
Nosso Brasil é formado de muitas raças, pode ser chamado de Pátria de todas as Pátrias.
Não é diferente em nossa Muzambinho, aqui se fez berço de muitos imigrantes italianos, espanhóis, portugueses, sírios, libaneses, índios e alguns suecos.
Em sua maioria italianos, por volta de 1915, começava a chegar em Muzambinho, entre outras a família Bócoli. Pequena, no seu início. Compunha do casal Maria Dalbon e Antônio Bócoli e seus seis filhos, alguns recém-casados. Seus primeiros anos de Brasil foram em São José do Rio Pardo, eram colonos.
 
Com muito trabalho e economia conseguiram comprar uma pequena gleba de terra, sendo a maior parte constituída de mata, o que para eles não era problema, pois não tinham medo do trabalho e nem mesmo do que pudessem encontrar dentro das matas.
O que encontraram entre tantas coisas foram boas nascentes de água, madeira de lei e logo constataram que era terra de muita cultura.

Foram desbravando o serrado a golpe de machado e foice, organizaram um casebre que havia ali, ainda feito por filhos de escravos.
Nos primeiros anos todo trabalho era em torno da formação das primeiras lavouras de café. As lavouras se tornaram produtivas, então construíram uma casa grande e passaram a viver um pouco melhor.
Todos habitavam na casa dos pais: solteiros, casados e netos. Com o tempo foram construindo suas casas, formando assim os Bócoli.
A família não tinha hábito de contratar empregados, todo trabalho era feito por eles próprios: montaram uma olaria para construção dos terreiros de café, tulhas, igrejinha, entre outras coisas.
O aterro que foi feito no terreiro de café era mais ou menos assim: um grupo cavava de enxadão tirando a terra solta; outro grupo atrelava um couro de boi a um animal e assim transportavam a terra para o aterro. Esses terreiros são os mesmos que secam café até hoje.
Sempre houve bom entrosamento entre a Família Bócoli e o Município de Muzambinho. Com a produção de café sempre aumentando, era natural que gerasse capital para o município, comprando mais, consumindo mais.
Na metade da década de 20, cada um tinha o seu carro importado.
Quando ocorreu a quebradeira de 1929, os Bócoli, assim como todo país, foram muito prejudicados. Perderam todo capital que possuíam, só lhes restaram as terras e a coragem para começar tudo de novo e, como tinham muita fé, reconstruíram tudo.
Nunca perderam a oportunidade de nos passar dignidade e muito amor.
Os netos foram chegando em penca. Em 1998, Maria Lúcia Silva de Lima, Evandro Moreira e José Francisco da Silva conseguiram montar a árvore genealógica e, constatou-se então, que havia 1042 descendentes e ascendentes do casal que saiu da Itália com apenas dois filhos pequenos, muita coragem para o trabalho e muito amor no coração.
Nossa confraternização acontece há oitenta anos. Todos os anos, no mês de novembro, é celebrada uma missa em ação de graça na igrejinha dos Bócoli com a participação de mais da metade da família. A missa é celebrada pelo Padre Francisco que se emociona e também emociona a todos.
A família numerosa se espalha por todo Brasil e, neste evento, podemos reencontrar familiares, conhecer os mais novos e, assim, matar saudades.
Estamos iniciando a sétima geração com a Beatriz, minha primeira bisneta.
Com os olhos marejados de amor quero, em nome da família Bócoli, parabenizar nossa querida Muzambinho de ontem, de hoje e de sempre.
Maria Ignez Bócoli Martins