Publicado em 16/07/2018 - cesar-vanucci - Da Redação
“"Uma crise no Judiciário contribui para elevar ainda mais a desconfiança da população nas instituições e na própria Democracia". (Ciro Gomes)
Agora, que o
sonho do hexa se esvaiu que nem bolha de sabão solta no ar, deixando na boca um
gosto azinhavrado de cabo de guarda-chuva umedecido, o jeito que tem é encarar
a realidade deste instante político e administrativo desfalcado de inspiração
em termos de construção humana. Com as eleições à vista, o ainda não de todo
definido quadro de candidaturas suscita preocupações à pamparra.
Revela-se
visível demais da conta a carência de propósitos, nos ditames políticos,
capazes de verdadeiramente encher de empolgação a alma coletiva. Muita gente
até aventa, a esta altura da copa eleitoral de outubro, a hipótese de que o
volume de abstenções e sufrágios nulos possa, na hora das apurações, superar o
número dos chamados votos úteis. Não há como ocultar o desencanto reinante
quanto aos nomes da lista de candidatos prováveis.
O desencanto,
fácil de ser detectado nas ruas e lares, encontra respaldo na avalancha de
malfeitos que tolda o panorama político. É um nunca acabar de casos de
malversação do dinheiro público, envolvendo dirigentes de todos os matizes
partidários, incontáveis agentes públicos infiéis e empreiteiros inidôneos. São
demonstrações abundantemente oferecidas, em diversificados escalões
administrativos, de inaptidão para o exercício do gerenciamento dos negócios
públicos. É um clamoroso descaso, nas esferas burocráticas, para com aspirações
as mais elementares da sofrida gente do povo. Em não poucas decisões relevantes
para o interesse comunitário percebe-se, com desnorteante constância, gritantes
insensibilidade social e desrespeito pelo sagrado sentimento nacional. As
indesejáveis consequências desse estado de coisas sentimo-las, todos nós, dia a
dia, na maltratada pele.
Nada obstante os
róseos comunicados sobre o que vem rolando no pedaço político-administrativo,
transmitidos sem o mais leve rubor na face por porta-vozes palacianos
reprovados pela opinião pública no quesito empatia, os fatores que medem o
bem-estar social continuam a apresentar tendências declinantes. O desemprego
cresce a olhos vistos. As atividades produtivas sinalizam estagnação. Os preços
dos produtos essenciais aumentam continuamente. Idem, idem com referência aos
combustíveis e taxas de serviços nas áreas da saúde e noutras modalidades de prestação
de serviços imprescindíveis à coletividade. Os escorchantes juros bancários
desencorajam promissores empreendimentos, afetam negócios em condições de gerar
oportunidades de trabalho e promover a prosperidade. E o que não dizer, quedando
por ora na listagem dos tormentos cotidianos, da violência urbana que grassa
solta na praça?
Como se toda essa carga descomunal de questões mal resolvidas, em razão da insensatez político-administrativa prevalecente, já não fosse suficiente o bastante para apoquentar a paciência das pessoas, incrementando o desassossego social, ainda estamos sendo agora constrangidos a confrontar, impotentes e aturdidos, mais uma encrenca inusitada, perturbadora, inacreditável. Nutrida, de certo modo, por exacerbações egolátricas e passionalismo de personagens que deveriam zelar, por dever de ofício e ética profissional, pela isenção nas decisões, a ostensiva e tensionante politização da Justiça, nos dias de hoje, alimentando torrente de manchetes, alveja respeitáveis postulados democráticos.
Alguns
representantes do Poder Judiciário nas diferentes instâncias arvoram-se do
direito de reinterpretar, a seu talante, de acordo com convicções ideológicas
pessoais, preceitos constitucionais, inserindo um toque anárquico no ritmo
processual. Produzem entendimentos dúplices, por vezes altamente conflituosos,
em situações de características legais rigorosamente idênticas. Não passa
desapercebido, mesmo a olhares leigos em matéria jurídica, que de tempos para
cá os holofotes midiáticos andam mexendo bastante com a cabeça de ilustres
cidadãos que carregam a responsabilidade de decisões relevantes.
Isso remete à
admissão de que já está passando a hora, conforme reconhecido pelas mentes mais
lúcidas da Nação, de os setores encarregados de zelar pela ordem jurídica se
empenharem, urgentemente, numa reflexão aprofundada do que vem acontecendo. E,
a partir dessa avaliação, adotarem procedimentos, definirem fórmulas
producentes no sentido de desfazer a baita confusão jurídica implantada, que
tanta inquietação tem causado no espírito popular.
Cesar Vanucci - Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)