Publicado em 26/06/2020 - cesar-vanucci - Da Redação
“Não concordo com uma só palavra do que dizeis,
mas defenderei até a morte vosso direito de dizer.”
(Voltaire, enunciando
princípio basilar do ideário democrático)
?
Liberdade de expressão. “Fake news”. Sem essa de aprontar confusão com
referência a realidades irretorquivelmente distintas uma da outra. Como se costuma
dizer no saboroso linguajar das ruas, uma coisa é uma coisa, outra coisa é
outra coisa. A liberdade de expressão é filha da inteligência. Parente
consanguinea da razão, do bom-senso, da sensibilidade social. É uma projeção da
grandeza do espírito humano, do somatório de valores nobres que emolduram a
vida e conferem dignidade ao ser humano. É um atributo inalienável do autêntico
sentimento democrático. Traduz impecavelmente o direito de que cada cidadão é
detentor, no curso da existência, de optar por uma crença religiosa ou
política, de exprimir, com responsabilidade e respeito, nas palavras ditas ou
escritas, suas ideias, sua interpretação do mundo e do enredo comunitário, sem
que isso possa significar postura reprovável, injuriosa no olhar de quem, no
exercício de direito idêntico, comungue pensamento diferente e se envolva em ações
diametralmente opostas. A liberdade de expressão é um apanágio da democracia. Quando
cerceada ou posta inquisitorialmente sob ameaças, sejam disfarçadas, sejam escancaradas,
a sinalização emitida pelo fato é de clareza solar: as instituições
democráticas estão a perigo.
Já
as “fakes news”, frutos daninhos da ignorância, da torpeza de intenções, do
obscurantismo cultural, de iniciativas concebidas em ambientes trevosos, nada
mais, nada menos representam que um cortejo maquiavélico, ignominioso da
deformação moral e ética e da suprema indigência intelectual de idiotas e
insensatos agarrados a credos insanos. O caldo de cultura de onde provêm é inteiramente
receptivo ao racismo, à negação dos direitos fundamentais, a discriminações de
toda ordem. Circulando nas redes sociais com incompreensível desenvoltura,
visíveis propósitos de difamar, caluniar e ilaquear a boa-fé de criaturas menos
avisadas, as “fake news” constituem uma estridente contrafação da liberdade de
expressão. De inocultável feição antidemocrática, afrontam os códigos que regem
a sociedade, exigindo dos poderes constituídos medidas que impeçam sua malévola
proliferação. O Judiciário age corretamente quando define procedimentos legais,
obviamente enquadrados nos preceitos democráticos, com vistas a conter seu
ímpeto desagregador do tecido social.
· A Organização
Mundial da Saúde confessa-se preocupada com a “séria cegueira” de alguns
governos. observação endereçada a países
que, em sua avaliação, permitem ou se mostrem indiferentes aos riscos fatídicos
das aglomerações nas ruas e recintos fechados. Em comunicado, afirma
categoricamente que todas essas movimentações, a quaisquer pretextos,
revelam-se extremamente desaconselháveis. O avanço letal da pandemia recomenda
bom-senso e responsabilidade. A negligência na aplicação de providências
preventivas, consideradas arbitrariamente dispensáveis por determinados
gestores públicos, é de molde a provocar danos irreparáveis, com perdas
preciosas de vidas. Relatório da instituição assinala, com todas as letras,
pontos e vírgulas, que entre os países que oferecem maiores índices de
contaminação e mortalidade, os Estados Unidos e o Brasil, fortes candidatos ao
pódio na “maratona da pandemia”, são os dois únicos que se recusam a adotar, em
extensão nacional, as restrições indicadas pelo veredicto da ciência.
· As áreas sob
(rígido) controle das temíveis milícias cariocas são as que oferecem maior
volume de casos de contaminação pelo coronavírus. Explicação óbvia: as
recomendações a respeito do isolamento social e das medidas preventivas
costumam ser “solenemente” ignoradas ou descumpridas nas regiões em foco. As
ordens para circulação ou reclusão das pessoas, abertura ou fechamento das
atividades produtivas, são dadas pelas “forças ocultas” que imperam absolutas
no território. As falanges fixam diretrizes e condutas que acabam sendo
acatadas, por bem ou por mal, pela população indefesa. Por reféns de um estado
de coisas assustador. Ao ponto de agentes públicos em certos instantes
sentirem-se completamente desguarnecidos para o enfrentamento dos “fora da
lei”. Os milicianos – a comunidade carioca está careca de saber – são
especialistas em represálias aos que cometam o atrevimento de encará-los.
Cesar Vanucci - Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)