Deputado Sávio destaca Semanário como agente favorecedor da democracia

Publicado em 05/08/2010 - cidade -

O discurso do Deputado Estadual Sávio Souza Cruz (PMDB), autor do requerimento que viabilizou a homenagem na Assembleia Legislativa de Minas pelos 20 anos desse Semanário. A solenidade ocorreu na segunda (02), no Plenário Juscelino Kubitschek. Abaixo a integra do discurso:

"A quem retorna no tempo e desentranha dos arquivos do passado a história de Muzambinho é fácil constatar que esse município exerceu, desde os seus primórdios, uma função aglutinadora e convergente em toda uma vasta região do sul e do sudoeste mineiro.
De início, assim que passavam as bandeiras à cata do ouro, um ou outro aventureiro, avaliando as possibilidades da lavoura e da criação de gado, começou a fixar raízes na região. Aos pioneiros, no curso do tempo, vieram somar-se negros fugidos e descendentes de portugueses errantes. Os negros, que eram a maioria, habitavam mocambos, mocambinhos, e ofereceram aos cursos d´ água na região os nomes Muzambo e Muzambinho, o último dos quais viria a ser adotado mais tarde como denominação da localidade quando ela já estivesse formada.
Naquele tempo antigo, contudo, na extensa vastidão de Minas, ainda um Eldorado inexplorado a conquistar, a população incipiente que crescia em torno dos mocambos tomava o arremedo de um arraial, um povoado. E de tal forma ia ele ganhando consistência que, em 1866, a Lei Provincial n° 1.277 tomou conhecimento dele oficialmente, dando a ele o status de distrito e estabelecendo a sua subordinação ao município de Cabo Verde. Não se passaram mais que 12 anos a partir de então para que, em 1878, uma nova Lei Provincial, a de n° 2.500, elevasse o distrito à categoria de vila, já com a denominação de Vila de Muzambinho. Em 1880, dois anos depois, editada nova Lei Provincial, a vila passou à condição de município.

Foi a vez, então, de o município de Muzambinho passar de agregado a agregador e começar a anexar distritos: o de São Sebastião da Barra Mansa lhe foi subordinado em 1891 e, em 1911, o de Monte Belo. Desmembrados posteriormente em novos municípios, os dois distritos e mais a condição prévia de distrito da própria Muzambinho mostram como foi que, naquele tempo de formação do mapa político de Minas, as imprecisas fronteiras, os cambiantes limites distritais e municipais colocam Muzambinho como ponto de interligação entre arraiais, povoados, populações, economia, costumes, falares e tradições.
Mais de um século depois, a posição aglutinadora de Muzambinho volta a evidenciar-se, desta vez não na esfera geopolítica, mas na da comunicação, com a trajetória paulatinamente crescente do semanário A Folha Regional. Nem de início, esse jornal quis ser meramente A Folha de Muzambinho. Radarizando corretamente o passado da cidade onde tem sua sede, A Folha Regional, desde a sua fundação em 1990, pretendeu retratar toda a densa realidade dos municípios próximos de Muzambinho, os quais formam um colar de nada menos que 23 cidades numa das mais ricas e prósperas regiões de Minas. Além de Muzambinho, também Alfenas, Alterosa, Arceburgo, Areado, Bandeira do Sul, Bom Jesus da Penha, Botelhos, Cabo Verde, Conceição da Aparecida, Divisa Nova, Guaranésia, Guaxupé, Itamogi, Jacuí, Juruaia, Monte Belo, Monte Santo de Minas, Nova Resende, Poços de Caldas, São Pedro da União e São Sebastião do Paraíso estão juntos dentro da área de abrangência d´A Folha Regional.
Todas as principais conquistas e tragédias transcorridas em cada um desses municípios são regularmente estampadas nas páginas do semanário; todos os personagens em evidência têm o seu perfil decantado nas mesmas páginas; todas as festas e congraçamentos, os esportes, os eventos nas escolas e em todas as comunidades ganham espaço também nessas páginas. Com esse escopo, o semanário tornou-se o espaço que, a um tempo, recolhe e partilha, registra e devolve, torna de conhecimento comum, contribuindo decisivamente para a formação de uma identidade regional e de um sentimento especial de solidariedade entre a população dos 23 municípios dessa forma irmanados.
Toda essa representatividade em nível regional não se manifestou de imediato, num estalar de dedos, de um dia para o outro. Mesmo que fosse ela a que correspondia à ampla visão e aos arrojados projetos do dinâmico jornalista Vagner Alves, ela só foi obtida gradativamente, passo a passo, num trabalho que requereu paciência, determinação, coragem, fé, competência e profissionalismo. Uma equipe coesa, especializada, sob a competente batuta de Vagner Alves, somou continuamente nesses 20 anos, de tal modo A Folha Regional, na passagem do significativo aniversário, apresenta-se como uma publicação consolidada, reconhecida e valorizada.
História e idealismo, vocação local e profissionalismo. Esses fatores, se importantes, não são, contudo, os únicos que sustentam a posição consolidada d´ A Folha Regional. Possivelmente em grau maior, tal posição se deve à credibilidade do semanário e essa, por sua vez, deriva do compromisso com a imparcialidade e a objetividade, duas âncoras da qualidade do bom jornalismo.
Se se pergunta a algum estudioso da comunicação, ele por certa afirmará que toda notícia é uma versão e que a realidade objetiva, alma da verdade, é de acesso impossível à avaliação humana. Humberto Maturana, por exemplo, ensina que “o observador é parte do observado”, pois aquele que observa não escapa da contingência de fatiar o fato observado e de fazer incidir seu foco de luz sobre a fatia a que seu próprio olhar é mais sensível. “Não existe opinião pública”, já disseram outros, “o que existe é opinião publicada”, apenas existe a versão que, aprisionada em palavras, apresenta-se como se fosse a expressão exata da verdade. A objetividade e a imparcialidade jornalísticas seriam, em conclusão, apenas um ideal a perseguir, um norte, um lema, o esquivo traçado de um roteiro.
Mesmo subscrevendo as considerações de tantos estudiosos, julgamos que a ética e a responsabilidade conseguem interpor fronteira entre a percepção naturalmente inexata do homem, sua capacidade insuficiente de leitura e a deliberação de deformar propositadamente a realidade. É deformador, por exemplo, o sensacionalismo, que tanto cansa atualmente nossas retinas ao insistir em focalizar detida e repetidamente os circos de horrores que brutalizam nosso cotidiano. É deformadora a espetacularização, que transforma em teatro os dramas ou alegrias das pessoas, devassa a intimidade e busca com sofreguidão os sinais exteriores de riqueza. Muito especialmente em nosso tempo, são deformadoras as verbas publicitárias oficiais. Minas Gerais é, nos últimos tempos, acabado exemplo de que o Estado anunciante exerce sobre a informação um papel cerceador mais forte que o dos canhões da ditadura. Invisíveis a olho nu, as verbas publicitárias atuam de forma dissimulada e, por isso, seu efeito é mais perverso. Sem que a comunidade se dê conta, elas alcançam favorecer que a opinião publicada seja a do interesse do governo e, ao assim fazer, minam subliminarmente a disposição para a contestação e adormecem a consciência crítica, vindo a comprometer substantivamente o processo de amadurecimento da cidadania.
A Folha Regional, muito felizmente, escreve história na via oposta à dessas tragédias da comunicação moderna. Em suas páginas, têm expressão com igual força os partidos políticos de diferentes colorações e as autoridades de diferentes partidos; nelas encontram lugar as correntes diversas de pensamento, as mais variadas crenças; nelas comparecem os mais distintos segmentos da sociedade, do mais anônimo cidadão à figura que alcançou posição de maior destaque; nelas se retratam tanto os fatos felizes quanto os infelizes, sem diferença de proporção. Ao trazê-los todos para suas páginas, A Folha Regional, que não se omite diante de desmandos, limita-se a reportar e a retratar, abrindo mão de toda carga de tinta que amesquinhe, deturpe, corroa ou exagere e, ainda, evitando concluir, de tal modo se preserve o direito de decisão de cada leitor. Equilíbrio e isenção, eis o que em poucas palavras resume o perfil d´A Folha Regional.
É indiscutível, por esse ângulo, o papel que o semanário exerce como agente favorecedor da democracia e isso num país que apenas há muito pouco tempo, há menos de três décadas, começou efetivamente a escrever sua história em direção ao estado democrático de direito, o único capaz de atestar a maturidade política de um povo.
Com essas credenciais, A Folha Regional chega a seus 20 anos como exemplo de bom jornalismo. Sentimo-nos gratificados a celebrar nesta Assembleia, em nome do povo mineiro, a passagem desse aniversário, pois podemos constatar que não é apenas uma data o que celebramos, mas a qualidade de um grande semanário do interior mineiro. A Folha Regional, possivelmente por entender que é a partir de sua aldeia que um aldeão faz a leitura do mundo, defende que “o melhor jornal do mundo é o jornal de sua cidade”. Nós entendemos nesta Assembleia que há outras razões justificando essa acertada epígrafe. Se é certo que A Folha Regional oferece à região a própria imagem, certo é também que ela o faz com plena responsabilidade, dona de uma postura que a qualifica como prestadora de um serviço de verdadeira utilidade pública. Por essas razões excepcionais, Senhores, Senhoras, A Folha Regional efetivamente oferece à região a que serve o melhor jornal do mundo. Muito obrigado".