Publicado em 13/05/2019 - cesar-vanucci - Da Redação
“O radical é alguém com os pés firmemente plantados
no ar.”
(Franklin Delano
Roosevelt)
Retomamos,
como prometido, o desconcertante tema das coisas estranhas soltas no ar, em
tudo quanto é canto, que andam ensombreando os horizontes na hora presente. São
sinais perturbadores. Provocam espantos e geram inquietações, já dissemos.
A
exacerbação fundamentalista, disseminada mundo afora, fonte matricial de iradas
desavenças que colocam, volta e meia, em xeque a concórdia entre os homens e
alveja, implacável e perversamente, a dignidade humana, dá mostras sobejas de
seus propósitos de sabotar a evolução civilizatória. A pretextos os mais
esdrúxulos, os fundamentalistas de todos os matizes ideológicos esforçam-se por
compor ordem de vida em visceral desarmonia com as crenças humanísticas e
espirituais que apontam os caminhos corretos a percorrer na jornada existencial.
A
ofensiva desvairada de grupos ultraconservadores contra o magnífico Papa
Francisco, acusando-o de herege, é uma demonstração eloquente a mais da conspiração
obscurantista em marcha contra os direitos fundamentais. Tais direitos – vale
anotar sempre - fazem parte indissociável da cidadania humana. Derivam de
recomendações expressamente contidas na mensagem serena e objetiva em prol da
prosperidade social, chegada do fundo e do alto dos tempos. Mensagem que
encontrou num Papa providencial, único grande estadista do mundo contemporâneo,
magistral e convincente arauto.
Em
carta aberta de 20 páginas, elementos pertencentes a retrógrado movimento “integrista
católico” - que estão para a Igreja, no campo das ideias, sem ostentar
obviamente o furor bélico terrorista, assim como os fanáticos jihadistas estão
para o Islã – acusam o Sumo Pontífice de atitudes heréticas. O radical grupo utilizou
sitio dito católico, ultraconservador, intitulado “Lifesitenews”,
frequentemente empregado como plataforma para ataques ridículos às prédicas e decisões
de Francisco, para proclamar que as “palavras e ações do Papa Francisco, ao
longo de vários anos, deram origem a uma das piores crises da Igreja Católica.”
Dos 19 signatários do documento, padres e acadêmicos, o mais conhecido é um
teólogo inglês dominicano, Aidan Nichols. O texto sustenta que Francisco vem se
revelando “negligente” diante de uma lista de assuntos de conteúdo doutrinário.
Os autores são de parecer que ele não tem se posicionado “abertamente o
bastante” contra o aborto. Mostra-se, de outra parte, “condescendente” quanto
ao homossexualismo e “tolerante em demasia” com relação a pessoas que professam
outras religiões, caso dos protestantes e muçulmanos, por exemplo. Trecho
expressivo da crítica se concentra na “Amoris Laetitia” (“Alegria do Amor”, em
tradução livre), encíclica considerada por especialistas básica num trabalho
evangelizador que tende a fazer da Igreja Católica, com seus 1,3 bilhão de seguidores,
instituição mais inclusiva e menos condenadora. No pronunciamento em foco,
Francisco clama por uma Igreja menos restritiva e mais compassiva, que se
capacite a usar mais eficazmente a misericórdia e a caridade na avaliação do
comportamento dos dramas pessoais humanos.
Fica
bem claro, nessa manifestação extremista, que aos críticos de Francisco desagrada
profundamente o combate sem tréguas por ele movido às imposturas que retardam o
desenvolvimento social, impedindo o acesso de multidões de excluídos às
conquistas do bem-estar favorecidas pelos avanços tecnológicos. Os adversários
do Pontífice não ocultam seu desassossego quando ele vergasta a ordem econômica
e geopolítica injusta vigente. Quando condena a ganância e o utilitarismo egoísta
de muitas lideranças influentes na condução dos destinos humanos.
A
verdade, amor, a justiça aplicados ao campo social, acenando com transformações
sociais necessárias e urgentes, convocando a sociedade a práticas ecumênicas e
realizações que se inspirem nas leis naturais para uma construção social justa,
são palavras sábias ditadas por Francisco que esse pessoal de mente obtusa ousa
classificar de heréticas. Não é nada complicado compreender porque esses
ataques a Francisco acontecem nestes tempos violentos onde o jogo das
conveniências de setores poderosos cria obstáculos de difícil transposição no
sentido de impedir sejam molestados privilégios e prerrogativas aviltantes.
Quanto
aos radicais aglutinados na censura a Francisco, a eles se ajusta, com
primorosa adequação, o conceito de Roosevelt que encima este comentário.
Cesar Vanucci - Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)