Publicado em 30/10/2017 e atualizado em 08/01/2018 - cesar-vanucci - Da Redação
“É preciso estancar essa sangria!” (Como, aliás, proclamou o senador Romero Jucá, treze inquéritos na cacunda)
O teor do alarido popular é inconfundível. As ruas suspeitam de uma escabrosa trama. Apoderadas de aturdimento e frustração com relação ao que rola diante de seus olhares, as pessoas sentem na boca “um gosto de cabo de guarda-chuva”, como era costume dizer-se em tempos de antanho. Tão numerosos quanto reclames de liquidação de mercadoria de magazine na televisão, acumulam-se, dia após dia, os indícios de uma azuretada articulação pra livrar a cara da moçada envolvida em nauseantes bandalheiras.
Já não são mais apenas as tradicionais confabulações de bastidores. O pudor foi jogado às traças por muita “gente boa, acima de qualquer suspeita”... Conspira-se às claras. Opiniões estapafúrdias e tendenciosas ganham letra de forma. Doutas interpretações jurídicas, danadas de flexíveis, acompanhadas de gaguejantes decisões, declarações, depoimentos, discursos e entrevistas com frases ambíguas expõem as caprichadas articulações em curso com o fito de transmutar provas perturbadoras em alegações inconsistentes. A pequena multidão empenhada na alteração radical dos rumos das coisas não pode ser subestimada. É composta de personagens com indiscutível poder de influência em variados setores. Está chamando a si a inglória incumbência de dourar suficientemente a pílula, de modo a que possa ser deglutida, sem choro nem vela, garganta abaixo da desnorteada sociedade. Nada de ilusões: o pessoal é competente. Saberá, como dois mais dois são quatro, a tempo e a hora, dirimir controvérsias, ajeitar impasses. Matreirice e pragmatice há de sobra. Mesmo o aspecto que se desenha mais complexo no processo orquestrado - o de como fazer para contemplar a todos os interesses e conveniências em jogo num pacto geral – acabará fatalmente contornado.
É sabido que, no começo do começo de tudo, muita gente concebia ficasse o levantamento das malfeitorias praticadas circunscrito a uma ala específica de transgressores. Dando nomes aos bois: a “banda podre” do petismo. Nasceu assim, vale relembrar, a “convicção”, marotamente disseminada, de que o afastamento puro e simples da cena política das principais lideranças da agremiação em foco equacionaria, cabal e definitivamente, a tormentosa questão da corrupção institucionalizada. Os desdobramentos da história demonstraram que o buraco era infinitamente maior do que supunha a patota empenhada em enquadrar apenasmente agentes públicos e empresários inescrupulosos da primeira leva de acusados. À medida que as investigações avançavam, o elenco dos beneficiários no degradante esquema de propinas passou a ser “reforçado” por novos “categorizados” atores. Não poucos deles, por sinal, farisaicamente acomodados a princípio na posição de destemerosos mocinhos a combaterem galhardamente desalmados vilões. Os vilões eram os adversários políticos, tanto quanto eles próprios, escancarou-se depois, enredados nas maracutaias sem fim. As revelações trazidas a furo documentaram que, na verdade, quase nenhuma sigla partidária ficou de fora do balaio de imundícies. Foi assim que, de repente, a opinião pública deu-se conta de que o grau de participação na conspirata contra o patrimônio público de membros do time de denunciantes e acusadores era de monta igual, ou até mesmo superior, a dos integrantes das primeiras levas denunciadas.
Um dos acusados, falando obviamente por todos, bradou aos quatro ventos: “É preciso estancar essa sangria!” Soou como um chamado à mobilização. A preocupação pela “blindagem geral” atraiu interesse em quase todas as legendas. Conveniências fisiológicas interpartidárias geraram conversações seguidas de transações, no atacado e no varejo, destinadas a neutralizar imprevisíveis reações.
E, agora, José? Como fazer pra arranjar uma fórmula “harmoniosa”, mode que poder assegurar a todos os “impolutos cidadãos” flagrados com a mão na botija do dinheiro público, não importando filiação partidária, nada a ver com as alardeadas “diferenças ideológicas” – já que todos, no conceito popular, são considerados “farinha do mesmo saco” –, a almejada chance de escaparem incólumes, ou chamuscados o menos possível nessa baita encrenca que arranjaram pra todos nós? Enquanto “privilegiadas cabeças pensantes” se consagram a bolar o acordão, as ruas, alvejadas em cheio pelas consequências do desgoverno e da corrupção, murmuram seu desgosto e amargura. Aguardam o acerto de contas com os que traíram sua confiança. Urnas democráticas à vista!
Cesar Vanucci Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)