Mal sem remédio

Publicado em 27/03/2017 e atualizado em 09/01/2018 - cesar-vanucci - Da Redação

Mal sem remédio

“... Daí ser a venda de remédios um negócio de primeira ordem.” (Antônio Callado, em “Quarup”) 

Tadinho do consumidor de remédio! Não passa de vítima indefesa de implacável engrenagem mercadológica. E não adianta chiar. Ninguém por ele. Os problemas de sua maltratada rotina de comprador, de tantos impactos na economia doméstica, passa ao largo das preocupações das organizações que se proclamam comprometidas com as políticas de bem estar social. É largado à própria sorte numa arena dominada por apetites vorazes pelos ganhos fáceis. Dando baita suporte a tudo funciona uma marquetagem competente e charmosa que ajuda a ocultar sofrida realidade: a de que o problema dos medicamentos é mal sem remédio. 

Como é do desconhecimento geral - para gáudio, aliás, do poderoso complexo farmacêutico internacional, proprietário de patentes garantidoras de roialtes vitalícios - a Organização Mundial de Saúde assegura não passarem de pouco mais de uma centena as fórmulas medicamentosas essenciais às necessidades e carências terapêuticas. Ora, veja, pois! Informação desconcertante, essa aí. Enfileirado com os setores petrolífero e de armamentos entre as atividades mais rendosas, o segmento industrial farmacêutico consegue a prodigiosa façanha de fazer expandir, em ritmo alucinante, o receituário básico da OMS. As prateleiras comerciais, abrigando dezenas de milhares de rótulos, estampam iniludivelmente esse estupendo “milagre da multiplicação”. Atraído inapelavelmente por tal labirinto de ofertas, o consumidor vê-se peado para exercitar adequadamente seus direitos de defesa. Em eterna desvantagem, atropelado pelos fatos, entra o tempo todo pela tubulação. Agarra-se, às vezes, a ilusórias probabilidades de ajustar melhor as compras ao orçamento. 

Quando se começou a falar em genéricos, chegou a embalar a ideia de que a novidade acabaria levando ao barateamento dos itens de consumo forçado. Ledo engano. Arranjaram um modo de embaralhar as marchas. Ofertas de artigos com idênticas propriedades farmacológicas tomaram diversificadas denominações. Produtos de marca, produtos similares, produtos genéricos, por aí. Sem falar nos homeopáticos, nos fitoterápicos, os de manipulação, esses todos, de quando em vez, colocados sob suspeição em ardilosas maquinações publicitárias que preservam, entocaiados no anonimato, os autores. As surpresas amontoam. A história não é bem essa. O genérico é hoje ofertado a preços mais elevados, ou menores, dependendo sabe-se lá do quê. A mesma fórmula é aplicável aos produtos de marca e aos similares. O freguês, perdidinho da Silva Junior, fica sem referencial. Embaraça-se nesse emaranhado de informações. 

O cenário é ocupado por mais macetes. Nem todo mundo é colocado a par de tudo que rola no pedaço. O usuário de remédios utilizados com constância pode surpreender-se com situações como a de um conhecido, ainda recentemente. O produto receitado para estabilizar pressão estava cotado em astronômicos R$ 110,00. Cartela de 30 comprimidos, para consumo previsto em 15 dias, um pela manhã, outro na hora de deitar. Compreensivelmente alarmado, ele saiu para paciente pesquisa. Descobriu, estupefato, a existência de um genérico com a mesmíssima composição, a custo infinitamente menor, noutra farmácia: R$ 27,00. Economia, sem dúvida, bastante expressiva. Tempos depois, deu-se conta, não menos espantado, de que o fabricante do remédio original estava concedendo, por intermédio de consultórios, talões de bonificações de 80 por cento sobre o valor tabelado. Uai! A embalagem já não poderia sair, então, etiquetada da fábrica, com o generoso “desconto”? Ou será que, debaixo dos panos, esteja sendo urdida alguma manobra sutil com o fito de retirar do páreo o abusado concorrente?

Sem querer apelar para trocadilho: haja pressão!

César vanucci -  Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)