Publicado em 19/06/2020 - cesar-vanucci - Da Redação
“Não se faz mais JK como antigamente.” (Carlos Chagas, jornalista)
· Receitar
remédio por decreto, mais que inusitado e risível, é psicodelismo puro, sem
tirar nem por. Nesta hora de confusão avantajada, o que se vê, desoladoramente,
como estampa de nosso país é um “deserto de lideranças e ideias”. Um imenso e
portentoso território desprovido de qualquer projeto desenvolvimentista afinado
com suas inigualáveis potencialidades, que lhe permita invadir o futuro.
Acodem-nos à lembrança, compreensível e insistentemente, à vista do que
acontece, os “anos dourados” de JK. Um período, aquele, sem similar na crônica
político-administrativa. Crescimento de 50 anos em 5, como sabido até nos
reinos vegetal e mineral. Inimaginável supor que o estadista Kubitschek
pudesse, nalgum momento, do alto de suas prerrogativas presidenciais, no auge
de uma epidemia mortal, desfazer-se do concurso de assessores de confiança,
pessoas qualificadas para as funções exercidas, devido à circunstância de os
mesmos se recusarem a prescrever medicamento cientificamente controverso para
aplicação massiva em multidões de enfermos. Medicamento, por sinal, brotado
subitamente de um palpite, de uma sugestão, algo equivalente, mesmo que
bem-intencionados, mas desamparados de reconhecimento técnico e científico, ou
até contraindicado. O nome de JK, na hipótese aqui arguida, é evocado para
efeito de mera comparação de posturas. E isso remete a outra revelação assaz
sugestiva. Não é que o Nonô de Diamantina, líder carismático, com atributos de
cultura, inteligência, visão empreendedora, formação democrática e simpatia,
era alguém legitimamente capacitado a prescrever remédio para enfermos? Médico
e militar, chefiou departamento especializado na Santa Casa de Misericórdia de
Belo Horizonte. Dirigiu o Hospital da Policia Militar de Minas Gerais. Como
profissional da medicina, fez jus a um sem número de homenagens e louvações,
conforme tão bem documentou, em aplaudida palestra, ainda recentemente, o
ilustre acadêmico, seu colega de farda, coronel Klinger Sobreira de Almeida.
·As lideranças
ambientalistas sustentam que, na verdade, aproveitando o fato de as atenções da
opinião pública estarem voltadas para a pandemia do coronavírus, o Ministério
do Meio Ambiente andou passando parte considerável da “boiada”, conforme
sugerido pelo seu titular na famosa reunião ministerial de abril. A pretendida
“flexibilização das normas” foi posta em marcha acelerada. Abrangeu decisões
que vão do afrouxamento de regras atinentes à exportação de madeira a anistia
para desmatadores contumazes. Organismos encarregados do monitoramento de crimes
ambientais denunciam que nunca se devastou tanto quanto agora áreas florestais
legalmente resguardadas. E isso está acontecendo na Amazônia, no Pantanal, na
Mata Atlântica, nos Pampas e no Cerrado, debaixo de olhares marotos e
complacentes de muita gente incumbida, por dever de oficio, das competentes
fiscalizações. Dos encarregados de conduzir a “boiada” a seu destino, atendendo
a conveniências ocultas (de acordo com ambientalistas que sabem das coisas,
talvez nem tão ocultas assim), o que se ouve é que todas as denúncias vindas a
furo, inclusive documentadas com imagens impressionantes, são fruto de “sórdida
conspiração” de cunho anárquico e de oposição à “saudável política” de proteção
das reservas florestais e hidrográficas colocada em prática pelo Governo. As
agressões perpetradas contra a Natureza deste nosso país continental, que
abriga uma Amazônia riquíssima com superfície territorial maior que todo o
continente europeu, tirante a Rússia, pode muito bem ser denominada, buscando
inspiração em dito do Ministro do Meio Ambiente, de “estouro da boiada”. Não é
por outra razão que, chocados com o que vem rolando no pedaço, sobretudo nos
últimos tempos, vários organismos internacionais e países europeus, criticando
abertamente os deploráveis procedimentos, vêm cancelando apoio técnico e
financeiro a projetos de fomento do desenvolvimento social nas áreas
inclementemente atingidas pelas queimadas e predação de recursos.
Cesar Vanucci - Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)