Não precisa explicar...

Publicado em 10/04/2017 e atualizado em 09/01/2018 - cesar-vanucci - Da Redação

Não precisa explicar...

“... fingir ignorar o que se sabe e saber o que se ignora; entender o  que não se compreende e não escutar o que se ouve (...): eis a política.” (Beaumarchais – 1732-1799) 

Quer dizer, então, gente boa, que existe um “caixa 2 do bem” e um “caixa 2 do mal”, como judiciosamente asseveram conspícuos próceres partidários da cúpula engajados em edificantes articulações com o sagrado objetivo de promover “a salvação da política”? O “caixa do bem” voltado para nobilitantes causas conduzidas por virtuosos companheiros da patota presentemente detentora dos privilégios do poder, e o “caixa do mal” operado por desalmados adversários dessa tão honrada grei? Desafetos esses, por sinal, mercê dos deuses, em bom número já convenientemente defenestrados das esferas do comando político administrativo. 

Quer dizer, então, gente bacana, que aquelas desconcertantes alegações de um punhado de descarados militantes de grupos alijados da cena, vários deles com merecidas condenações na cacunda, sustentando que a derrama de bufunfa nos redutos do poder representava desinteressado apoio empresarial nas eleições e não pagamento de mesadas a aliados, acabam de ganhar uma reinterpretação jurídica e ética? Passaram, Deus louvado, a ser reconhecidas como procedimento legítimo, tendo em vista a reconfortante circunstância de que os capilés atribuídos pelas empreiteiras a agentes públicos contemplam, nos casos agora investigados, cidadãos de postura diferenciada, de caráter sem jaça, realmente imbuídos de espírito público? 

Que dizer, então, caríssimos, que aos íntegros caras favorecidos com propinas do “caixa 2 virtuoso” deva ser dispensado tratamento reverente, diferenciado do que é comumente reservado ao pessoal repulsivo do outro “caixa 2”? Ou seja, aquele bando de corruptos que se valeu dos recursos repassados para enriquecimento ilícito e não para utilização em nobres empreitadas? Quer dizer, então, que por esse convincente motivo, a opinião pública precisa aprender, daqui pra frente, a separar criteriosamente o joio do trigo, nessa questão tão delicada das investigações sobre corrupção? Fazê-lo de modo consciencioso e competente, que permita às agremiações políticas do bem protegerem suas atividades e, ipso facto, salvaguardar apreciável contingente de políticos de angelical conduta? Quer dizer, então, que se impõe, de pronto, a necessidade de identificar-se com exatidão quem é grego e quem é troiano nessa história toda, aplicando-se punição exemplar aos “bandidos” e exaltando-se os “destemidos mocinhos”, que souberam utilizar condignamente a dinheirama depositada pelas empreiteiras em suas contas bancárias? Quando não mais fosse, pela retilínea conduta desses últimos, ao revelarem às autoridades e mídia, em momentos cruciais, com discernimento e desassombro cívico, os atos malsãos das levas dos corruptos primeiramente acusados?

Quer dizer, então, que no salutar afã de se fazer justiça, passam a ser lícitas as extenuantes tratativas envolvendo íntegros políticos acusados e até intocáveis figuras do Judiciário, mode definir, para o bem de todos em geral, um redentor acordão? Um pacto criterioso e desprendido que elimine a possibilidade de condenações a homens de bem e mostre, com absoluta nitidez, o que sejam os alhos prazerosamente debulhados por figurões acima de qualquer suspeita – todos, obviamente, do “lado de cá” - e os bugalhos acumulados pela “banda podre” do “lado de lá”? 

Quer dizer, então, que aquelas denúncias vindas a lume com os delatores implicados nas maracutaias referentes ao perverso conluio de agentes públicos desonestos e inidôneos empreiteiros carecem ser analisadas com pesos e medidas diversificados? E isso, pela forte razão de que esses delatores revelam-se irrepreensivelmente sinceros e fidedignos nas citações feitas aos mau-caratistas dos “nossos adversários”, mas, incompreensivelmente, faltam com a verdade quando incluem “pessoal nosso”, de impecável comportamento na lida pública, nas inesgotáveis listas dos responsáveis pelos repugnantes delitos cometidos? 

Quer dizer, então, por derradeiro, que as manchetes dos jornais traduzem sempre a verdade factual quando as denúncias enredam “adversários desonestos”, mas, estranhavelmente, são facciosas e destituídas de fundamento quando alvejam impolutos integrantes de nosso “valoroso time”? É isso mesmo?

Calma, calma, gente boa, perguntar não ofende. E, como se costuma dizer também por aí, precisa não explicar. Nós só queremos entender...

Cesar Vanucci - Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)