O General e a Amazônia

Publicado em 28/08/2017 e atualizado em 08/01/2018 - cesar-vanucci - Da Redação

O General e a Amazônia

“A cobiça internacional é uma realidade.” (General Luiz Gonzaga Schroeder Lessa)

Algum tempo atrás, por mais de duas horas, plateia estimada em 2 mil pessoas, composta na quase totalidade por associados do Lions Clube em Minas Gerais, acompanhou eletrizada – este, o termo exato - magistral exposição sobre a Amazônia. O general Luiz Gonzaga Schroeder Lessa, ex-comandante militar da Amazônia, brindou os qualificados ouvintes, numa convenção acontecida em Poços de Caldas, com revelações de substancioso conteúdo geopolítico-econômico e cívico relacionadas com a fascinante temática. A mensagem transmitida, com toque humanístico e impregnada de sentimento nacional, chamou todo mundo a uma reflexão aprofundada sobre aquilo que o expositor define como questão prioritária na realidade brasileira. Algo que tem tudo a ver com o futuro de nossos filhos e netos. Com a soberania nacional.

A Amazônia legal – conforme explicou – estende-se por nove Estados. Representa 56% do território brasileiro. Sua população é estimada em mais de 20 milhões, para uma população nacional superior a 200 milhões. O território é de riquezas sem par. Por isso tornou-se alvo permanente da gula estrangeira. Exemplos abundantes de como essas ameaças se expressam foram alinhadas. Uma delas: declaração do então diretor geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Pascal Lamy. O referido cidadão, de nacionalidade francesa, andou defendendo, arrogantemente, que a Amazônia fosse transformada “em bem público mundial, com gestão coletiva”. Seu desatino verbal fez coro com manifestações de teor parecido, produzidas por outras figuras de presença realçante na cena internacional.

O general asseverou que a cobiça é uma realidade palpável. Sob pretextos de estarem trabalhando em favor da necessária preservação ambiental da área e, ainda, em prol das populações indígenas, compromisso histórico impostergável da sociedade brasileira para com os descendentes dos primitivos habitantes do país, agentes estrangeiros julgam-se autorizados a promover desabridas interferências nas políticas brasileiras da Amazônia. Elementos perniciosos infiltram-se em muitas das milhares de ongs que operam naquela parte do mapa brasileiro. Essa ação danosa coloca sob mira as incomensuráveis riquezas do solo e do subsolo. Riquezas como ouro, nióbio, petróleo, gás, outros minerais estratégicos, que nenhum outro pedaço de chão do planeta tem pra oferecer com tamanha prodigalidade. Ali, igualmente, se concentra o maior reservatório de água doce (20%) do globo. E o que não dizer da biodiversidade da fauna e flora incomparáveis?

O esplêndido pronunciamento deixou claro que a integração social e econômica da região carece ser lastreada numa política inteligente de ocupação de terras, que leve em conta, sim, os aspectos ecológicos e a salvaguarda dos direitos das etnias indígenas. Mas, nas concessões de terras aos índios, releva registrar alguns pontos essenciais: as extensões exageradas das áreas cedidas; a preservação, para que sejam explorados em proveito da nação, dos locais que abriguem as colossais reservas minerais; demarcações que guardem natural distanciamento das zonas fronteiriças, por razões mais que óbvias.

Uma revelação do ilustre militar que deixou muitos tomados de surpresa foi a de que, ao contrário do que se supõe comumente, nenhum metro sequer da parte da floresta correspondente ao Amazonas, maior Estado da região norte, tinha sido alvo, até aquele momento, de qualquer ato devastatório. Outra informação significativa teve como foco a ação construtiva das Forças Armadas naquele espaço dadivoso pertencente ao Brasil. O Exército implantou nas regiões de fronteira dezenas de unidades providas de pistas de pouso e serviços básicos essenciais. Os militares e familiares que as habitam representam a linha mais avançada da presença brasileira em nossos limites geográficos mais longínquos. Deploravelmente, porém, dependências reservadas nas referidas unidades a acolher outros serviços governamentais, jamais, em tempo algum, foram ocupadas.

A palavra do general Lessa, repito, deixou sinal vigoroso no espírito dos que o ouviram. Ficou claramente positivado que a Amazônia não é apenas uma questão de governo, de política pública. Mais do que isso, é questão que clama por uma conscientização plena de toda a sociedade. Brota aí, inevitavelmente, uma interrogação: qual o motivo desse silêncio de tumba etrusca que, na grande mídia brasileira, recobre as palpitantes questões levantadas em torno daquela área, tão fundamentais aos projetos de construção de nosso futuro?

* Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)