Publicado em 20/09/2019 - cesar-vanucci - Da Redação
“Universo, irmão mal conhecido.” (Jean Wahl, poeta)
A aventura humana é tecida
de infindáveis interrogações. As perguntas espocam em número infinitamente
superior às respostas. Num contexto desses, de proporções colossais, a ciência
é gota. Os fenômenos investigados, na longa espera da decifração, são um
oceano.
Na hora em que telescópios
super poderosos em matéria de propriedades tecnológicas apropriadas pelo homem,
devassando interrogativamente o espaço sideral, dão-nos conta da existência, em
pontos distantes de outras galáxias, de corpos celestes ostentando características
assemelhadas às deste nosso planeta azul, é perfeitamente compreensível e natural
o reacender da sempre momentosa discussão em torno da existência de vida inteligente
nas demais paragens da infinitude cósmica. Embora intuída pela grande maioria
das pessoas, a tese da pluralidade de mundos habitados ainda não é oficialmente
admitida pela ortodoxia científica, sendo raivosamente contestada pelas
aguerridas falanges do integrismo religioso.
Hoje já não é bem mais
assim. Mesmo que se leve em conta o patrulhamento ostensivo no campo das ideias
largamente praticado pelas correntes fundamentalistas radicais. Mas tempos
houveram em que as pessoas de mente aberta cuidavam de trancar a sete cadeados
suas crenças na “sacrílega” hipótese linhas acima aventada. Resguardavam-se,
com justificáveis temores, das consequências práticas de ideias “tão extravagantes”
virem a cair nos ouvidos de zelosos e temidos guardiães dos conhecimentos
científicos e religiosos dogmaticamente consolidados. A crônica histórica está
coalhada de doloridas manifestações inquisitoriais das mais diversificadas
tendências
A ortodoxia científica,
mesclada de fanatice religiosa, fixava conceitos inamovíveis. Contestá-los
representava risco a que ninguém queria, obviamente, se expor. As proclamações de um luminar qualquer,
revestido de pompa e autoridade, tinham força de inabalável mandamento divino.
Ái daquele que ousasse contradizer, por exemplo, a “certeza” de que, lá no
inatingível ponto em que as águas do mar (povoadas de terríveis monstros) e o
horizonte se fundem, ficava a borda de um precipício aterrorizante! Ou a
assertiva de que o sol e os demais corpos celestiais do firmamento giravam em
torno da Terra! Ainda agora não há quem, “redondamente” equivocado, sustente a
tese da “terra plana”?
Retomemos o papo sobre as
descobertas, nos confins cósmicos, de mais de um astro de configuração similar
ao nosso planeta. Muitas especulações, a partir dessas constatações, emergem a
respeito da possibilidade de se abrigarem, nesses longínquos ermos, espécies de
vida inteligente como as que conhecemos aqui. A inviabilidade de respostas a
curto ou a médio prazo, considerados
sobretudo os milhares de anos-luz que separam um planeta do outro, gera
logicamente um monte de elucubrações. Vamos supor que os locais apontados favoreçam
o desenvolvimento de civilizações com as mesmas peculiaridades oferecidas pela
nossa morada terrena. A evolução tecnológica desenvolvida ali se situaria em
estágio superior ou estágio inferior ao daqui? Adiante. Conservemos sob mira a
transformação assombrosa que este nosso mundo velho de guerra experimentou nas
últimas décadas. Suposições a respeito do que poderia vir a acontecer, em
matéria de mudanças, num ciclo evolutivo de mil ou dois mil anos a mais, remetem-nos,
naturalmente, a projeções e perspectivas fantásticas. Não apenas tão
fantásticas quanto a gente consiga imaginar. Mas muito mais fantásticas do que
a gente jamais conseguirá imaginar.
A ciência garante (será
mesmo?) não dispor ainda de elementos para proclamar oficialmente a existência
de vida inteligente fora do orbe terráqueo. Sob esse aspecto, os estrondosos
avanços tecnológicos espaciais valeram pouco. Continuaríamos, praticamente, a
propósito, no mesmo patamar informativo científico dos remotos momentos da
censura ameaçadora que impedia a discussão aberta, transparente, do instigante
tema. Isso, todavia, não é de natureza a impedir que muita gente, já consciente
de sua cidadania cósmica, em diferentes cantos desta imensa pátria terrena,
paradoxalmente uma ilhotinha perdida num oceano infinito, repleto de situações
inexplicáveis, composto de zilhões de astros - entre eles os tais planetas que
guardam similitudes com o nosso -, aceite, pacificamente a ideia de que estamos
sós no universo. “Aceite” a ideia sem franzir o sobrecenho, sorriso maroto
pendurado nos lábios, em sinal de desbordante dúvida.
Cesar Vanucci - Jornalista (cantonius1@yahoo.com.br)