Publicado em 27/03/2020 - cesar-vanucci - Da Redação
“Brasília
poderia ter sido (desde o começo da pandemia) uma fonte de informações e de
orientações respeitáveis. Degradada, a ação federal move-se entre comédias e
provocações.”
(Élio Gáspari, jornalista)
Tempos difíceis,
provações à pamparra. Tempos para o exercício febricitante de valores que
enobrecem a caminhada humana. Tempos de solidariedade, de fraternidade. Tempos
de imprescindíveis bom-senso, juízo, reflexão. E, também, apropriado a
meditação, reclusão interior e – como não? – oração.
Das lideranças
detentoras de responsabilidades institucionais bastante precisas na cartilha
republicana e no texto constitucional é legítimo aguardar, mais do que isso,
exigir, que saibam se comportar à altura das aspirações nacionais. Revelem-se
zelosas e dedicadas no cumprimento do dever, afirmativas nas decisões
preventivas e curativas que possam contribuir eficazmente para o enfrentamento
da galopante pandemia e minimização de seus devastadores efeitos sociais e econômicos.
O entendimento
nacional acima de paixões políticas, largadas de lado ridículas “questiúnculas
de aldeia”, discussões bizantinas desagregadoras, é uma solene imposição deste
grave momento. As circunstâncias reclamam uma conjugação de forças, de vontades,
a mais poderosa que se tenha condições de articular, de maneira a definir, com
todo vigor, as políticas mais adequadas que o país tenha ao seu dispor, para o
confronto inexorável com a enfermidade que ceifa vidas preciosas e lesiona o valioso
patrimônio da coletividade.
As providências
requeridas pela dramática situação requerem uma sintonia fina de propósitos e
esforços. Faz-se mister que as autoridades competentes, em todos os escalões, a
começar pelo Governo Federal, deem-se as mãos, compartilhem a mesma mesa para diálogos
construtivos e decisões efetivas. Desvencilhem-se da ruinosa tentação de
ditarem regras, mesmo que bem-intencionadas, provenientes de interpretações
pessoais egolátricas das ocorrências ameaçadoras que nos rondam. Somem conhecimentos,
inventividade, promovendo a coalizão capaz de transmitir à Nação a certeza
confortadora de que o melhor da competência inerente ao complexo oficial de
serviços públicos está sendo colocado a serviço da proteção comunitária.
Da engrenagem assistencial
constituída com esse edificante objetivo, amparada naturalmente no indispensável
apoio dos sistemas privados de saúde, espera-se um trabalho eficiente, muito
trabalho eficiente. Trabalho de magnitude tal que nunca se possa dar por
suficientemente trabalhado o todo problemático a ser encarado, mesmo que o
esforço laboral despendido seja o mais intenso e extenso jamais estruturado.
O projeto nacional
de combate ao coronavírus terá que ser, - é o óbvio ululante – coordenado na
esfera federal. Os governos estaduais e municipais, bem como as lideranças de
outros segmentos da sociedade convocadas para trabalho conjunto, serão
partícipes importantíssimos no colossal processo. Cabe anotar, neste ponto das
considerações, penosa constatação. Até, pelo menos, à hora em que estes dizeres
estavam sendo digitados o presidente Jair Bolsonaro mostra-se estranhavelmente avesso
a fazer uso do diálogo de modo a possibilitar a alvejada conjugação de ações. Empregando
palavras e atitudes inconvenientes e dúbias, classificando o terrificante vírus
de “uma gripezinha” insignificante e de alarmismo inconsequente as diligências assumidas
noutras esferas administrativas, dava extravagante demonstração de não haver,
ainda, então, se compenetrado da indelegável missão que o cargo exercido lhe
confere nessa hora de angustia e temores.
A sociedade
brasileira concentra-se, agora, na esperançosa expectativa que esse
procedimento equivocado, prejudicial aos interesses nacionais, ceda lugar a uma
avaliação ponderada dos fatos, uma compreensão exata da realidade que nos
rodeia e que disso possam resultar negociações, entendimentos, troca de
conhecimentos, atos positivos, com suprema urgência e sem mais desperdícios de
energias e recursos, de maneira a contribuir para aliviar um pouco as
desgastantes tensões. E colocar o Brasil, do Oiapoque ao Chuí, em
posicionamento estratégico recomendável nas trincheiras abertas para o combate ao
flagelo.