Um breve esboço da Criação, da vida e obra de Jesus Cristo, da História da Igreja Cristã, da Reforma Protestante, as origens e fundamentos do Presbiterianismo no mundo e no Brasil.
“Até aqui o Senhor cuidou de nós” - (2 Parte)
* CRISTIANO CARVALHO DE ALMEIDA LIMA
Prosseguindo o último artigo que escrevemos no prestigiado jornal “A FOLHA REGIONAL”, com o mesmo título, dissemos que partiríamos da Igreja Cristã Primitiva, que continuou a “Grande Comissão” de nosso Senhor Jesus Cristo, no “Ide e fazei discípulos de todas as nações”.
No plano intelectual no século I, o movimento filosófico grego, no que se referia a assuntos relacionados com a Verdade, estava em amplo declínio. Destacavam-se nesta época duas correntes filosóficas gregas, quais sejam: o Epicurismo e o Estoicismo, estas correntes se destacavam e eram respeitadas, porém, “nenhuma delas satisfazia a mente dos homens no que respeitava às questões fundamentais e urgentes, como as do pecado e da vida futura. (....) O Epicurismo era muito superficial, interesseiro e egoísta. O Estoicismo, não obstante seus nobres ensinos de moral exercerem larga influência, era muito falho no que respeitava à simpatia humana. Entre os homens de raciocínio profundo havia forte sentimento de insatisfação, um desejo ardente de encontrar solução para os problemas cruciais da vida”. [1] Desta forma, é de se observar que até mesmo o ambiente intelectual necessitava de algo mais, algo que tocasse não só a mente, mas também o espírito das pessoas.
Panorama Histórico (100-313 d.C.)
O Cristianismo sofreu fortes ataques por parte do Império Romano até o ano de 313. Os Cristãos, em especial, pessoas “anônimas”, exerciam sua fé com destemor e assim expandiam o Cristianismo por toda parte, muitos deles foram açoitados e mortos por defenderem a fé Cristã, alguns negaram-na para não serem mortos. Tivemos grandes apologistas da fé Cristã, pessoas de extraordinária capacidade intelectual, como Justino, o Mártir (100-165), era um Grego, natural da Palestina; Tertuliano (150-222), grande advogado cartaginês. Tivemos ainda, pessoas que realizaram o trabalho de mestres nas igrejas, dentre eles destaco Orígenes de Alexandria (185-253), filho de pais crentes, em sua época não havia pessoa que o igualasse em sua capacidade cultural, ainda com 18 anos de idade, tornou-se mestre de uma escola de catequese da igreja de Alexandria, conhecido por Cristãos e não-Cristãos, escreveu muitos livros e um bom número de comentários sobre alguns Livros da Bíblia, que ainda hoje são de muito valor para os estudiosos. O Cristianismo nesse período, a despeito de grandes ataques e hostilidades expandiu grandemente sua influência e alcançou muitos adeptos.
A Igreja Católica (não é ainda a Romana, nem a Ortodoxa)
No primeiro século da Era Cristã, as igrejas eram independentes, ou seja, não havia governo que exercesse autoridade sobre mais de uma igreja, isto ocorreu até parte do século II. “Mas no terceiro quartel do 2° século, começou a surgir uma organização que depois veio a ser conhecida como Igreja Católica. O termo “católica” quer dizer ‘universal’. Esta foi uma federação ou associação de igrejas que eram ligadas por um acordo formal. (...) No 1° século, as igrejas tinham uma unidade espiritual, pelo amor, unidade baseada na fé em Cristo. No 2° século, além da unidade espiritual havia também uma unidade exterior”. [2]
Naquela época, foi importante esta união via organização ou federação ‘Católica’, visto que nesse período, haviam movimentos que disseminavam confusão na massa, no tocante a fé Cristã, estes movimentos foram o Gnosticismo e o Montanismo. O Gnosticismo, segundo os heresiólogos (defensores do Cristianismo contra as heresias) da primeira metade do século XX afirmavam que o Gnosticismo “desviavam os cristãos mediante a manipulação das palavras e a torção dos significados das Escrituras. De interesse especial aos intérpretes gnósticos eram as histórias de Gênesis, o Evangelho Segundo João e as epístolas de Paulo. Usavam os textos bíblicos visando seus próprios propósitos. Na realidade, gnósticos com Herácleon e Ptolomeu foram os primeiros comentaristas do quarto evangelho. Os heresiólogos consideravam o gnosticismo como o produto da combinação entre a filosofia grega e o cristianismo. (...) A escola da História das religiões, da qual Hans Jonas é um expoente contemporâneo, tem desafiado esta definição. Segundo Jonas, o gnosticismo é um fenômeno religioso geral do mundo helenista e é o produto da fusão entre a cultura grega e a religião oriental. A ‘conceptualização grega’ das tradições religiosas orientais – isto é, o monoteísmo judaico, a astrologia babilônica e o dualismo iraniano – é vista como a base para o gnosticismo”. [3] Já o Montanistas “sustentavam que as autoridades da Igreja estorvavam a ação do Espírito, e se opunham ao poder sempre crescente que se desenvolvia no ministério”. [4] Pelo exposto, devemos observar que a organização Católica naquele período histórico se fez necessário para expurgar certas heresias que confundiam o povo e ameaçavam infiltrar na igreja Cristã. No século 3º surgi a idéia de que o ministro Cristão é um sacerdote, isto é, que ele permanece entre o homem e Deus. Paralelamente, surge a idéia de que a Ceia do Senhor era um sacrifício oferecido a Deus em favor do povo. Buscando uma idéia de uma moral mais elevada, no 4° século tornou-se lei na Igreja Ocidental o celibato entre os clérigos. “Naturalmente, a idéia do sacerdócio ligava-se especialmente à pessoa do bispo. O ofício de Bispo era então muito elevado. Atribui-se-lhe autoridade divina que o capacitava a ensinar a verdade cristã sem cometer erros. Atribui-se-lhe mais poder divino para declarar os pecados perdoados”. [5] A proporção que as cidades iam crescendo, aumentavam o número de crentes nestas cidades, bem como adjacências, passando, portanto, o Bispo a pastorear mais de uma igreja, ficando todos estes Cristãos sob o governo do Bispo da igreja-mãe (matriz). No ano de 251, a igreja de Roma, a maior das igrejas, tinha mais de 150 clérigos de várias categorias. Neste sentido, percebemos como vai ocorrendo uma centralização gradativamente em torno de algumas igrejas, em especial na igreja de Roma, que passara a reivindicar a autoridade geral, esta é reconhecia no século III no Ocidente, mas, não no Oriente.
Panorama Histórico (313-590 d.C.)
No ano de 313 d.C. Licinio então Imperador Romano e Constantino que era seu concorrente ao trono imperial romano, se encontraram e assinaram o Édito de Milão, concedendo plena liberdade ao Cristianismo. Em 323 Constantino derrotou Licinio e tornou-se o único governante do mundo romano. Com seu tino político decidiu unificar o império. “Constantino sentiu que o Cristianismo não poderia ser destruído, pois se fortificava cada vez mais. (...) Sem dúvida, percebeu também que, se o Cristianismo fosse ajudado e se tornasse bastante forte, seria um poderoso elemento para a unificação de todos os povos do império. Sem dúvida, teve simpatia pessoal pelo Cristianismo, mas nunca demonstrou em sua conduta qualquer influência da moral Cristã. (...) Constantino revolucionou a posição do Cristianismo, (...) mostrou-se favorável ao Cristianismo, fazendo ofertas valiosas para a construção de igrejas, manutenção do clero e isentando-o dos impostos. Juntou as águias dos seus estandartes ao lábaro, o símbolo de Cristo. (...) Por todo esse tempo não foi Cristão professo, pois não recebeu o batismo até pouco antes de morrer. Ele não tornou o Cristianismo a religião oficial do império. A antiga religião foi mantida. (...) Mas seu interesse e auxílio deram ao Cristianismo uma posição de indiscutível prestígio”. [6] Diante do exposto, o que se observa após o Édito de Milão, em que Licinio e Constantino estabeleceram a paz religiosa e, posteriormente com o apoio e simpatia de Constantino para com o Cristianismo, passaram inúmeras pessoas de dentro do Império Romano, bem como da população a se filiarem ao Cristianismo, sem que fossem convertidos, ou ao menos conhecessem suas doutrinas. Com esta mistura de pessoas Cristãs convertidas, piedosas e praticantes e, Cristãs meramente declaradas, foi surgindo imoralidades, desconhecimento da fé Cristã, vindo então a surgir heresias e inovações ao Cristianismo, que não existiam no período de Jesus Cristo, bem como totalmente diferente da Igreja derivada dos Apóstolos (Igreja Cristã Primitiva). Como já falamos em tópico acima, em determinado período a organização ou federação Católica, que quer dizer Universal, foi importante, mas, por ser a mais articulada do ponto de vista de união com várias igrejas, de várias partes do Império e fora deste, passou a incorporar as imoralidades, sensualidades e questões relacionadas ao paganismo que faziam parte do Império Romano. Começou, portanto, o Cristianismo, paulatinamente a se degradar do ponto de vista moral e também começaram a surgir inovações, que NÃO EXISTIA NO PERÍODO DE JESUS CRISTO, NEM DOS APÓSTOLOS, NEM INÍCIO DA IGREJA CRISTÃ PRIMITIVA. Nesse sentido, podemos citar inovações anti-bíblicas, como as que seguem: Em 375 foi instituído o culto aos santos; em 431 institui-se o culto a Maria, a partir do Concílio de Éfeso, cidade em que era adorada Diana dos Efésios, divindade feminina pagã; em 503 surgiu a doutrina do purgatório; em 783 foi adotada a adoração de imagens e relíquias; em 1090 inventou-se o rosário e; em 1229 foi proibida a leitura da Bíblia.
Dessarte, algumas pessoas afirmam que a Igreja Apostólica era – ou é – a Igreja Católica Romana, mas isso não é verdade, senão vejamos: 1) A Igreja dos Apóstolos não adotou nenhum nome específico. No Novo Testamento é chamada apenas de Igreja e, historicamente é conhecida como Igreja Primitiva. 2) O sistema de governo e a organização da Igreja Primitiva, suas doutrinas e sua liturgia, eram bem diferentes do que é praticado pela Igreja Católica Romana. 3) O fato é que a Igreja Católica Romana surgiu de transformações e inovações da Igreja Primitiva, que infelizmente afastaram da Igreja e dos ensinos de Jesus Cristo. Estas críticas que fiz, não são para acirrar os ânimos entre a Igreja de Roma e nós Cristãos Protestantes, mas, para simplesmente estabelecer a verdade dos fatos, qual seja, a origem da genuína Igreja Cristã, que tem seu início com o período em que Cristo esteve aqui na Terra, fundou sua Igreja, que teve seqüência com a Igreja Apostólica ou Igreja Cristã Primitiva, que não adotou nenhuma das inovações que foram criadas e citadas logo acima por mim. Pois, em que pese as minhas fortes influências Reformadas (Calvinistas), amo os meus irmãos Cristãos Católicos Romanos e Ortodoxos, assim como amava Martinho Lutero, que era um Monge Agostiniano Cristão Católico, que queria apenas Reformar algumas práticas errôneas na Igreja, dentre elas a venda de indulgências para financiar a construção da Basílica de São Pedro em Roma (hoje no Estado do Vaticano), mas, diante da negativa da Igreja e conivências com as imoralidades e corrupção dentro da Igreja de Roma, não lhe sobrou alternativa, senão afixar as 95 Teses na porta da igreja do Castelo de Wittenberg, na Alemanha, no dia 31 de outubro de 1517.