Publicado em 04/02/2014 - geral - Da Redação
Quem vai indenizar o serralheiro que teve o fusquinha que usava para transportar a família e trabalhar incendiado por “mascarados”infiltrados em mais uma manifestação nas ruas de São Paulo ?
Quem vai indenizar os milhares de comerciantes obrigados a fechar as portas de seus estabelecimentos em shoppings escolhidos para a realização dos já famosos “rolezinhos”? Quem vai repor os prejuízos daqueles que tiveram suas lojas invadidas, saqueadas e incendiadas em junho e julho do ano passado ? Principalmente, quem vai repor a milhões de cidadãos brasileiros o seu direito constitucional de “ir e vir” que foi subtraído pela insegurança decorrente da violência que domina ruas e avenidas brasileiras em todo o país.
Essas e incontáveis outras perguntas permanecem sem resposta por parte das autoridades municipais, estaduais e federais. O máximo que se ouve é que se trata de um fenômeno social novo, que ainda precisa ser estudado para ser entendido. É uma forma “política” de dizer que pouco ou nada será feito. É, de fato, o que parece, pois há muita pouca informação, quase nenhuma, sobre providências relativas às badernas do ano passado. Quantos foram presos? Quantos processos foram abertos ? Quais as penas ? Quantos foram efetivamente condenados?. Como terminaram as investigações sobre excessos cometidos por policiais? A impunidade - a história não se cansa de mostrar - é o maior incentivo para que tal tipo de prática continue a ocorrer, como, aliás, está acontecendo.
O setor empresarial de Minas e do Brasil tem explicitado claramente o seu posicionamento - francamente favorável a manifestações pacificas e contrário ao vandalismo e a excessos cometidos pela polícia. Ano passado,por ocasião dos protestos de junho/julho, as entidades representativas da iniciativa privada, unidas no Fórum das Entidades Empresariais de Minas Gerais se manifestaram. Em essência, reconhecendo como legítimas e democráticas as manifestações que então expressavam o inconformismo da população com a prática política vigente no país, em todos os níveis, com a corrupção, a má qualidade dos serviços públicos essenciais - especialmente nas áreas de transporte público, saúde e educação - a precária infraestrutura que penaliza as empresas e corrói sua capacidade de competir.
Na outra ponta, repudiamos a ação criminosa de vândalos e arruaceiros que se infiltram nas manifestações para agredir a sociedade, praticar a violência e cometer crimes que devem e precisam ser punidos de acordo com a lei. Não nos afastamos desse posicionamento, assim como mantemos a nossa crença em princípios e valores que constituem as bases do verdadeiro bem-estar social e da verdadeira democracia: o direito de trabalhar, produzir e gerar riqueza para o Brasil e para os brasileiros.
A sociedade não está mais disposta a conviver com lideranças políticas que veem, como seu único objetivo, a realização das eleições - e que parecem levar ao pé da letra o ditado segundo o qual “em eleição só é feio perder”. Não é assim, evidentemente. Para líderes políticos, o que é verdadeiramente feio e vergonhoso, portanto inadmissível, é a omissão diante de compromissos com o país, com os estados, com os municípios e muito especialmente com a população.
Em um país com tantos e tão graves problemas a resolver, é absurdo ver como órgãos públicos da mais elevada envergadura - no judiciário, no Legislativo e no Executivo - investem seu precioso tempo em questões menores e se omitem em questões importantes e graves. É necessário que estejamos alerta : outubro se aproxima e é importante que os eleitores cuidem de observar bem a cena atual e analisar criteriosamente os nomes dos candidatos que pedem os seus votos.
A sociedade não está disposta a conviver com lideranças políticas que veem como seu único objetivo a realização das eleições.
Há exemplos a lembrar e seguir. Celebramos em 2014 trinta anos das “Diretas já”, movimento que, nos quatro cantos do país, uniu os brasileiros em manifestações pela redemocratização e pelo fim do regime militar. Também nos lembramos dos “Caras Pintadas”, movimento que, duas décadas atrás, mobilizou a juventude brasileira no episódio do impeachment de um presidente da República. Num e outro, as lideranças políticas estavam ao lado do povo, imbuídas dos mesmos objetivos estavam o sonho de construção de um novo país. Foram de fato que nos mostra e ensina a história, movimentos populares que contribuíram para a construção de um país melhor.
Não se pode permitir que as ruas por onde passaram movimentos cívicos tão emblemáticos sejam agora transformadas em passarela para atos de vandalismo contra a sociedade brasileira e contra a democracia comprometendo a imagem do Brasil no exterior e desgastando eventos importantes para a economia do país como a Copa do Mundo. Compete aos governantes decisão de agir ou acomodar-se à condição de reféns da baderna.
Por: Olavo Machado Júnior - Presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais - Fiemg