vereador José Luiz Corrêa (PT),  pediu auxílio da Guarda Municipal nas portas das escolas da rede estadual de ensino. De pronto, o deputado Sargento Rodrigue aprovou requerimento que foi destinado ao prefeito Rêmolo Aloise. Conforme Corrêa o pedido é em face a ação de traficantes que aguardam nas portas destas escolas em horário de entrada e saída de alunos para aliciar jovens ao consumo das drogas.

Corrêa cobrou manutenção no monitoramento de câmera no município e alertou ainda sobre providências a serem tomadas junto a empresa que faz a manutenção da iluminação pública em Paraíso.

A vereadora Dilma Aparecida de Oliveira (PV), também fez cobranças em relação a monitoramento por câmeras e sugeriu que houvesse a instalação nos pontos de saída da cidade. Pediu investimento na educação e destacou a necessidade de investimentos em ações socioeducativas.

Medidas educativa também foram sugeridas pelo vereador Jésu Paulo Araújo (PHS), que ressaltou a importância dos projetos de aulas em período de tempo integral em algumas escolas, sugerido a ampliação do projeto a toda rede de ensino.

O vereador Walker Américo de Oliveira (PTB), voltou a destacar a necessidade de reativação dos postos policias nas divisas de estado; o pedido foi lembrado em todo o momento da reunião. O vereador destacou também o efetivo trabalho das forças policias que atenuam a criminalidade na cidade, mas salientou a importância de não se baixar a guarda diante da redução dos índices. Walker ressaltou a falta de servidores das secretarias, tanto criminal quando no Ministério Público, fato que criticou atrasar o trabalho em relação a segurança pública no município.

O vereador Ailson Aparecido do Nascimento (PT), também fez cobranças para o distrito da Guardinha, que apesar de agora contar com patrulhamento efetivo, salientou a necessidade de aumentar o número de policias atuantes na região.

PROVIDÊNCIAS

O deputado Sargento Rodrigues criticou a acentuada queda de investimentos na segurança pública por parte do Governo Federal, queda de investimento que ultrapassava a casa dos milhões em 2014 para apenas poucos milhares em 2015; número relacionado apenas a verba de custei da Polícia Civil, necessário para manutenção de viaturas e abastecimento.

Ele encerrou reunião com apresentação de áudio de entrevista do secretário de Planejamento e Gestão de Minas Gerais, Helvécio Magalhães, onde fala sobre tomada de medidas cautelares a respeito da crise econômica e déficit de arrecadação estadual. O secretário afirmou que não há previsão para contração de concursados da Polícia Civil e governo terá que “aguardar comportamento da receita nos próximos meses”.

Compuseram a mesa de trabalhos o prefeito Rêmolo Alois-e; o presidente da Câmara Municipal, Jerônimo Aparecido da Silva; o comandante da 20ª Companhia de Polícia Militar Independente de Paraíso, tenente coronel Sandro Wesley de Oliveira; o chefe do 18º Departamento de Polícia Civil de Poços de Caldas, Bráulio Stivanin Junior; o delegado regional da Polícia Civil, Marcos Roberto Piedade; o promotor de justiça Rômulo Aguiar Generoso; o comandante da Guarda Municipal de Paraíso, Miguel Felix de Souza; o sub-comandante da 20ª CIA PM.IND, major Marcos Antônio da Silva; e o deputado estadual Antônio Carlos Arantes; além do requerente da sessão, Marcos Vitorino.

FONTE: João Oliveira - JORNAL DO SUDOESTE - SAO SEBASTIAO DO PARAISO