Cruzeiro de 2013 faz da quebra de recordes uma rotina

Publicado em 14/11/2013 - esportes - Da redação

Não basta ser campeão, é preciso deixar o nome cravado de vez na história. Esse parece ser um lema frequente na Toca da Raposa. Em 2003, ano em que faturou a inédita “Tríplice Coroa”, o Cruzeiro entrou para a memória do torcedor ao conseguir uma série de números que não deixaram dúvidas sobre a força daquela equipe. Dez anos depois, ao faturar o tri do Brasileiro, o time estrelado volta a ser absoluto no país e obtém uma série de recordes no torneio, que fazem do grito de “é campeão” apenas mais um ingrediente dessa página heroica e imortal.
Com o triunfo sobre o Grêmio, no último domingo (10), por 3 a 0, o Cruzeiro se tornou o primeiro clube do Campeonato Brasileiro a conseguir superar, na mesma temporada, todos os adversários que pintaram pela sua frente, seja no turno ou no returno da peleja. O tricolor gaúcho era o único obstáculo que a Raposa não havia conseguido superar até então. Na primeira fase do Nacional, os comandados de Renato Gaúcho haviam batido o time estrelado por 3 a 1, na Arena do Grêmio, em Porto Alegre. Para a alegria da torcida estrelada, a “dívida” foi paga com juros.
O feito é tão significativo que nem mesmo aquele time de 2003 conseguiu tal proeza. À época, Alex e companhia tiveram como “pedra no sapato” o São Caetano. Logo na estreia da equipe, um frustrante empate por 2 a 2, no Mineirão, após a Raposa abrir dois gols de vantagem, ambos anotados por seu camisa 10. No returno, derrota para o “Azulão”, por 2 a 0, em São Caetano do Sul. Nada que tenha “manchado” aquela conquista.

“Campeão precoce”
O triunfo sobre o Vitória trouxe outro feito heroico para os comandados de Marcelo Oliveira. Com o título assegurado na 34ª rodada, o Cruzeiro entrou para as páginas do Campeonato Brasileiro como o campeão “mais precoce” do torneio. Foi ao lado do São Paulo, de 2007, está certo, mas não é nada que diminua os méritos celestes.
Naquele ano, o Tricolor Paulista ergueu o caneco com quatro rodadas de antecedência ao bater o América-RN, por 3 a 0, no Morumbi. O feito até poderia ter sido superado no último domingo (10),  no embate diante do Grêmio. Porém, o mesmo São Paulo não quis dar uma “forcinha” e não conseguiu arrancar um empate diante do Atlético-PR, em Curitiba.
Faturar o caneco antes da hora é, por sinal, uma coisa bem comum para os dois times. Em 2003, a Raposa soltou o grito de “é campeão” na 44ª rodada, quando faltavam duas para o término da competição. Três anos mais tarde, o São Paulo obteve o caneco com a mesma antecedência.
Somente o Fluminense conseguiu repetir o feito dos dois clubes. No ano passado, o time das Laranjeiras confirmou o título na 35ª rodada, faltando três para o término do Brasileirão.

Recordes por vir
Na história do Brasileiro, a equipe que mais obteve triunfos em uma única edição é o Cruzeiro, que superou 31 adversários na épica campanha da “Tríplice Coroa”, em 2003. À época, porém, o torneio teve 46 rodadas. Desde que caiu para 38 jogos, em 2006, o clube que mais venceu foi o São Paulo, em 2007, que ganhou 23 jogos. E esse recorde está prestes a ser quebrado pelos comandados de Marcelo Oliveira.
Neste ano, o Cruzeiro bateu 23 adversários. Como faltam quatro rodadas, o São Paulo tende a ser superado em breve. Para se ter uma ideia, basta que a Raposa apenas faça “seu dever de casa” e bata Ponte Preta ou  Bahia, últimos adversários que tem como mandante.
Outra escrita que pode ser quebrada em breve é a diferença para o segundo colocado ao final da competição. Até o momento, a marca é do São Paulo, que terminou o Brasileiro de 2007 com 77 pontos, 15 a mais que o Santos, vice-campeão da temporada. Com a diferença de 16 pontos, e quatro jogos para disputar, basta à Raposa manter o ímpeto para conseguir mais esse feito.
2003 eterno
Entra ano, sai ano, e aquele time de 2003 ainda sustenta algumas marcas históricas. Além do maior número de vitórias na história do Brasileirão, já citado anteriormente, Alex e companhia conseguiram a maior pontuação do torneio: 100 pontos. O Santos, campeão no ano seguinte, foi quem mais chegou perto: 89 pontos.
Aquela lendária equipe também detém o maior número de rodadas na liderança em um mesmo torneio. Em 2003, o Cruzeiro esteve na ponta do torneio durante 38 vezes das 46 possíveis. Naquele ano, a Raposa só não liderou a 1ª, 2ª, 3ª, 6ª, 7ª, 16ª, 17ª e a 28ª rodada.

Goleiro Fábio é a liderança de um campeão e o ídolo do torcedor
O velho chavão do futebol diz que todo time vencedor começa por um bom goleiro. E esse ditado se aplica perfeitamente ao Cruzeiro, que conta lá atrás com a segurança e reflexos de Fábio. Capitão da equipe, com mais de 500 jogos defendendo as cores celestes, o arqueiro se tornou um ícone do clube e um dos responsáveis diretos pela conquista do tri do Brasileiro. Foi dele a missão de dar confiança ao torcedor nos momentos mais complicados de cada partida. E a cumpriu bem.
Fábio teve sua primeira oportunidade de defender o clube celeste em 2000, quando era reserva de André. Do banco, soltou o grito de “é campeão” na Copa do Brasil daquela temporada. Porém, como não teria oportunidades de mostrar seu talento, ele rumou para São Januário logo após a conquista e passou a defender o Vasco da Gama.
Na Colina, ficou até o final de 2004 e apareceu para o país, sendo, inclusive, convocado para a Seleção Brasileira. Seu destino, porém, era mesmo a Toca da Raposa e para cá voltou no início do ano seguinte para ser o dono da meta estrelada, posto que não largou desde então.
Com defesas milagrosas e saídas de gol arrojadas, passou a ganhar o carinho da torcida cruzeirense. Porém, a falta de um título de expressão era uma “pedra no sapato”. Em nove anos, o arqueiro conquistou somente quatro Campeonatos Mineiros e teve de engolir um vice da Libertadores e um do Brasileirão.
A falta de títulos de expressão o incomodava e também deixava a diretoria com uma “pulga atrás da orelha”. No início desta temporada, os dirigentes resolveram agir e montaram uma equipe forte, que tinha como missão deixar esse tabu de lado. Fábio sentiu confiança e em fevereiro já previa que esse time iria “dar liga”. “Que eu me lembre, na minha carreira, eu só participei de um grupo com tanta qualidade. O Vasco de 2000 tinha jogadores de muita qualidade e em todas as posições, tanto titulares quanto reservas”, disse o goleiro.
Aos poucos, a equipe foi se acertando e passando a chamar a atenção do país por praticar um futebol envolvente. Na hora de se defender, o Cruzeiro contava com um “paredão” formado por Bruno Rodrigo e Dedé, que amenizavam o trabalho do arqueiro. Porém, ainda assim, ele era necessário. E quando parecia que não teria mais solução, ele estava ali, para evitar o gol do adversário nos momentos mais difíceis.
Um deles, por sinal, marcou sua participação na campanha estrelada. No duelo contra o Fluminense, disputado em 17 de outubro, o Cruzeiro vinha de seu maior “baque” no Brasileirão, após perder duas partidas seguidas para Atlético e São Paulo. O jogo previa um clima tenso e assim foi. Com a vantagem mínima no marcador, a Raposa caiu de produção na segunda etapa. Quando parecia que o tricolor das Laranjeiras iria empatar, o goleiro salvou de forma milagrosa, em cima da linha, uma cabeçada certeira de Samuel. Os três pontos estavam garantidos.
Esses, somados a tantos outros que contaram diretamente com as mãos salvadoras de Fábio, fizeram com que o técnico Marcelo Oliveira pedisse sua convocação para a Seleção Brasileira. “O Fábio há anos, sem dúvida, está jogando com uma produção muito alta. É um goleiro técnico que treina muito, é muito dedicado e exerce uma liderança muito positiva no grupo. Também faço parte do grupo que clama por uma oportunidade para o Fábio na Seleção”, pediu Oliveira.
Ao fazer uma análise da equipe, Marcelo destacou a importância de Fábio para a conquista. “Um time que se propõe a atacar como o Cruzeiro ataca, que faz muitos gols, que melhor finaliza, que é o melhor mandante e o melhor visitante, ele vai sofrer contra-ataques também e ter um bom goleiro nessa hora é primordial”, destacou o treinador.
Além da parte técnica, o camisa 1 da Raposa se sobressaiu por sua liderança. Tanto que foi ele o responsável por erguer o caneco do Brasileirão. O título vem em boa hora para coroar o trabalho do goleiro, que deu a volta por cima e agora crava de vez seu nome no coração do torcedor estrelado. Torcedor esse que sabe que onde Fábio pisa não nasce grama, nasce esperança.

Fonte: Site Jornal Hoje em Dia