Publicado em 01/11/2019 - cesar-vanucci - Da Redação
“Os mais pobres ficaram mais pobres e os mais ricos ficaram mais ricos”. (Maria Lúcia Vieira, gerente da PNAD, do IBGE)
Pesquisa recente do IBGE eleva a índice ainda mais desconfortável o desalento que povoa a alma nacional. Deixa estridentemente evidenciada a falta de capacidade das lideranças, nestes precisos instantes da vida brasileira, na condução de ações consentâneas com a vocação de grandeza do país.
A estagnação econômica é realidade
palpável e dolorosa. O desemprego e o subemprego chegam a patamares
desnorteantes. Na arena política, dominada pelas tricas e futricas de sempre,
pelas querelas miúdas, nascidas da visão estrábica de líderes, em elevado
quantitativo, despojados de sensibilidade social, arrojo empreendedor e
sentimento nacional, predomina um vazio atordoante de ideias. Hora alguma, em
nenhum setor de referência ligado às ações encetadas pelos poderes decisórios, ouve-se
uma palavra apenas, um murmúrio tímido que seja, a propósito de um magno projeto
nacional de desenvolvimento econômico e social consonante com as aspirações
ardentes da sociedade.
As reformas essenciais ficam
no bla-bla-bla. Encaixam, em debates pífios e estéreis, prevalecentemente
desdobrados em sites na internet, argumentos inconsistentes, que não tocam o
fulcro das questões. A alardeada intenção de promovê-las é abalada pela
vociferação inócua e ridícula de questiúnculas ideológicas desconstrutivas, que
só se aprestam para acirrar ânimos e gerar a desarmonia. Os temas vitais, que
reclamam diálogo amplo e propositivo, são negligenciados. Os procedimentos
observados no jogo político, processado com base na troca de favores, do “dá cá,
toma lá”, das manobras maquiavélicas, são sem tirar nem pôr os mesmos
utilizados no passado. Isso suscita a lembrança de que essas posturas eram veementemente
questionadas, dando causa a peremptórias promessas de que seriam banidas da
cena pública. Mas as promessas estão sendo, como amplamente percebido por todo
mundo, chutadas descerimoniosamente pra escanteio.
Nos “anos dourados” do
injustiçado e hoje idolatrado Juscelino Kubitschek de Oliveira, para ficar no
exemplo mais frisante da crônica do nosso desenvolvimento econômico e social,
os projetos de fazer deste país de prodigiosas riquezas uma potência jorravam
com impetuosidade que nos estimulava alimentar esperanças, sonhos, utopias na
contemplação do futuro. Num período de 5 anos, que pareceram 50, o Brasil
ergueu num nada territorial uma majestosa capital. Implantou industrialização
de ponta. Construiu rodovias, usinas elétricas. Favoreceu um fervedouro de
obras. Alavancou o progresso pra valer. Estimulou a criatividade e o
empreendedorismo. As conquistas civilizatórias, em curtíssimo espaço de tempo,
graças a lideranças detentoras de fecundidade de ideias e a projetos elaborados
com engenho e competência, impactaram positivamente a economia. Espalharam benefícios sociais à mancheia,
repercutindo esplendidamente em todos os segmentos. Os avanços detectados no
projeto brasileiro de desenvolvimento fizeram brotar cintilantes manifestações na
seara da cultura, da arte, do esporte e assim por diante.
Que baita diferença, Santo
Deus, entre o Brasil daquele radioso tempo e o Brasil dos dias acinzentado de
hoje! Onde estão os homens providos de grandes ideias e poder realizador? Onde
se meteram, a ponto de não serem identificados ao primeiro olhar, os fazedores
de progresso “na linha jusceliniana”?
É nesse cenário acabrunhante,
aguçado pela comparação trazida à reflexão dos leitores neste momento, que o
IBGE, instituição altamente confiável, possuidora de quadros técnicos de
invejável qualificação, comparece a público para revelações que ratificam a
aflitiva sensação de que as coisas andam realmente funcionando mal neste país
rico, bonito pela própria natureza, de potencialidades inesgotáveis. A metade
da população – 104 milhões de compatriotas - vive com apenas 413 reais por mês.
A desigualdade de renda bateu recorde em 2018. As injustiças, na escala dos
rendimentos, atingem clamorosamente gêneros e raças. Para cada R$ 100 recebidos
por um homem, uma mulher ganha, em média, R$ 79. Os mesmos 100 reais pagos a
uma pessoa branca caem para 56 quando o cidadão é negro. A renda domiciliar per
capita dos 5% que ganham menos, caiu 3,8% em um ano. Em todo o país, 10,4
milhões de criaturas (5% da população) sobrevivem com 51 reais em média por
pessoa, conforme os dados da Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílios (PNAD).
As evidências de que as
desigualdades vêm se agravando ficam contundentemente estampadas em outros
dados, como os que se seguem, extraídos das apurações técnicas do IBGE. A renda
média per capita é ainda menor – apenas 269 reais –, se considerados na
avaliação global os 30% mais pobres, ou seja, o equivalente a 60,4 milhões de
pessoas. No outro extremo da avaliação de renda, o 1% melhormente aquinhoado na
distribuição da riqueza – somente 2,1 milhão de pessoas – ostenta no quadro
renda média mensal per capita de 16,297. Noutras palavras, a fatia mais
abastada da população ganha perto de 40 vezes mais que a metade da base da pirâmide
populacional.
O patamar auge da pesquisa do
IBGE atingido em 2018 levou a gerente da PNAD, Maria Lúcia Vieira, a dizer que
no nosso Brasil “os mais pobres ficaram mais pobres e os mais ricos ficaram
mais ricos”.
Parando, por ora, por aqui. Tudo
isso machuca. Como dói!
Cesar Vanucci - Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)