Publicado em 07/04/2015 - esportes - Da Redação
A invencibilidade no Campeonato Mineiro e a classificação às semifinais em primeiro lugar não são meras questões do acaso para jogadores, comissão técnica e diretoria da Caldense. Fora das quatro linhas, o clube se preparou muito desde a última temporada para festejar agora seu melhor momento nos últimos anos. Optou por aprimorar a estrutura de trabalho e dar melhor suporte à comissão técnica liderada por Leonardo Condé, com passagem pelas categorias de base do Atlético e pelos profissionais do América. Ao longo do Estadual, o time do Sul de Minas colecionou façanhas que empolgaram seus torcedores: venceu o Atlético, conseguiu igualdades com América e Cruzeiro, em Belo Horizonte, e massacrou o Mamoré por 6 a 1 na primeira rodada, a maior goleada da competição.
Com a conquista da vaga na Série D do Brasileiro, a equipe garantiu calendário cheio até o restante da temporada e a diretoria já pensa na formação do grupo para disputar pela primeira vez a competição nacional. A folha salarial gira em torno de R$ 120 mil, uma das mais baixas do interior. Vivendo dificuldades financeiras, o clube investiu em reforços mais baratos.
“Nosso planejamento foi feito em 2014. Mantivemos o Leo Condé e boa parte do time. Essa classificação com duas rodadas de antecipação chega a nos surpreender, porque temos um dos menores orçamentos entre os times do interior. Mas esse sucesso se explica porque sempre honramos os compromissos em dia. Aqui os jogadores não ficam sem receber salários. A organização do departamento de futebol é rígida e perfeita nesse sentido”, explica o diretor de marketing Paulo Ney, que vai tentar garantir a permanência do treinador até o fim do ano, mas que fica na dependência do acordo financeiro.
Para o zagueiro Marcelinho, um dos destaques da equipe no Estadual, agora é necessário manter a concentração: “Terminamos de forma invicta, mas temos de comemorar sem exageros. Desde o início, mostramos união e respeito aos adversários e não menosprezamos nenhuma equipe”.
ESPECIALIZADOS A Caldense tradicionalmente é um voltada aos esportes especializados. Além do futebol, incentiva a formação de atletas de 11 modalidades, com destaque para o vôlei, o squash, o futsal e o basquete. A Veterana conta com 11,4 mil sócios e 3,5 mil cotistas que podem semanalmente utilizar os clubes de lazer em Poços de Caldas. Isso ajudou a criar uma identidade com a torcida, que conta com pacotes especiais para assistir aos jogos em casa pelo Campeonato Mineiro.
Para Ney, o segredo está na estruturação do departamento de futebol. A Caldense conta com o CT Ninho dos Periquitos, inaugurado no fim dos anos 1980, com academias, alojamentos, vestiários e campos de futebol com medidas padrões da Fifa. “Em comparação com os demais, tem uma das melhores estruturas. A organização ajudou a formarmos um grupo de qualidade. Foi tudo muito planejado”, afirma o diretor de marketing.
A Caldense teve um legado de jogadores notáveis. Campeão mundial com o Brasil em 1962, o ex-zagueiro Mauro Ramos foi revelado pela Veterana e se transferiu para o São Paulo em 1948. Aílton Lira, que teve seu auge no Santos no fim dos anos 1970, depois fez sucesso no time mineiro. No ataque, Walter Casagrande, emprestado pelo Corinthians em 1981, e Caio Cambalhota completam a lista dos atletas que entraram para a galeria do clube.
Perde só no caixa
R$ 120 mil é a folha salarial da Caldense
R$ 350 mil é a folha salarial do Tombense
LINHA DO TEMPO
1925
Clube é fundado por remanescentes do Foot-Ball Club Caldense e do Internacional Futebol Clube, primeiros clubes amadores de Poços de Caldas. Veterana passa a mandar seus jogos no Estádio Christiano Osório
1943
Diretoria assina ata e decide comemorar aniversário do clube em 7 de setembro, para coincidir com a data cívica
1961
A equipe comandada chama a atenção nos noticiários esportivos locais depois de ficar 57 jogos invicto.
1971
Conquista o Módulo II do Campeonato Mineiro e festeja pela primeira vez o acesso à elite estadual
1979
Estádio Ronaldo Junqueira é inaugurado. A obra foi fruto de parceria da prefeitura com empresários da região
1988
Clube inaugura o CT Ninho dos Periquitos, um dos melhores entre os clubes do interior. O local conta com alojamentos, campos de futebol, academia, vestiários, escritórios e piscina
2002
Conquista pela primeira vez o Campeonato Mineiro, numa competição que não teve a participação dos três times da capital
2007
Depois de campanha ruim no Mineiro, é rebaixada ao Módulo II. O retorno à elite ocorre dois anos depois
2015
Pela primeira vez termina a fase classificatória do Estadual na liderança, o que dá a vantagem de jogar por dois empates ou vitória e derrota pelo mesmo saldo de gols na semifinal e na decisão
ENTREVISTA: LEONARDO CONDÉ
"Nunca pensamos ir tão longe"
Aos 36 anos, Leonardo Condé tem longa experiência como treinador. Ele passou pelos juniores e profissionais do América de 2001 a 2006 e depois integrou as categorias de base do Atlético de 2006 a 2009. A partir daí, começou sua saga nas equipes de menor expressão: Ipatinga, Tupi, Villa Nova, Nova Iguaçu (RJ) e, por último, a Caldense. No ano passado, dirigiu o Tupi na Série C do Brasileiro, mas não conseguiu o acesso.
O que explica a ascensão da Caldense?
Um dos pontos principais foi o planejamento. Procuramos escolher os jogadores com melhor aproveitamento nos últimos estaduais, e nos preocupamos em montar não somente uma equipe com 11 titulares e, sim, contar com bom grupo, dentro das limitações financeiras. Fizemos boa pré-temporada, que começou em 1º de dezembro. A Caldense é organizada, estruturada, com bom Centro de Treinamento, que nos permite trabalhar com o melhor rendimento.
A boa campanha o surpreende?
Se eu disser que não surpreende, estaria mentindo. Entramos com objetivo simples: garantir a permanência para o ano que vem. Depois, garantimos a vaga na Série D e a classificação às semifinais e agora lutaremos pelo título. Numa competição que conta com Cruzeiro, bicampeão brasileiro, e Atlético, campeão na Libertadores, nunca pensamos que poderíamos chegar tão longe.
Quais são as apostas da Caldense para as semifinais?
Nosso conjunto é forte. Não temos um atleta acima da média. No entanto, não contamos com jogadores desqualificados. Nos fortalecemos durante a campanha, graças aos bons resultados, sobretudo contra os grandes da capital. E também criamos sintonia do time com a torcida, que pode ser determinante nesta reta final. Estamos confiantes.
Já estabeleceu o planejamento para a Série D?
Ainda não. Estamos com a cabeça voltada para o Estadual. Temos de ver qual é a ideia: meramente participar ou disputar o título. Todos os jogadores ficarão sem contrato e é preciso definir isso.
POR: ROGER DIAS PARA ESTADO DE MINAS