Publicado em 05/11/2018 - cesar-vanucci - Da Redação
“Uma corrida de revezamento.” (Explicação didática de Barack Obama, sobre a disputa eleitoral numa democracia)
Extrair da democracia, para plena utilização, todo
ímpeto criativo, todas as propostas construtivas que ela seja capaz de
engendrar. Confiar na democracia assim como “a palmeira confia no vento e o
vento confia no ar”, conforme a recomendação poética de Thiago de Mello, mesmo
sabendo-a carregada de imperfeições por culpa de equivocadas posturas humanas.
Expressar inabalável convicção de que a pior das democracias é preferível à
melhor das ditaduras. Ter presente, a propósito, que a expressão “melhor das
ditaduras” não passa de mero ardil de linguagem.
Todo regime despótico, não importando a lateralidade
ideológica, se de esquerda ou de direita, revela-se inapto a assegurar aos
cidadãos subjugados qualquer vantagem compensatória em relação à aterrorizante
supressão da liberdade. Relembrar sempre, sobretudo quando diante de alguma
frustração política, aquela irretocável definição sobre a democracia feita pelo
estadista Winston Churchill na Câmara dos Comuns inglesa, em 11 de setembro de
1947. Aqui está ela: “Ninguém pretende que a democracia seja perfeita ou sem
defeito. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as
demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos.”
É preciso manter a atenção fixada nas engrenagens operacionais
do sistema democrático. Absorver bem a ideia de que o voto significa voz. E que
o vozerio majoritário outra coisa não exprime senão uma vontade a ser acatada
sem tergiversações. Barack Obama, presidente do qual seus compatriotas sentem
imensa saudade nesta fase de sucessivos desatinos praticados pelo sucessor,
certa feita recorreu a sugestivo exemplo mode quê explicar didaticamente o
mecanismo que rege o jogo democrático. Comparou as periódicas disputas eletivas
a uma eletrizante corrida de revezamento. A cada etapa da competição o bastão é
trocado de mãos. Os contendores dão o melhor de si, no percurso extenuante que
se lhes toca cobrir, para levarem a cabo satisfatoriamente sua missão. Cuidam
zelosamente, fieis a saudáveis regras, da respeitosa entrega do bastão aos disputantes
seguintes. Ficam no direito, se assim desejarem, caso se ofereçam condições
propícias, a participar das futuras corridas de revezamento.
A corrida eleitoral brasileira chegou ao seu epílogo.
Foi pontuada, em não poucos instantes, por indesejável fragor belicoso, alimentado
por exacerbadas paixões. Dos brasileiros de boa-vontade espera-se, agora,
procurem com serenidade e inteligência, espírito desarmado, participar
ativamente das etapas de construção do progresso e desenvolvimento que venham a
ser programadas pelo interesse nacional e pela democracia. Com ideias
propositivas, mesmo em situações que inspirem compreensível avaliação crítica,
chutando pra fora da cancha desavenças de teor desedificante, cada cidadão é
convocado a ocupar lugar no inadiável e ingente esforço de mobilização das
forças vivas da nacionalidade em favor de políticas econômicas e
administrativas capazes de assegurar crescente prosperidade para todos.
As siglas partidárias e as correntes de opinião são
elos importantíssimos no encadeamento democrático. Acima delas, entretanto,
importa muito colocar o sagrado interesse da coletividade. Coletividade essa
que abriga infinitas diversidades de pensamento e métodos de ação. A liderança
legitimamente obtida nas urnas pelos governantes recém-eleitos deles reclama
grandeza cívica, sob a forma de gestos e palavras que apaziguem ânimos, eliminem
desagradáveis idiossincrasias e traduzam sincera disposição em aceitar
contribuições alheias de boas ideias na execução das politicas públicas a serem
deflagradas objetivando a expansão do bem-estar comunitário. De outra parte, de
quem se alinhe nas fileiras da oposição, portadores de uma missão relevante no
esquema democrático republicano, é de se aguardar, pela mesma forma, demonstrações de
isenção e capacidade para não se furtarem à cooperação noa projetos e
iniciativas dos governantes que consultem realmente as aspirações da sociedade.
É assim que as coisas funcionam na democracia.
Nalgumas horas, uma clareira carece ser aberta na penosa caminhada do país em
busca de seu destino, para que todos, independentemente das tendências e
simpatias políticas, conscientes de que um poder mais alto de alevanta, se
entreguem a uma generosa troca de experiências e produtivo reforço de ideias e
atos que permitam imprimir ritmo mais veloz na busca dos objetivos sociais e
civilizatórios.
Cesar Vanucci * Jornalista
(cantonius1@yahoo.com.br)