Publicado em 17/09/2018 - cesar-vanucci - Da Redação
“A democracia (...) é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas (...) experimentadas de tempos em tempos.” (Winston Churchill)
Os democratas autênticos, de quaisquer tendências
ideológicas, comprometidos com quaisquer preferências de candidaturas ou
legendas políticas, repelem com flamejante sinceridade o hediondo atentado
contra Jair Bolsonaro. Presença majoritária em todos os estamentos da sociedade,
os democratas autênticos abominam, desde sempre, as manifestações extremadas,
impregnadas de passionalismo e irracionalidade, convertidas em palavras ou atos
que possam alvejar, em toda e qualquer circunstância, a dignidade humana.
Eventuais divergências, nascidas da efervescência dos
debates políticos, quanto a colocações esposadas pelo deputado do PSL,
disputante da Presidência; ocasionais discordâncias quanto às posturas por ele
assumidas são relegadas, neste momento, certeiramente, a plano secundário. O
que deve preponderar, nas mentes abertas e reflexão serena e lúcida dos adeptos
da democracia, a propósito dos recentes e indesejáveis acontecimentos, é a robusta
e unânime convicção de que a inominável violência física alvejou, além da
vítima, a própria consciência cívica nacional. O inconformismo popular é
totalmente justificado. Não podemos deixar por menos o tresloucado incidente.
Desequilibrado mental, ou fanático vinculado a alguma provável
seita fundamentalista, ou radical surgido das lateralidades ideológicas incendiárias,
o autor do atentado deu voz perturbadora, de maneira chocante, à intolerância
exacerbada. Ao preconceito odioso. Às vociferações carregadas de ferocidade de
grupelho composto de indivíduos de diferenciados matizes que se empenham, à
gosto, com boçais idiossincrasias, em disseminar palavras de ordem de cunho
antidemocrático. Mesmo confessando-se antagônicos, revelam nos gestos e
verbalização desvairados que, no duro da batatolina, não passam mesmo, de
farináceo do mesmo saco...
Ao reprovar com maciça e compreensível indignação o
ocorrido, a Nação brasileira está dizendo Não, com as letras em caixa alta, ao
intolerantismo. Não, à pregação do ódio. Não, aos que se acreditam,
dogmaticamente, “donos da verdade” e que se recusam a admitir que os pontos de
vista contraditórios representam expressão legítima de vida, numa coletividade
multirracial, multirreligiosa, detentora de policrômica diversidade cultural,
receptiva às saudáveis práticas ecumênicas na convivência social.
A democracia é, antes de tudo, um estado de espírito.
Proclamar isso é importante. Ninguém mais, ninguém menos que Winston Churchill,
estadista com currículo legendário, asseverou de certa feita, em discurso na
Câmara dos Comuns da Grã-Bretanha, que ninguém deve pretender seja a democracia
perfeita ou sem defeito. Alguns podem até taxá-la de ser “a pior forma de
governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em
tempos.”
Ideia se combate com ideia. As eleições foram
inventadas com o fito de levar aos postos de comando cidadãos capazes, ao
exprimirem ideias, de persuadir os cidadãos eleitores a delas compartilharem.
Concordar ou discordar é prerrogativa dos mesmos. Nas urnas, cabe-lhes anotar,
com liberdade plena de escolha, o que pensam das ideias projetadas nos debates
pré-eleitorais.
Todos os democratas entendemos, por conseguinte, que democracia
não é uma palavra oca. Não pode ser encarada como uma retórica mistificadora. É,
sim, proposta fecunda de avanço humano civilizatório. Em máxima célebre de
Voltaire reside um de seus suportes mais preciosos: “Não concordo com uma só
palavra do que dizeis, mas defenderei até a morte o vosso direito de dizê-lo.”
Cesar Vanucci - Jornalista
(cantonius1@yahoo.com.br)