Publicado em 07/05/2017 e atualizado em 07/05/2017 - especial - Da Redação
A Música Popular Brasileira está de luto. Faleceu um dos seus maiores nomes. O cantor e compositor Belchior deixa saudade, lembranças e um legado de qualidade musical. Longe dos palcos, residia no Rio Grande do Sul, foi velado em Sobral (sua terra natal) e sepultado em Fortaleza/CE.
Vale lembrar a passagem de Belchior pelo Sul de Minas em 1997. No mês de março daquele ano, exatamente no dia 15, ele se apresentou em Guaxupé e falou com exclusividade a este editor. Na entrevista concedida a mim (foto), Belchior falou sobre o novo CD, no qual repassava algumas canções dos mais importantes compositores de sua geração. Contou que realizava mais de 100 shows por ano em Minas Gerais, assim se considerando um “mineiro honorário”.
Em 1997, Belchior acabou se afastando dos palcos e meio artístico, desiludido com o nível musical da época. Foi, então, morar no Uruguai. Com certeza, este “nível musical” continuou deteriorando ao longo dos anos. Hoje, infelizmente, verdadeiras aberrações acabam ganhando espaço na mídia. É raro surgir alguma coisa boa que transmita musicalidade e poesia na Música Popular Brasileira.
Confira a homenagem da muzambinhense Daiane Del Valle
Para Belchior com carinho
Querido Bel, você já não sente e nem vê, mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo, que uma nova mudança em breve vai acontecer e toda a sua obra que embalou a luta dos meus pais na juventude em busca de seus direitos, embalam a minha luta também.
O dedo em V, cabelo ao vento, amor e flor, quê de um cartaz. O novo sempre vem, Bel. Afinal, o mundo inteiro está naquela estrada ali em frente. Já é outra Viagem. E por falar em viagem, quantas fizemos juntos não é, Bel?
Trago de cabeça uma canção do rádio, naquele sábado em SP, aquela rodovia, meu coração selvagem tinha pressa de viver, cantamos juntos pelo caminho deixando de lado a certeza e arriscando tudo de novo com paixão!
Que se preserve do passado o que foi bom.
Mesmo que seja uma roupa que não nos sirva mais.
Meu querido rapaz latino americano, hoje á caminho do trabalho ouvindo alucinação, lembrei que me disseram que você morreu. Morreu nada. A qualquer momento que eu quiser dá pra te encontrar, mais vivo, mais rejuvenescido, o bigode maior e mais preto, a voz mais esquisita e maravilhosa, vinda ao mesmo tempo de dentro do peito, do fundo da memória, de algum lugar aqui da América do sul.
Belchior, meu velho, nunca haverá de morrer, mas ando descontente. Eu ainda sonhava em ver esse bigode novamente em um palco qualquer sob o céu deste Brasil.
Eu sonhava em crescer e ser o que você era. Cantar o amor como você cantava, reclamar da vida como você fazia, da injustiça e do vil metal. O álbum Alucinação completou 40 anos de lançado e eu que tenho 25 anos de sonho, de sangue e já o ouço pelo menos desde os 10 anos, sem ter mudado uma linha do que quero pra mim: continuo sonhando a voz grave preenchendo minha música de amor, sonho, e o mais puro espírito de liberdade.
O Jovem que desceu do norte pra cidade grande, para o norte retornou, pelas paralelas, agora sem medo de avião, voando com suas próprias asas, eu aqui no sudeste, mas com o coração em Sobral acompanhei com o olhar e na parede da minha memória essa lembrança é o quadro que dói mais.
Contigo em mim e ainda em ti vou indo em dois.
Até mais ver, meu camarada!
Texto por Daiane Del Valle - Muzambinho/MG