A criminalização da venda de Crédito Consignado

Publicado em 19/03/2021 - geral - Da Redação

A criminalização da venda de Crédito Consignado

O Brasil tem uma das taxas de juros mais altas do mundo. O acesso ao crédito é difícil e custa caro. Reflexo de uma economia que não privilegia a inclusão financeira e, consequentemente, afeta o todo o desenvolvimento do país, começando pelas famílias mais carentes.

Concentração do mercado bancário (sem concorrência, os poucos bancos têm margens maiores que em outros países), inadimplência alta e carga tributária são alguns dos fatores responsáveis por taxas de juros tão elevadas.

Diante de um cenário tão devastador para quem precisa de crédito, é difícil entender a maneira como se tenta criminalizar o acesso ao crédito barato. O crédito consignado tem uma das menores taxas de juros do mercado, os prazos para pagamento são mais longos e sua contratação é muito mais rápida já que o banco tem a garantia do recebimento. Ainda assim, muitas vezes esta modalidade de crédito é apontada como a grande vilã do sistema financeiro.

 

A experiência vivida por cada um tem papel decisivo no posicionamento diante de temas polêmicos. Quem foi vítima de uma fraude, por exemplo, certamente terá um ponto de vista negativo com relação ao empréstimo consignado, mas para alguém que já conseguiu sanar contas e dívidas através desta modalidade de crédito, a percepção é outra. Nós, do mercado de crédito, conhecemos os dois lados da moeda. A minha realidade é definida pela experiência que eu vivo.

É bastante comum atribuir, erroneamente, ao crédito consignado a responsabilidade pelo endividamento do cidadão. O que leva ao endividamento é a dificuldade de fechar as contas no final do mês quando o ajuste salarial está sempre abaixo da inflação. E para dar conta de tudo, nem sempre cortar as despesas é suficiente, principalmente em um país que há anos vive mergulhado em uma crise e a população vem apertando o cinto cada vez mais. Quando falta salário e sobra boleto, não há jeito de escapar do cartão de crédito, do cheque especial ou de empréstimos.

Se recorrer às linhas de crédito é uma necessidade real porque então dificultar e distorcer o papel do empréstimo consignado, que tem juros muito menores?

Diariamente temos que combater uma insistente campanha instalada contra os correspondentes bancários, além de frequentemente rebater atos errôneos atribuídos à categoria.

A classe de correspondente bancário existe há décadas bancarizando um público até então esquecido pelas grandes instituições. O correspondente bancário (ao contrário do que muitos pensam) não têm os mesmos lucros que as instituições financeiras, eles apenas prestam um serviço de intermediação de crédito buscando as melhores opções.

A maioria não sabe, mas o correspondente assume o risco das operações de fraudes junto aos bancos, muitas vezes sendo penalizados e tendo que arcar com os prejuízos das instituições. Também assume aluguel, funcionários, insumos, tudo para poder exercer sua profissão que carrega importante função social ao disseminar crédito com juros justo.

Outro entrave enfrentado nesta luta pelo acesso ao crédito mais barato ocorre na esfera política. Mesmo com a pandemia de Covid-19, que agravou ainda mais a crise econômica, foram necessários meses de luta para que a MP que aumentou para 40% a margem de crédito (35% para empréstimo consignado e 5% para cartão de crédito) fosse aprovada.

É preciso agilidade para garantir acesso a crédito mais barato. E conscientização sobre o papel do consignado na movimentação da economia. O aumento de cinco pontos percentuais na margem do crédito consignado vai ajudar muitos brasileiros a saírem do sufoco, além de movimentar o mercado.

O acesso a crédito com juros baixos é a maneira mais justa para quem precisa recorrer a um empréstimo. E o consignado, que tem os menores juros, não é o vilão deste enredo.

 

Yasmin Melo é presidente do Instituto Nacional do Agente Financeiro (INAF)

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