Publicado em 26/11/2018 - cesar-vanucci - Da Redação
“Tempos mais esquisitos, assim de propostas novidadeiras.” (Antônio Luiz da Costa, educador)
Com tanta coisa desconcertante, fora do esquadro, que
anda pintando no pedaço, resolvi abrir nossa conversa de hoje resgatando
expressão que esteve bastante em voga no passado. Era empregada amiúde como
forma de expressar surpresa diante dos inesperados da vida: - Êta mundo velho
de guerra sem porteira!
E, ao que
parece, sem conserto à vista.
l A marcha dos desesperados.
Uai! O que aconteceu? No que acabou dando mesmo a tal “marcha dos desesperados
centro-americanos”, apontada como séria “ameaça à paz estadunidense”, a ponto
de o governo até mobilizar tropas para contê-la? Por que carga d’água, depois
de tão estrondosa cobertura televisiva, não mais se ouve falar bulhufas a
respeito? A explicação para esse silêncio de tumba etrusca que se abateu sobre
a candente questão provavelmente esteja contida no singelo relato da sequência.
No meio de papo descontraído com dileto amigo,
residente nos Estados Unidos, pessoa com atilada percepção das coisas deste
mundo de Deus onde o tinhoso costuma arrendar espaço pra malvadezas, deparo-me
com estonteante revelação. A “marcha dos desesperados”, que teria, semanas
atrás, arrebanhado legiões de salvadorenhos, hondurenhos e guatemaltecos na
direção dos Estados Unidos, à cata de condições melhores de vida, não passou,
com o perdão da má palavra, de uma tremenda (vá lá)... “fake news”. Baita
invencionice, estimulada (por quem será mesmo?) pela Casa Branca com fitos
claramente eleitoreiros. O “risco” de uma invasão maciça de gente sem eira nem
beira, às vésperas do recente pleito realizado no país de Donald Trump, configurou,
no duro da batatolina, uma aprontação retórica para atrair voto e reduzir
impactos da presumível derrota republicana nas urnas. Atônito com a inesperada
informação que me foi passada, propagada vastamente, ao que fiquei sabendo, nos
veículos de comunicação americanos não comprometidos com as amolecadas
estratégias da propaganda oficial, indaguei de meu interlocutor como explicar,
então, as profusas imagens dos caminhantes despejadas em fotos e vídeos pelas
agências de notícias mundo afora. O esclarecimento foi dado de pronto: as cenas
retratadas foram colhidas em outros diferentes momentos, pontuando situações
que ocorrem, com certa frequência, nas imediações da fronteira dos Estados
Unidos com o México. Por sinal, muitas autoridades americanas compareceram a
público para denunciar o embuste. A farsa praticamente se desfez, assim que
encerrada a campanha eleitoral. O bombardeio midiático – como acentua este meu
amigo – praticamente cessou. “Êta nois!”
l O casamento de Konda.
Akihiko Konda, 35 anos, professor, morador de Tóquio, montou dispendiosa
cerimônia festiva, nos devidos trinques, mode que celebrar seu matrimônio. O
lance inusitado na história correu por conta da esposa do dito cujo. Não se
trata de uma parceira enquadrada nos padrões tradicionais. A “esposa” Hatsune
Miku, por quem o cara confessa haver se apaixonado perdidamente ao primeiro
olhar, há mais de uma década sua “verdadeira alma gêmea”, é uma cantora
projetada a partir daquilo que se convencionou denominar “realidade virtual”.
Não passa de um holograma. Noutras palavras, uma figura de desenho animado. Tem
16 anos, olhos arregalados e longo rabo de cavalo da cor azul. A “jovem” se
movimenta e fala com a ajuda de um dispositivo de mesa adquirido por 11 mil e 200
reais. Konda considera-se o homem mais feliz do planeta, conforme depoimento
aos jornalistas. A amada “companheira-holograma” acorda-o todas as manhãs,
despedindo-se com carinhosas palavras quando ele sai de casa para trabalhar. De
habitual alegre, na convivência com os amigos, o japonês fica, todavia,
entristecido quando se reporta à formal recusa da mãe e de parentes chegados em
compartilharem com ele as deleitosas emoções das badaladas núpcias matrimoniais.
l Brasileiros divididos. E, no
final do papo de hoje, aqui vem “mais uma prova”, documentada em interessantíssima
charge do Adão Iturrusgnai, na “Folha”, da propalada e deplorada “divisão dos
brasileiros”: “50% das pessoas usam calças jeans rasgadas pelo uso; os outros
50% compram jeans rasgados de fábrica.”.
Cesar Vanucci Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)