Faz alguns dias o Conselho Federal de Medicina aprovou um novo Código de Ética. O texto anterior era de 1.988 e precisava mesmo de uma boa revisada. Ao menos em parte, estava defasado no tocante aos direitos e deveres dos médicos. São regras que devem ser sempre claras e atuais em benefício de uma assistência de qualidade aos cidadãos.
O novo Código de Ética cumpre seu papel, dando mais transparência ao exercício da medicina. Porém, todos sabemos, é apenas um instrumento para a construção de uma engrenagem de saúde segura, eficaz e respeitosa com seus recursos humanos, entre eles os médicos, e também com os pacientes.
Melhorar o atendimento no Brasil é hoje um desafio que requer muitas mudanças e uma conscientização geral da sociedade. Os médicos fazem sua parte quando modernizam o Código de Ética. Mas o que mais pode ser feito e quem tem a obrigação de fazê-lo?
Começamos afirmando, sem medo de errar, que vontade política e compromisso social das autoridades constituídas são fundamentais nesse processo. Por exemplo: o governo não pode continuar se omitindo frente à abertura indiscriminada de escolas médicas sem a estrutura necessária para um ensino de excelência.
Faculdades ruins, sem hospital-escola, com corpo docente de baixo nível, problemas curriculares, entre outros, prestam um desserviço à população. Formam mal e colocam na linha de frente da assistência profissionais sem base suficiente.
A culpa, é óbvio, não é do recém-formado que pagou uma fortuna para alcançar o sonho de ser médico, de servir ao próximo. É, sim, de um sistema que possibilita que a visão mercantilista se sobreponha aos interesses sociais; e das autoridades governamentais que não atuam com rigor para mudar esse quadro.
Esse é apenas um dos empecilhos que impossibilitam uma melhor performance do Brasil na área da saúde. Podemos listar aqui outros, mais ou tão graves, como o sucateamento de hospitais, as péssimas condições de trabalho, a remuneração vil nas áreas pública e suplementar, e por aí vai.
É mister, portanto, que todas essas lacunas sejam olhadas com atenção e que se tome medidas imediatas para solucioná-las. A saúde do país clama por políticas consistentes para a reformulação de suas estruturas, para a organização de um plano de carreira, cargos e salários que esteja à altura da grandeza da ação dos profissionais de medicina, e por um olhar de respeito integral aos pacientes.
A construção de um Brasil, de fato, digno de orgulho passa necessariamente pela valorização de médicos e pacientes.
* Geraldo Rocha Motta Filho, membro titular da Sociedade Brasileira de
Ortopedia e Traumatologia, SBOT