Publicado em 18/06/2018 - cesar-vanucci - Da Redação
“Recordar é viver...” (Provérbio popular)
Foi assim. Num certo momento, tradicionais aliados de
Dilma Rousseff, umbilicalmente ligados a ela e seu partido num punhado de
vitoriosas campanhas eleitorais, e adversários viscerais da mesma personagem entenderam
de se dar as mãos, compondo poderosa aliança com o objetivo de afasta-la do
poder. Acusaram-na, entre outras coisas, de arrogante no relacionamento
político; de despreparada na condução dos negócios públicos; de complacente, se
não conivente, com atos de corrupção de atuantes correligionários; de useira e
vezeira na prática das assim chamadas “pedaladas fiscais”. As tais “pedaladas”,
por sinal, representaram o gatilho jurídico que decretou sua saída da Presidência.
Consumado o impedimento pelo Congresso, a coalizão de
forças triunfante comunicou solenemente que, dali pra frente, tudo seria
diferente. Uma nova e redentora era estava sendo implantada. Róseos cenários se
descortinavam no horizonte. Jactando-se de possuírem ilibada reputação, os
novos detentores das decisões político-administrativas comprometeram-se, com
pompa e alarde, a estancar, pra todo sempre, amém, a abominável corrupção. A
sociedade – asseveraram – não mais encontraria razões pra se constranger com indecentes
arranjos e barganhas parlamentares. Registros desse tipo seriam, felizmente,
largados pra trás. Nada de casuísmos e fisiologismos com vistas a aprovações, a
toque de caixa, de medidas ajustáveis a conveniências espúrias. Não mais seriam
vistas, com certeza, nas telas televisivas, aquelas deprimentes imagens de
achaques explícitos, tipo dinheiro transportado em malas, grana de origem
estranha depositada em cofres, ou amontoada em caixas de papelão. Não, nada
disso voltaria a ocorrer envolvendo figuras conspícuas das esferas mandatárias.
De outra parte, a deflagração de arrojado projeto, o “da
volta dos 20 anos em 2”, asseguraria – como não! - a acalentada retomada, em
ritmo acelerado, do crescimento econômico. Deixou-se claro também que os extorsivos
juros onzenários, melhor dizendo, bancários, até que enfim, desabariam. Não
mais constituiriam entrave, nó de estrangulamento na trilha empreendedorista
das criativas forças de produção da riqueza nacional. E – Deus louvado! - as chocantes
taxas de desemprego também seriam reduzidas. Sobraria mais dindim na algibeira
de todos. A um só tempo que os preços dos alimentos e serviços básicos
manter-se-iam estáveis. Os gastos estrondosos com mordomias e privilégios de
milhares de marajás (fontes confiáveis estimam que somem perto de 50 mil,
consideradas todas as faixas de servidores dos diferentes Poderes) seriam exemplarmente
contidos. E o que não dizer do notável incremento a ser introduzido nos
atendimentos sociais, prioritariamente nas áreas da saúde, educação e moradia?
Quanto ao exagero das pastas ministeriais, alvo de
críticas na mídia, tribunas e palanques, a solução estava engatilhada. Previa-se
pra já a eliminação e fusão de alguns ministérios. Mais: a titularidade de
todos eles seria confiada exclusivamente a “notáveis”. Cortando, enfim, as
amarras de um passado “de podridão moral e falta de ética”, conforme
enfatizado, o emergente comando da Nação optou, “no momento da saneadora
ruptura”, pela adoção de uma política administrativa diferente, moderna na
concepção e eficaz nos resultados. Prometeu zelar intransigentemente, com
denodo e escrúpulo, até o final da missão, pelos sagrados interesses da soberania
nacional.
Tudo quanto anotado remete-nos a uma inquestionável
conclusão. As vozes mais lúcidas do pensamento nacional, conectadas com as autênticas
causas brasileiras, e a arguta opinião das ruas mostram-se definitivamente
convencidas – e até mesmo a crédula “velhinha de Taubaté”, emblemática
personagem das esplêndidas crônicas do Veríssimo, já anda “meio desconfiada” -
do naufrágio da embarcação fretada para conduzir ao decantado porto seguro a
carga dos compromissos mudancistas trombeteados. O barco foi posto a pique no
sorvedouro dos jatos d’água diluvianos da demagogia desvairada, das
contradições contundentes entre o dito e o feito, da reconhecida ausência de
vocação para o nobre exercício da vida pública dos elementos que compõem o
núcleo central do poder.
Cesar Vanucci - Jornalista
(cantonius1@yahoo.com.br)