Publicado em 14/12/2019 - cesar-vanucci - Da Redação
Mas
que horror, Santo Deus! Ver ressuscitados, volta e meia, temores provocados por
tremores nas minas onde se processa predatória exploração das incomensuráveis
jazidas minerais do rico subsolo das Gerais! Quando é que cessará o terrível
pesadelo que alveja, impiedosamente, a tranquilidade dos lares de milhares de
pessoas residentes nessas áreas de risco? O que vai ser preciso fazer, em
termos de tecnologia avançada, para espantar de vez as apavorantes perspectivas
de rupturas letais dos diques de contenção dos rejeitos? Como é que fica, de
outra parte, esta flamejante questão das responsabilidades técnicas e de gestão
administrativa diante das irreparáveis perdas comunitárias? Perdas originárias
de obras de represamento mal concebidas e que podem se esfacelar, como já
aconteceu, eliminando vidas preciosas e destruindo cenários exuberantes de vida?
Refletir sobre tudo isso, sobre delitos ambientais perpetrados em função de
desmesuradas ambições por ganhos, é imprescindível. Quando pouco para acautelar
respeitáveis interesses coletivos nas liberações de empreendimentos com
implicações no meio ambiente.
Tremor
de magnitude de 3,2 na escala Richter, com epicentro em Belo Vale, região
central das Alterosas, território povoado de barragens de duvidosa segurança,
gerou no último dia 26 de novembro compreensível pânico. Outra vez mais. Milhares
de moradores da histórica Congonhas do Campo reviveram dramáticos momentos de
sobressalto. O abalo sísmico mobilizou o pessoal da Defesa Civil. Nasceu daí
expressa recomendação às empresas de exploração mineral com atuação na área
para que reforçassem o monitoramento de todas as estruturas de rejeitos de
minério das cercanias. O indesejável evento permitiu fosse relembrado algo
assaz desconfortável: neste ano de 2019 já foram registrados naquelas bandas 43
tremores (bota tremor nisso!), sendo que o de agora, dentre eles, ganhou
destaque por ter sido o de mais forte intensidade.
Está
claro que a peremptória manifestação dos setores técnicos incumbidos do
monitoramento, no sentido de que tudo estaria sob controle, não foi de molde a
desfazer a intranquilidade. A barragem conhecida por “Casa de Pedra”, pra ficar
no exemplo mais frisante, pertencente à CSN Mineração, com 50 milhões de metros
cúbicos de mortíferos resíduos, localizada a apenas 300 metros de bairros
residenciais, acha-se enquadrada em matéria de riscos na assim denominada “classe
6”. No tocante a danos potenciais, trata-se da classificação mais elevada. Não
há que ignorar, por outro lado, que sua estrutura vem acusando problemas de
estabilidade desde 2013.
Os
registros de que o abalo mencionado foi “moderado”, podendo vir a ser
acompanhado de outros, as chamadas “réplicas”, mas (ora, veja, pois!) “com grau
inferior ao do primeiro (abalo)”, não arrefecem, obviamente, os temores gerais quanto
aos tremores constantes. Inevitável, aqui, tétrica associação de ideias. Em
Mariana, duas horas antes do Fundão despencar, foram detectados também alguns
abalos sísmicos. Só que... menores na escala Richter (2,6)!
Esse
quadro perturbante relacionado com as descomunais crateras de rejeitos
espalhadas por aí, fazendo reféns do desassossego imensas coletividades, deixa
suspensas no ar martirizantes interrogações. Vai dar, nalgum instante, para os
indefesos e perplexos cidadãos que vivem nas áreas afetadas por riscos tão
terrificantes dormirem tranquilos com um barulhão desse tamanho? A mesma
impactante pergunta, já aí soando como um libelo acusatório, carece ser
igualmente formulada com referência àqueles que, em diferenciadas
circunstâncias, se deixaram emaranhar por decisões danosas e imprevidentes, quer
como gestores de negócios altamente rendosos, quer como técnicos, nas práticas
predatórias levadas a cabo na região sob ameaça? Será que vai dar pra eles
dormirem com peso tão avolumado na consciência?
* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)